Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 15:44
A campanha de pressão militar cada vez maior do presidente americano Donald Trump sobre Nicolás Maduro, na Venezuela, enfrenta a oposição de diversos líderes latino-americanos — mas também conta com o apoio logístico de algumas nações do Caribe.>
No arco geográfico que vai da República Dominicana, a oeste, até Trinidad e Tobago, a apenas 11 km do litoral venezuelano, diversas nações se aliaram à "Operação Lança do Sul" iniciada pelos Estados Unidos, com diferentes papéis.>
O enorme deslocamento de forças militares da maior potência do mundo requer todo tipo de assistência: pistas de aterrissagem, pontos de abastecimento, radares em postos avançados, manobras e acampamentos para seus soldados. Sem falar em missões de reconhecimento e espaço para armazenar material.>
Em agosto, Trump ordenou o deslocamento de três navios de guerra da marinha americana para o sul do Caribe. O objetivo foi interceptar embarcações suspeitas de transportar drogas saindo da Venezuela.>
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Até o momento, os Estados Unidos realizaram mais de 20 ataques contra barcos em águas internacionais, causando a morte de mais de 80 pessoas.>
Desde então, o deslocamento levou às águas da região pelo menos 12 navios de guerra, um submarino nuclear, aviões, helicópteros e drones. Além deles, também se encontram no Caribe dois porta-aviões, o Iwo Jima e o USS Gerald R. Ford.>
Acredita-se que o número de militares americanos na região já supere 15 mil pessoas.>
"De forma geral, é provável que os aliados dos Estados Unidos no Caribe forneçam vigilância, logística ou apoio de contingência", declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) o professor Evan Ellis, pesquisador de estudos latino-americanos do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos Estados Unidos.>
"A República Dominicana é a nação que está oferecendo estes serviços de forma mais explícita. Mas todos eles evitarão ser pontos de lançamento de ataques ofensivos, a menos que as circunstâncias se alterem", ressalta ele.>
Washington garante que seu objetivo é impedir o tráfico de drogas para os Estados Unidos, mas tanto Caracas quanto numerosos observadores acreditam que a intenção é forçar uma mudança de governo na Venezuela.>
Na verdade, a maior parte do tráfico de drogas dos cartéis latino-americanos para a América do Norte passa pelo leste do Oceano Pacífico.>
Esta rota representa 74% do tráfico, segundo a Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês). E as atuais operações militares americanas não se concentram naquela região.>
"A apresentação das operações antidrogas, pelo governo Trump, como ato de autodefesa nacional marca uma mudança profunda na política externa americana", segundo Björn Beam, responsável por investigações tecnológicas e analista geopolítico da empresa Arcano Research.>
Beam explica que, ao declarar um "conflito armado" contra agentes não estatais que operam no território venezuelano, Washington dilui a fronteira entre a luta contra o terrorismo e a mudança de regime.>
"O resultado é uma operação juridicamente flexível, que poderia evoluir de ataques limitados no mar até ações seletivas em terra, sem necessidade de contar com a aprovação do Congresso americano", destaca ele.>
Até o momento, além de Porto Rico e das Ilhas Virgens Americanas, a República Dominicana e Trinidad e Tobago forneceram aos Estados Unidos acesso à sua infraestrutura. Mas eles não são os únicos envolvidos.>
Aqui estão as ilhas e territórios que estão dando cobertura ao exército americano no Caribe.>
As ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao ficam a 80 km da Venezuela.>
Elas são territórios de ultramar pertencentes à Holanda. Por isso, apesar do seu status especial e governo próprio, seu uso para qualquer ataque, teoricamente, exigiria autorização do governo holandês.>
Os Estados Unidos possuem uma base de operações avançada em Curaçao e outra menor em Aruba. Sua missão, segundo fontes oficiais, é a detecção e monitoramento aéreo de supostas atividades de narcotráfico por via aérea e marítima.>
Nas suas conversas com diplomatas e altos oficiais do exército, Ellis observa um certo nervosismo.>
"Acredito que parte da preocupação reside em que, se a Venezuela perceber que os territórios apoiam militarmente os Estados Unidos, poderia dirigir operações contra eles", explica o professor.>
