Publicado em 30 de setembro de 2025 às 20:32
Quando Calum Macdonald chegou à fronteira do Vietnã, ele não conseguia ler os formulários que tinha à sua frente. Tudo o que conseguia ver era uma "luz ofuscante e caleidoscópica".>
Ele tinha acabado de descer de um ônibus noturno com seus amigos, vindos de Vang Vieng, um destino turístico popular no Laos.>
No dia anterior, o grupo estava hospedado em um albergue onde doses gratuitas de uísque e vodca eram oferecidas aos hóspedes. Calum havia misturado as bebidas com refrigerantes.>
Foi somente na fronteira que ele suspeitou que algo pudesse estar errado com sua visão — o que ele contou aos amigos.>
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"Lembro de sentir uma luz caleidoscópica e ofuscante nos meus olhos, a ponto de não conseguir enxergar nada.">
"[Concordamos] que era estranho, mas achamos que era intoxicação alimentar, e a luz que eu via era apenas sensibilidade", disse ele à BBC.>
Mas quando chegaram ao seu destino no Vietnã, ficou claro que havia algo muito errado.>
"Estávamos sentados no quarto do hotel, meus amigos e eu, e eu disse a eles: 'Por que estamos sentados no escuro? Alguém deveria acender uma luz'.">
As luzes estavam acesas.>
Calum, de 23 anos, hoje é cego. E agora ele contou sua história pela primeira vez. >
Ele foi uma das várias vítimas de um envenenamento em massa por metanol em Vang Vieng em novembro passado. >
Seis pessoas morreram. Calum conhecia duas delas — jovens dinamarquesas que ele havia encontrado em festas.>
Todos estavam hospedados no Nana Backpacker Hostel, na cidade de Vang Vieng.>
Calum está trabalhando com as famílias de outros três britânicos que morreram após intoxicação por metanol no Sudeste Asiático.>
Eles cobram do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido alertas mais contundentes sobre os perigos que as pessoas enfrentam ao reservar férias em países onde a intoxicação por metanol é uma preocupação.>
Simone White foi uma dessas pessoas.>
No dia seguinte à partida de Calum para Vang Vieng, Simone também tomou as doses gratuitas de bebida no albergue. >
Mais cedo, ela havia enviado uma mensagem de texto para sua mãe dizendo que aquelas eram as melhores férias que ela já havia tido na vida.>
Simone foi internada no hospital nos dias seguintes e uma amiga ligou para sua mãe, Sue, para informá-la do ocorrido. Mais tarde, ela ligou novamente para dizer que Simone estava em coma.>
Sue comprou uma passagem de avião imediatamente, mas antes de decolar recebeu outra ligação no meio da noite de um médico no Laos que estava tratando de Simone.>
"[Ele disse] que eu precisava dar permissão para uma cirurgia urgente no cérebro, ou ela não iria sobreviver. Peguei o avião no dia seguinte sabendo que ela passaria por uma cirurgia, e eu já esperava o pior.">
A britânica de 28 anos morreu no hospital por intoxicação por metanol.>
"É muito difícil aceitar o que aconteceu", diz Sue. "Nada vai trazer Simone de volta.">
O metanol é um tipo de álcool comumente encontrado em produtos de limpeza, combustíveis e anticongelantes. É semelhante ao etanol, usado em bebidas alcoólicas, mas é mais tóxico para pessoas devido à forma como é processado pelo organismo.>
Bebidas alcoólicas podem ser contaminadas com metanol se forem mal fabricadas.>
Esse é um problema conhecido com bebidas destiladas baratas no Sudeste Asiático, onde centenas de pessoas são envenenadas todos os anos, de acordo com a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).>
Os sintomas podem incluir tontura, cansaço, dores de cabeça e náusea.>
Para muitas pessoas, a sensação é semelhante a uma ressaca normal, o que torna difícil saber se você foi envenenado ou apenas bebeu demais.>
Após 12 a 48 horas, problemas mais sérios podem surgir, como convulsões e visão turva. Em casos graves, isso pode levar à cegueira total e coma.>
Apenas 30 ml de metanol podem ser fatais para os seres humanos, afirma a MSF.>
Se diagnosticado dentro de 10 a 30 horas após o consumo, o envenenamento por metanol pode ser tratado com sucesso por meio de diálise.>
Kirsty McKie, de 38 anos, morreu em 2022, mas não foi por aceitar doses gratuitas.>
Ela estava bebendo em casa com uma amiga antes de uma noite em Bali, a ilha na Indonésia onde morava e trabalhava havia oito anos.>
Sua amiga, Sonia Taylor, disse que ambas sentiram como se tivessem tido uma ressaca particularmente forte no dia seguinte, antes de Kirsty ser levada ao hospital para tratamento.>
Sonia também havia bebido o álcool contaminado, mas sobreviveu.>
"Nós não tínhamos ideia", diz Sonia. "Essa provavelmente foi a parte mais difícil para mim, não saber por que você vive e outra pessoa morre... Não parece haver nenhum sentido para isso.">
Em Sumatra, outra ilha indonésia, Cheznye Emmons morreu após beber gim que, mais tarde, descobriu-se que continha 66 mil vezes o limite legal de metanol em bebidas.>
A mãe de Cheznye, Pamela, disse à BBC: "Acho que a pior parte disso [foi] que, pouco antes de começar a ter um ataque, quando chegou ao hospital, ela disse ao namorado: 'Estou com muito, muito medo'. E essa foi basicamente a última vez que ela falou".>
O conselho de Calum aos turistas é evitar bebidas e destilados gratuitos em geral. >
"Há muitas cervejas saborosas no sudeste da Ásia, e tenho certeza que as pessoas vão gostar muito delas.">
Ele diz que saber da morte das duas garotas dinamarquesas que conheceu em Vang Vieng mudou sua perspectiva sobre sua cegueira.>
"Eu realmente sentia que, em muitos aspectos, minha vida não valia a pena ser vivida", diz ele.>
Mas agora Calum está aprendendo a usar uma bengala e espera receber um cão-guia em breve.>
"[As mortes] me fizeram perceber que tive muita sorte, e senti muita gratidão por, embora ter enfrentado consequências difíceis, ver que muitas pessoas passaram por situações piores.">
"Eu sinto que, considerando que tive a sorte de sobreviver, tenho um pouco de responsabilidade em tentar evitar que o mesmo [problema] aconteça com outras pessoas.">
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