Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 20:44
Os críticos da BBC Caryn James (CJ) e Nicholas Barber (NB) escolhem seus destaques do cinema em 2025. Eles incluem um thriller em alta velocidade, um tocante drama familiar, uma comédia comovente — e O Agente Secreto, representante brasileiro no Oscar.>
Os números da lista não representam ordem de classificação. Eles foram incluídos apenas para separar os filmes com maior clareza.>
O filme profundamente comovente da diretora Chloé Zhao sobre a morte do filho de Shakespeare traz o romance de Maggie O'Farrell para a tela grande, mantendo intacta toda a sua eloquência e seu poder emocional.>
Teria sido fácil entrar no sentimentalismo ou no melodrama para contar a história de como a morte de Hamnet, com 11 anos de idade, afetou seus pais amorosos. Mas o filme é incrivelmente comovente, em grande parte, graças à intensidade e honestidade das suas interpretações.>
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Jessie Buckley é, ao mesmo tempo, forte e tocante como a intuitiva Agnes, esposa de Shakespeare. Com sua força de vontade, ela é a verdadeira heroína do filme.>
E Paul Mescal traz uma humanidade ao mesmo tempo rica e realista para o personagem de Shakespeare.>
O filme nos faz mergulhar no mundo do século 16 e sintetiza suas vidas desde a corte até a penosa apresentação de Hamlet. Nesta ficção, a peça traz Hamnet de volta à vida, na forma de um dos heróis mais famosos da história da literatura.>
Com suas imagens incrivelmente belas e seus temas de amor, arte, morte e pesar, Hamnet: A Vida Antes de Hamlet é o filme mais agradável e comovente do ano. (CJ)>
Hamnet: A Vida Antes de Hamlet estreia nos cinemas brasileiros em janeiro de 2026.>
Esta irresistível mistura de drama e comédia contou com o roteiro e direção de Eva Victor, que também interpreta o papel principal de Agnes.>
O filme independente mostra a protagonista nos dias atuais, quando sua melhor amiga Lydia (Naomi Ackie) a visita na faculdade onde ela leciona, na Nova Inglaterra (Estados Unidos). Mas o longa também visita o período, alguns anos antes, em que ela e Lydia eram estudantes e Agnes sofreu abuso sexual de um dos seus professores.>
Victor relata os dias antes e depois do abuso, com sinceridade real e um humor sarcástico e impassível. Ela faz com que um drama que poderia ser sombrio se torne um ode peculiar e tragicômico à resiliência e à amizade entre as mulheres.>
O mais marcante é que Sorry, Baby é o filme de estreia de Victor como diretora e roteirista. E, ainda assim, ela já estabeleceu um estilo inconfundível e um tom próprio. (NB)>
Sorry, Baby estreia nos cinemas brasileiros em dezembro.>
Este é o terceiro filme relacionado às artes cênicas dirigido por Bradley Cooper.>
Nasce uma Estrela (2018) fala do rock. Maestro (2023), de música clássica. E Isso Ainda Está de Pé? mergulha no mundo da stand-up comedy.>
Parece apropriado que este seja o filme mais casual, íntimo e divertido dos três.>
O corroteirista do filme, Will Arnett, interpreta um exausto executivo financeiro que se separou da esposa (Laura Dern).>
Certa noite, ele sobe relutantemente ao palco de um teatro de comédia de Nova York, nos Estados Unidos, só para não precisar pagar o couvert artístico.>
Mas, para sua surpresa, ele descobre que o stand-up permite que ele se abra sobre seus problemas, relembrando que pode haver mais na meia-idade do que ser pai e ter um emprego em tempo integral.>
Baseado nas experiências do comediante britânico John Bishop, de Liverpool (é por isso que Arnett, às vezes, usa uma camisa do time de futebol da cidade), esta calorosa mistura de drama e comédia mostra como pode ser difícil o casamento, mas sugere que pode muito bem valer a pena. (NB)>
Isso Ainda Está de Pé? estreia nos cinemas brasileiros em fevereiro de 2026.>
O audacioso original de Paul Thomas Anderson traz o ritmo e o humor das comédias antigas, mas apresenta um tocante drama familiar e um roteiro mortalmente sério sobre governos autoritários e conspirações racistas.>