"Maduro, provavelmente, não seria tão insensato, mas existe apreensão frente a um possível cenário como este.">
Há apenas algumas semanas, o portal de monitoramento aéreo Flightradar24 documentou a presença de aviões bombardeiros americanos sobrevoando o espaço aéreo entre Aruba e Curaçao.>
Localizadas a 11 km do leste venezuelano, as ilhas de Trinidad e Tobago são as mais próximas do país e, por isso, as mais expostas.>
Há muito tempo, Trinidad e Tobago é um dos países mais prejudicados pelo fluxo de migrantes venezuelanos e pela atividade de diversos grupos criminosos.>
A primeira-ministra local, Kamla Persad-Bissessar, assumiu o cargo em maio. Seu governo vem mostrando, desde o início, forte posicionamento pró-Estados Unidos.>
Nos seus primeiros meses à frente do país, ela se reuniu com o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, para estreitar laços e favorecer o intercâmbio de dados de inteligência militar.>
Recentemente, o governo de Trinidad e Tobago recebeu navios de guerra americanos e facilitou o treinamento de forças especiais dos Estados Unidos.>
Persad-Bissessar confirmou que fuzileiros navais americanos operam no aeroporto de Tobago, trabalhando em uma pista e uma rodovia, além de trabalharem na instalação e modernização de um radar.>
Além disso, diversos aviões militares usaram a ilha para reabastecimento de combustível.>
O governo justifica o projeto como parte da segurança nacional e da luta contra o narcotráfico em suas águas.>
"Eles vêm apoiando muito a operação das forças americanas e veem com bons olhos a presença de fuzileiros navais dos Estados Unidos no seu território", explica Ellis, "mas deixaram muito claro que, a menos que a Venezuela os ataque, não permitirão o lançamento de operações ofensivas americanas do seu território. Esta é a linha que foi traçada.">
A República Dominicana é outro país gravemente afetado pelo fluxo de drogas, pelo crime organizado e pela migração na região. E é o que ofereceu mais abertamente apoio logístico à "Operação Lança do Sul".>
Desde o primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021), o governo do presidente dominicano Luis Abinader sempre foi muito alinhado a Washington. Ele ocupa o cargo desde 2020.>
A República Dominicana é enorme beneficiária do turismo proveniente dos Estados Unidos e do acesso ao mercado americano, através do Tratado de Livre Comércio CAFTA-DR.>
"Esta luta contra o narcotráfico constitui prioridade para o governo Trump, por se tratar de uma ameaça que afeta a estabilidade nacional e regional", declarou Abinader.>
"Esta luta é essencial para proteger nossas famílias e preservar a estabilidade. Nenhum país pode, nem deve enfrentá-la sem aliados.">
Em meio à escalada com a Venezuela, o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, visitou a República Dominicana e assinou uma série de acordos. Eles incluem o uso militar de zonas restritas da Base Aérea de San Isidro e do Aeroporto Internacional das Américas, no país caribenho.>
A República Dominicana também permite o reabastecimento de combustível de naves americanas, além do transporte de equipes e pessoal técnico pelo seu território.>
"Abinader tem interesse pela cooperação de Trump para conter o problema do Haiti, mas a estratégia das autoridades da República Dominicana de se posicionar como importante aliado de Washington é consequência da sua ambição de desempenhar um papel mais importante nos assuntos regionais", calcula o professor.>
"Recentemente, por exemplo, o país solicitou ingresso como membro associado do Caricom, um espaço fundamental para o comércio e a cooperação das nações do Caribe", prossegue Ellis. "Isso aumentaria consideravelmente sua cooperação em temas como o intercâmbio de informações de inteligência contra o crime organizado.">
O apoio dominicano às operações dos Estados Unidos é temporário, técnico e limitado, concentrado no reforço à vigilância aérea e marítima contra o crime organizado internacional.>
Granada fica a cerca de 145 km da Venezuela, em linha reta pelo mar do Caribe.>
Os Estados Unidos solicitaram a instalação de equipamentos de radar e o deslocamento temporário de pessoal técnico, no Aeroporto Internacional Maurice Bishop, localizado na ilha.>
Ellis destaca que esta solicitação remonta ao governo Joe Biden (2021-2025) ou até antes, mas aparentemente, agora, é efetiva.>
