Publicado em 18 de novembro de 2025 às 17:24
A maioria dos cientistas concorda que ele é um cometa. Mas isso não impediu as especulações sobre visitas alienígenas e o fim da humanidade.>
O 3I/Atlas é apenas o terceiro objeto interestelar (de fora do nosso Sistema Solar) a ser identificado no nosso céu. Por isso, seu nome começa com "3I".>
Ao contrário da maioria dos cometas conhecidos que orbitam o Sol, o trajeto e a velocidade do 3I/Atlas indicam que ele veio de outro ponto da nossa galáxia e está voando em uma visita única, até deixar o nosso canto do Universo no início do ano que vem.>
Algumas das suas características fizeram com que um astrofísico de Harvard (o professor Avi Loeb) e uma série de meios de comunicação e usuários de redes sociais se divertissem com a possibilidade de que ele fosse artificial.>
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Elon Musk chegou a se pronunciar a respeito e até a estrela americana Kim Kardashian postou no X, antigo Twitter: "Espere... qual é a fofoca sobre o 3I Atlas?!?!!!!!!!?????">
Mas a Nasa e a imensa maioria dos astrônomos deixam bem claro que todas as observações feitas até agora podem ser explicadas por fenômenos naturais, não causados por alienígenas.>
O telescópio Atlas, financiado pela Nasa no Chile, foi o primeiro a observar o 3I/Atlas, em julho de 2025, entusiasmando os astrônomos de todo o mundo.>
"Provavelmente temos ainda alguns meses e nunca mais veremos este objeto", explica o professor de astrofísica Chris Lintott, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.>
"Por isso, estamos desesperados para conseguir o máximo de dados que pudermos, enquanto for possível.">
Houve quem relatasse que ele teria o tamanho da ilha de Manhattan, em Nova York (EUA). Mas as medições feitas em agosto pelo Telescópio Espacial Hubble, da Nasa, sugerem que seu diâmetro poderá ser de 440 m a 5,6 km.>
A agência espacial americana afirma que o objeto viajava pelo espaço à velocidade de cerca de 61 km por segundo quando foi descoberto.>
Os astrônomos acham que o 3I/Atlas se formou durante o nascimento de um sistema estelar distante e viaja pelo espaço interestelar há bilhões de anos.>
Ele pode ser o cometa mais velho que conhecemos. Um estudo indicou que sua idade seria de mais de 7 bilhões de anos.>
Se for verdade, o 3I/Atlas seria mais velho que o nosso próprio Sistema Solar, que surgiu há "apenas" 4,6 bilhões de anos.>
"Isso significa que ele nos conta o que estava acontecendo no início da história da galáxia", explica Lintott.>
O cometa veio até nós da direção da constelação de Sagitário, onde fica o centro da nossa galáxia, a Via Láctea.>
O objeto passou atrás do Sol em outubro, quando ficou fora de visão da Terra. O trajeto alimentou as teorias sobre os motivos que levaram o objeto a "se esconder".>
Mas diversas sondas espaciais vêm acompanhando o cometa, que já foi identificado novamente com telescópios em terra.>
À medida que o 3I/Atlas se aquecia na sua viagem em direção ao Sol, ele exibiu aceleração não gravitacional — ou seja, ele se movia com mais rapidez que o que seria esperado apenas com a sua gravidade.>
Loeb especulou que um "motor de foguete tecnológico" poderia estar impulsionando o objeto, fazendo com que inúmeros memes e manchetes sobre naves-mães alienígenas inundassem a internet.>
Mas muitos cientistas experientes na medição de cometas afirmam que a aceleração está dentro dos parâmetros da chamada desgaseificação, explica Lintott.>
Este fenômeno ocorre quando parte do material em um cometa em aquecimento se transforma de gelo sólido em gás, emitindo jatos de nuvens e poeira que agem como propulsores.>
Na verdade, o 3I/Atlas parece estar em extrema atividade.>
A poeira ejetada por um cometa normalmente reflete a luz, fazendo com que ele brilhe à medida que se aproxima do Sol. E o 3I/Atlas ficou brilhante muito rapidamente.>
Existem também sugestões de que ele tenha se alterado de um tom avermelhado para azul, o que motivou teorias sobre uma suposta fonte de energia alienígena. Os astrônomos ainda estão tentando descobrir o motivo exato, mas afirmam que existem muitas explicações naturais para este fenômeno.>
O brilho rápido "pode nos dizer que existe muito gelo fresco ali", sugere Lintott. E, mesmo se a mudança de coloração for real e não apenas um artefato da forma de medição, ela poderá indicar alterações químicas.>
"O que realmente queremos é descobrir do que é composta a parte interna do cometa", explica Lintott.>
Compreender a composição química do 3I/Atlas poderá nos dizer como era o distante sistema estelar que o originou, bilhões de anos atrás.>
Até agora, os telescópios observaram grandes quantidades de dióxido de carbono no cometa. E, aparentemente, ele é rico no elemento metálico níquel — uma observação que alimentou a ideia da nave-mãe alienígena, já que muitos componentes das nossas espaçonaves contêm esse metal.>
Em entrevista ao podcast The Joe Rogan Experience, Elon Musk refletiu que uma espaçonave feita inteiramente de níquel seria muito pesada, a ponto de "obliterar um continente".>
Mas já foi descoberto níquel em outros cometas, incluindo o cometa interestelar 2I/Borisov, identificado em 2019.>
Uma grande quantidade de níquel poderá refletir o tipo de ambiente onde foi formado o 3I/Atlas. Ou, talvez, o cometa tenha sido bombardeado pela radiação espacial durante sua longa jornada interestelar, o que pode ter alterado a química da sua superfície, como sugeriram dados recentes do Telescópio Espacial James Webb.>
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Depois de passar atrás do Sol no final de outubro, o 3I/Atlas logo irá nos dizer adeus.>
Ele atingirá o ponto mais próximo da Terra no dia 19 de dezembro, a uma distância segura de 270 milhões de quilômetros, quase o dobro da distância entre a Terra e o Sol.>
Muitas observações feitas no espaço e da Terra esperam fazer novas medições e até astrônomos amadores podem ter uma visão do objeto com um telescópio de 8 polegadas (203 mm).>
Como este é apenas o nosso terceiro cometa interestelar, ainda temos muito a aprender sobre esses viajantes antigos.>
"Acreditamos que existam bilhões de bilhões de bilhões deles na galáxia e observamos apenas três", lamenta Chris Lintott. "Por isso, é cedo demais para dizermos se ele é incomum.">
Com os novos e poderosos telescópios como o Observatório Vera Rubin, no Chile, o astrofísico prevê que iremos encontrar outras dezenas de objetos interestelares na próxima década.>
"Aí, sim, poderemos dizer algo sobre quais tipos de estrelas formam planetas e quais composições são comuns", explica ele. "E talvez possamos entender melhor como o nosso Sistema Solar se enquadra neste contexto.">
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