Milagrosamente, ele reúne todas as pontas sem dificuldade e sem um único momento de lentidão. E um elenco de astros sustenta o filme.>
Leonardo DiCaprio faz o seu melhor papel cômico, como o atabalhoado ex-radical Bob Ferguson, ao lado de Benicio del Toro, Sean Penn e Teyana Taylor em brilhantes papéis coadjuvantes.>
O esforço intelectual de Anderson canaliza os temas políticos e sociais do romance que inspirou o filme — Vineland, de Thomas Pynchon (Ed. Cia. das Letras, 1991). E DiCaprio e Chase Infiniti, que interpreta sua filha, acrescentam um calor emocional nem sempre associado a Anderson.>
O filme inclui também fascinantes cenas de ação em alta velocidade, com perseguições de carros e tiroteios.>
Anderson nunca ganhou um Oscar e as previsões indicam que este pode ser o seu ano. Mas Uma Batalha Após a Outra é simplesmente um dos melhores filmes do ano, independentemente da disputa pelo prêmio.>
Deslumbrantemente ambiciosa, esta espetacular combinação de arte e entretenimento é realmente vitoriosa. (CJ)>
Uma Batalha Após a Outra está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo, Google Play e YouTube.>
A farsa satírica de Park Chan-wook, baseada em um romance de Donald Westlake (1933-2008), é outro triunfo sangrento do diretor coreano de Oldboy (2003) e A Criada (2016).>
Lee Byung-hun interpreta o gerente de longa data de uma fábrica de papel, totalmente satisfeito com sua carreira, sua esposa, seus filhos e com a vida, de forma geral.>
Mas o orgulho surge após várias derrotas.>
Ele mal consegue acreditar ao ser subitamente despedido. E o choque é ainda maior quando não consegue ser contratado por outra empresa.>
Com a casa da família em risco e o futuro dos filhos em jogo, ele decide se tornar uma espécie de talentoso Sr. Ripley, mas não com tanto talento assim. E começa a matar os candidatos adversários a uma vaga de emprego que ele deseja.>
No Other Choice é uma comédia sombria e chocante, repleta de viradas criativas, personagens excêntricos e ideias malucas.>
Mas Park cuida profundamente do seu infeliz anti-herói, apresentando questões bastante relevantes sobre os efeitos da radical eliminação de empregos e da inteligência artificial. (NB)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
Este drama brasileiro eletrizante traz de volta todos os clichês do thriller político.>
O diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho ilustra habilmente a forma insidiosa em que o poder corrupto do governo se infiltra para arruinar a vida das pessoas comuns.>
O tom único do filme é definido desde o início.>
O Agente Secreto é passado em Recife (PE) no ano de 1977, considerado um período de grande confusão. Certamente, uma forma atenuada de dizer que o país vivia uma ditadura.>
Wagner Moura é dinâmico e traz todo o seu carisma no papel de Marcelo, um professor apolítico que cruza seu caminho com um oligarca ligado ao governo e acaba marcado para morrer.>
O filme mistura gêneros e influências com facilidade. Ele mostra o carnaval, uma rede de resistência clandestina, um relacionamento comovente entre Marcelo e seu filho e assassinos em um tiroteio sangrento.>
Existe até uma temática relativa a cinema, incluindo uma miniparódia de terror sobre uma perna peluda cortada que pode saltar e matar.>
A combinação desses elementos improváveis em um filme intenso, fascinante e repleto de suspense faz com que Mendonça Filho solidifique sua reputação como um dos melhores diretores da atualidade. (CJ)>
O Agente Secreto está em cartaz nos cinemas brasileiros.>
Em termos de puro impacto, nada no cinema este ano pode se comparar com o soco no estômago que é A Voz de Hind Rajab.>
Escrito e dirigido pelo tunisiano Kaouther Ben Hania, o filme recria um penoso incidente ocorrido em janeiro de 2024.>
Hind Rajab é uma menina palestina, de cinco anos de idade. Ela ficou presa nos destroços de um carro na Faixa de Gaza, apavorada com um tanque israelense que estava por abrir fogo.>
Ela passou suas últimas horas de vida conversando por telefone com voluntários que estavam em um escritório do Crescente Vermelho da Palestina, antes de ser morta.>