"Como parte da luta contra o narcotráfico, Granada necessita de um radar para seu aeroporto, que ofereça visibilidade sobre voos com possíveis carregamentos", explica Ellis.>
"O exército norte-americano estava de visita, mas não se divulgou publicamente se o propósito era instalar o radar ou se foram realizadas discussões técnicas para auxiliar na sua instalação.">
Washington é um dos principais parceiros comerciais de Granada. O país caribenho é beneficiário da Iniciativa da Bacia do Caribe, que permite a entrada de muitos dos seus produtos, livres de impostos.>
Granada e os Estados Unidos assinaram diversos tratados para possibilitar a cooperação policial e o intercâmbio de informações e o exército norte-americano forneceu capacitação e equipamento para as forças de segurança granadinas.>
Estes dois territórios dos Estados Unidos encontram-se a cerca de 800 km de distância da Venezuela. Eles estão sendo usados para abrigar pessoal militar e oferecer apoio logístico para as operações.>
Uma investigação da agência de notícias Reuters indica que a estação naval americana Roosevelt Road (uma antiga base da Guerra Fria, fechada em 2004) se encontra em processo de modernização, com repavimentação e ampliação das pistas, onde já operam aeronaves de grande tamanho.>
Entre esses aviões, está o gigantesco Boeing C-17 Globemaster, empregado pelas forças dos Estados Unidos para o rápido transporte de tropas e suprimentos.>
Além disso, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) anunciou uma zona de voo restrita que afetará o espaço aéreo em frente ao litoral sudeste de Porto Rico, entre 1° de novembro de 2025 e 31 de março de 2026.>
Esta medida facilitaria as operações militares de alta intensidade perto do Aeroporto José Aponte de la Torre, para onde foram deslocados os caças F-35 de última geração mobilizados pelo Pentágono.>
No aeroporto, foram observadas operações de aviões de combate e transporte. E é nestas instalações que fica a maior parte do pessoal em terra.>
Existem também registros de aviões militares no Aeroporto Henry E. Rohlsen, nas Ilhas Virgens Americanas. Ele funciona como plataforma operativa e logística para deslocamentos regionais.>
Saint Croix, a maior ilha do território, abriga pessoal militar adicional no acampamento Port Hamilton Refining and Transportation (PHRT).>
Por fim, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) informou que a base naval americana na baía de Guantánamo, em Cuba, aumentou seu contingente militar em destacamento permanente.>
Todo este aumento progressivo das forças americanas no Caribe gera uma pergunta. Se houver uma operação militar dos Estados Unidos na região, de onde ela seria lançada?>
"Uma eventual operação seria lançada de diversos pontos", opina Ellis. "Pessoalmente, acredito que poderíamos ver ataques terrestres limitados antes de uma operação de derrubada importante.">
"Se houvesse ataques terrestres limitados, eles provavelmente proviriam de mísseis americanos, talvez os mísseis Tomahawk, pois a Venezuela ainda tem defesas aéreas sob seu controle.">
"Elas não são as melhores, mas os sistemas russos S-300, por exemplo, representam ameaça para as aeronaves dos Estados Unidos", destaca o professor.>
Por isso, o especialista acredita que os F-18 dos porta-aviões não seriam lançados enquanto essas defesas aéreas continuassem funcionando.>
"Talvez pudéssemos observar o deslocamento militar de algumas Forças de Operações Especiais no terreno", prossegue Ellis. "Mas, se precisasse adivinhar, eu diria que os ataques iniciais seriam com mísseis, simplesmente porque esta é a forma mais segura.">
"Também se poderia lançar mísseis de submarinos, pois, com um submarino, pode-se chegar relativamente perto. Mas, se fosse realizada uma operação maior, provavelmente seriam necessárias diversas bases.">
O CSIS indica que as forças norte-americanas atualmente comprometidas são insuficientes para um desembarque anfíbio ou invasão terrestre, o que exigiria pelo menos 50 mil soldados.>
"Mas os recursos aéreos e navais acumulados nos últimos três meses proporcionaram poder de fogo suficiente no Caribe para lançar ataques aéreos e com mísseis contra a Venezuela", destacam os especialistas do CSIS.>
Mapas de Caroline Souza e projeto de imagens de Daniel Arce, da equipe de Jornalismo Visual da BBC News Mundo.>
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