Publicado em 13 de agosto de 2025 às 16:25
Diego Fernández saiu de casa às 14h de 26 de julho de 1984. Segurando uma tangerina, despediu-se da mãe, dizendo que visitaria uma amiga antes de ir para a escola.>
Ele nunca mais voltou.>
Mais de quatro décadas depois, em maio de 2025 , operários que construíam um muro em uma casa no bairro de Coghlan, em Buenos Aires, encontraram ossos enterrados e avisaram a polícia.>
Junto aos restos mortais havia um relógio com calculadora Casio, um chaveiro, uma gravata-borboleta, uma etiqueta de roupa e uma moeda. >
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Testes de DNA confirmaram a identidade do adolescente desaparecido havia quatro décadas.>
O caso ganhou ampla cobertura da imprensa argentina porque, inicialmente, foi informado que os restos mortais estavam em uma casa onde o cantor Gustavo Cerati viveu por um tempo. Depois, esclareceu-se que era o imóvel ao lado.>
Embora o prazo de prescrição para o crime contra Diego tenha passado, a Justiça argentina investigará o caso como homicídio para identificar o autor e a motivação.>
Peritos forenses designados para o caso encontraram sinais de ferimentos causados provavelmente por um objeto cortante.>
"Há marcas no corpo compatíveis com morte violenta e tentativa de desmembramento, mas que também podem estar relacionadas à manipulação do corpo para sepultamento", disse Mariella Fumagalli, diretora da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), à imprensa argentina.>
A mãe de Diego, hoje com 87 anos, nunca desligou o telefone de casa, à espera de que um dia o filho ligasse.>
"Até recentemente, olhava pela janela para ver se Diego voltaria", disse Javier Fernández, irmão do adolescente desaparecido, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.>
Javier lembra a dificuldade que a família teve para conviver com a incerteza sobre o que aconteceu com Diego, importante jogador de futebol do Club Atlético Excursionistas.>
"Cresci com uma dor tremenda no peito; tem sido uma agonia", diz Javier, de Buenos Aires, com a voz embargada. "Diego era meu ídolo. Eu tinha 10 anos, jogávamos futebol e ele cobrava pênaltis no meu quarto.">
Nos últimos dias, viveu uma mistura caótica de emoções. Quando recebeu a notícia, mal conseguia acreditar no que estava acontecendo.>
"Senti raiva, impotência, tristeza e, ao mesmo tempo, alegria, porque encontrei meu irmão 41 anos depois." A descoberta, diz Javier, ao menos permitirá que a família lhe dê um enterro digno.>
"Quando me entregarem o corpo dele, poderei me despedir em paz, como ele merece", diz ele.>
"Coitado, foi tirado da minha vida, ele era tudo o que era certo para mim".>
A revista argentina ¡Esto! publicou um artigo sobre o caso em 1986, dois anos após o desaparecimento do adolescente.>
Nele, o pai, Juan Benigno Fernández, relatou que anotava em um caderno todas as informações que pudessem ajudar a localizar o filho e colecionava recortes de jornais.>
Além disso, ele começou a coletar informações sobre o desaparecimento de outras crianças.>
"Desde que essa tragédia aconteceu, passei a acompanhar os apelos divulgados em jornais e na televisão e decidi visitar os pais de crianças dadas como desaparecidas.">
Vendedor de peças de automóveis, o pai disse que, sempre que tinha uma intuição, pegava a bicicleta e saía para explorar as ruas em busca do filho.>
Até que, um dia, foi atropelado e morto enquanto tentava encontrar Diego, conta o filho Javier.>
Após a identificação dos restos mortais, a investigação passou a ser conduzida pelo promotor Martín López Perrando, que atualmente colhe depoimentos de pessoas que possam fornecer informações relevantes sobre o caso.>
Vários ex-colegas de "El Gaita", como Diego era conhecido na escola, prestaram depoimento ao promotor para fornecer informações que possam ajudar a esclarecer o caso.>
Segundo a imprensa argentina, o Ministério Público ouviu, nesta segunda-feira (11/08), o depoimento de Cristian Graf, colega de Diego na Escola Nacional de Educação Técnica (Enet), que morava na casa onde os restos mortais foram encontrados.>
A mãe de Graf ainda mora na mesma casa, segundo a mídia local.>
"A escola envia condolências à família e, respeitosamente, a apoia neste momento difícil", disse a Enet em comunicado.>
O time de futebol em que Diego jogava também manifestou pesar.>
"O Club Atlético Excursionistas expressa comoção e tristeza com a notícia sobre Diego Fernández Lima", diz texto publicado na rede social X. "Enviamos condolências e um grande abraço a toda a família.">
Inúmeras manifestações de solidariedade chegaram à família do adolescente.>
O irmão Javier, que tenta conter as lágrimas sempre que se lembra de Diego, diz que, apesar da dor, a descoberta dos restos mortais ajudará a família a encerrar um ciclo após décadas de incerteza.>
"Isso nos ajudará a ficar um pouco mais em paz.">
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