No filme, atores interpretam os voluntários, que tentam desesperadamente encontrar uma ambulância para seu resgate. Mas a voz no outro lado da linha é uma gravação da própria Hind Rajab.>
Esta devastadora mistura de drama e documentário resultou em um tenso thriller marcado pelo suspense — um retrato duro, quase insuportável, da brutalidade da guerra.>
Os dois últimos filmes de Ben Hania foram indicados para o Oscar: O Homem que Vendeu Sua Pele (2020) e As 4 Filhas de Olfa (2023).>
A Voz de Hind Rajab deve ser o terceiro da lista. (NB)>
A Voz de Hind Rajab estreia nos cinemas brasileiros em janeiro de 2026.>
Apesar do título, a força deste eloquente drama familiar é o seu tom profundo, mas não sentimental.>
Ele explora a complexa dinâmica entre um pai que é um brilhante diretor de cinema e duas filhas crescidas com quem ele tenta, com bastante atraso, formar conexão emocional.>
Stellan Skarsgård oferece talvez a melhor interpretação da sua longa e variada carreira. Ele vive o pai, Gustav Borg, como um artista flagrantemente egocêntrico, mas que ama e se preocupa sinceramente com suas filhas.>
O diretor e roteirista Joachim Trier obtém interpretações igualmente realistas e diferenciadas de Renate Reinsve, como a filha atriz ansiosa e desconfiada, e de Inga Ibsdotter Lilleaas como a filha mais nova, que protege seu filho pequeno e sua irmã.>
Elle Fanning vive uma atriz que participa do filme de Borg. Ela ajuda suavemente a mostrar como a arte cruza e complica a vida.>
Valor Sentimental começa com um panorama da casa da família Borg em Oslo, na Noruega — um símbolo perfeito de como este filme sedutor faz os espectadores sentirem que entraram em uma casa e testemunharam os relacionamentos entre pai, filha e irmã com toda a sua desconfiança e desejo de serem amados. (CJ)>
Valor Sentimental estreia nos cinemas brasileiros em dezembro.>
Jafar Panahi, agora, é forçado a produzir seus filmes em segredo. As autoridades iranianas o proibiram de dirigir. Após cumprir duas sentenças de prisão, ele foi condenado a mais um ano e proibido de viajar.>
Nestas circunstâncias, não surpreende que seu último trabalho, Foi Apenas um Acidente, traga uma crítica tão feroz do regime do seu país. O surpreendente é a humanidade da obra, seu otimismo e seu humor burlesco.>
Vahid Mobasseri interpreta o mecânico Vahid, que ouve uma conversa e reconhece a voz do guarda que o torturou quando ele era prisioneiro político.>
Ele decide sequestrar o seu algoz, quando surge uma pequena dificuldade: Vahid foi vendado na prisão e, por isso, ele não tem total certeza de que aquele é o homem certo.>
A única solução que ele consegue imaginar é rodar pela capital iraniana, Teerã, pedindo orientações para seus antigos colegas de prisão.>
A inteligente comédia de erros de Panahi ganhou merecidamente este ano a Palma de Ouro, o principal prêmio do Festival de Cinema de Cannes, na França. (NB)>
Foi Apenas um Acidente está em cartaz nos cinemas brasileiros.>
Timothée Chalamet interpretou o herói mais improvável — um jovem egoísta que trapaceia ao longo da vida e sonha em se tornar campeão de tênis de mesa.>
Ele o transforma em um personagem infinitamente fascinante, neste filme de época de Josh Safdie, ambientado na zona leste de Nova York, nos Estados Unidos, nos anos 1950.>
Chalamet define inteligentemente o bem humorado e nervoso Marty Mauser, com sua fala rápida, como um cara tão determinado para ter sucesso que nem mesmo percebe o quanto ele é cruel.>
A interpretação resiste com estilo à tendência de pedir ao público que passe a amar o personagem. Nossas simples compreensão já é suficiente.>
Ao longo das cômicas aventuras de Marty pelo mundo, ele encontra uma antiga estrela de cinema (impecavelmente interpretada por Gwyneth Paltrow), além de um criminoso e do marido da sua namorada, entre outros.>
A interpretação de Chalamet casa perfeitamente com a energia e o humor seco, às vezes absurdo, do filme.>
Estudo de personagem em forma de filme esportivo, Marty Supreme é tão dinâmico e engraçado que se torna irresistível, ao contrário do seu herói cheio de falhas. (CJ)>
Marty Supreme estreia nos cinemas brasileiros em janeiro de 2026.>
O terceiro filme de mistério da série Knives Out, de Rian Johnson, é pelo menos tão agradável quanto os dois primeiros.>
Como de costume, observamos o personagem de Daniel Craig, Benoit Blanc, elegantemente vestido, solucionando quebra-cabeças mirabolantes e enganando vilões nefastos.>
E, por trás de todas as aventuras, assistimos a uma sátira forense dos setores mais privilegiados da sociedade americana.>
Em Entre Facas e Segredos (2019), os filhos dos ricos foram colocados sob a lente de aumento de Johnson. Em Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022), foi a vez dos influenciadores vazios e dos hipsters da tecnologia. E, em Vivo ou Morto, são os líderes religiosos apocalípticos e os políticos que os exploram.>
Em um belo contraste com o racionalista e exuberante Blanc, Josh O'Connor interpreta um jovem padre sério que enfrenta o pregador implacável interpretado por Josh Brolin. (NB)>
Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out estreia na Netflix em dezembro.>
A carreira do diretor Jim Jarmusch é repleta de filmes inteligentes, lindamente elaborados e, às vezes, subvalorizados, por parecerem despretensiosos.>
Por isso, o Leão de Ouro conquistado por ele este ano (o principal prêmio do Festival de Veneza, na Itália) foi um reconhecimento há muito tempo devido.>
Pai Mãe Irmã Irmão é um trio de histórias separadas, cada uma passada em uma cidade diferente, cada uma com seu próprio e brilhante elenco. E, mais uma vez, o filme é mais ambicioso e profundo que pode parecer.>
Cada um dos segmentos possui seu tom próprio, mas eles compartilham o tema comum de filhos crescidos e pais que não os entendem ou não os conhecem, mesmo quando tentam entendê-los.>
Os segmentos mostram seriedade crescente. Surge uma comédia mordaz quando Adam Driver e Mayim Bialik, interpretando irmãos distantes, visitam seu pai (Tom Waits) em Nova Jersey, nos Estados Unidos.>
Cate Blanchett e Vicky Krieps são irmãs que tomam chá com sua mãe (Charlotte Rampling) em Dublin, na Irlanda, em um drama realista de conexões frias perdidas.>
E existe uma melancólica sensação histórica no segmento de Paris, na França. Indya Moore e Luka Sabbat interpretam filhos de emigrantes americanos.>
Com seu estilo tipicamente fluido e mais comovente do que nunca, Jarmusch fala mais sobre família em cada uma de suas seções relativamente breves do que a maioria dos cineastas em horas de produção. (CJ)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
A Hora do Mal começa às 2h17 da manhã.>
Em um subúrbio não identificado, 17 crianças da mesma classe da escola primária se levantam da cama, saem de casa e desaparecem no escuro. Angustiados, os moradores locais precisam enfrentar a situação e descobrir os motivos.>
A solução do mistério sobrenatural acaba sendo simples, mas o diretor e roteirista Zach Cregger (o mesmo de Noites Brutais, de 2022) segue um caminho incomum até o seu surpreendente desfecho.>
Ele mostra os eventos do ponto de vista de diversos personagens, sucessivamente: a amarga professora das crianças (Julia Garner), seu rabugento diretor (Benedict Wong), um pai furioso (Josh Brolin), um policial problemático (Alden Ehrenreich) e outros mais.>
Ao longo do caminho, Cregger demonstra seu magistral controle de incontáveis elementos de terror, desde silêncios torturantes até gritos sufocados, de um assustador surrealismo até o humor surpreendente.>
Mas seu brilhante retrato do dia a dia americano é o que faz de A Hora do Mal um filme único.>
Influenciado por Magnólia (1999), de Paul Thomas Anderson, e por Short Cuts: Cenas da Vida (1993), a adaptação da obra do escritor Raymond Carver (1938-1988) pelo cineasta Robert Altman (1925-2006), A Hora do Mal parece ser um novo tipo de filme de terror. (NB)>
A Hora do Mal está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV+ e HBO Max.>
Este filme de ação inteligente e revigorante foi inspirado em Céu e Inferno (1963), de Akira Kurosawa (1910-1998). Mas o longa é puramente Spike Lee, o que, por si só, é um grande elogio.>
Denzel Washington interpreta um magnata do setor musical, David King. Seu filho adolescente foi sequestrado e ele recebe um pedido de resgate. Mas o sequestrador levou, por engano, o filho do assistente de King (Jeffrey Wright).>
King tem pouco dinheiro. Será que ele irá pagar pelo filho de outra pessoa?>
Este dilema moral ganha forma nas metáforas habituais de Lee, harmoniosamente combinadas em um filme de longa metragem.>
Podemos observar sua consciência profunda de raça e classe como questões sociais arraigadas, além dos visuais radiantes, como a luxuosa cobertura de King no Brooklyn (Nova York, EUA), repleta de obras de artistas negros.>
A música do filme é vibrante e varia do rap e salsa até uma trilha sonora orquestrada completa.>
Enquanto King negocia com o sequestrador, surge uma busca eletrizante pelo metrô de Nova York, durante a comemoração do Dia de Porto Rico, que atrai muitas pessoas.>
Washington está no melhor da forma e A$AP Rocky interpreta seu papel secundário de forma primorosa. O filme inclui ainda algumas falas didáticas, dentro do esperado para um filme de Spike Lee.>
Cativante e virtuoso, Luta de Classes não poderia ser obra de nenhum outro diretor. (CJ)>
Luta de Classes está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV e YouTube.>
Danny e Michael Philippou surpreenderam ao abandonar a produção de vídeos no YouTube para dirigir filmes de longa metragem, com seu fantasmagórico Fale Comigo (2022). E o novo filme dos gêmeos australianos é ainda melhor.>
Faça Ela Voltar conta a história complicada e meticulosamente construída de dois irmãos órfãos, interpretados por Billy Barratt e Sora Wong. Eles são mandados para viver com uma mãe social acolhedora (talvez acolhedora demais), interpretada por Sally Hawkins.>
O segredo é que os Philippous conduzem o terror e o drama do filme com a mesma seriedade.>
Sem recorrer a sustos baratos ou reviravoltas forçadas, eles contam uma poderosa história emocional sobre pessoas reais em um ambiente convincente. E, por acaso, esta história envolve possessões demoníacas e zumbis comedores de carne.>
O filme é envolvente, visceralmente intenso e suficientemente marcante para estabelecer os dois irmãos entre os melhores produtores de terror da atualidade.>
Se os eleitores do Oscar prestassem mais atenção ao gênero, Hawkins seria indicada ao prêmio de melhor atriz. (NB)>
Faça Ela Voltar está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e HBO Max.>
Jane Austen (1775-1817) sabia que dinheiro e casamento estão ligados para sempre. E, com este delicioso filme, quase uma comédia romântica, Celine Song trouxe esta ideia para o século 21, com muita inteligência e ironia.>
Amores Materialistas pode parecer uma comédia romântica tradicional. Mas ela rompe com todas as noções comuns do gênero, oferecendo uma visão clara dos relacionamentos amorosos no nosso mundo material.>
Song tem uma forma própria de evocar interpretações leves do seu brilhante elenco. Dakota Johnson interpreta Lucy, uma casamenteira profissional que escolhe entre dois homens na sua vida — e vamos combinar que não existe escolha ruim aqui.>
Chris Evans é o ex que ainda a ama, mas só pode oferecer a vida de um ator esforçado — e Lucy não quer ser pobre. Pedro Pascal é o bilionário que a escuta de verdade.>
Pascal, como sempre, é uma mistura perfeita de charme e sinceridade. E Song, com toda a sua visão prática e sem julgamentos da influência do dinheiro sobre os relacionamentos, não é cínica em nenhum momento em relação ao amor em si.>
Depois do primeiro filme de Song, Vidas Passadas (2023), Amores Materialistas é outra joia de uma das cineastas mais originais da atualidade. (CJ)>
Amores Materialistas está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e HBO Max.>
Esta deliciosa comédia britânica é estrelada pelos seus dois roteiristas, Tom Basden e Tim Key, ao lado de uma brilhante Carey Mulligan.>
Key interpreta Charles, um alegre e excêntrico ganhador da loteria que contrata sua dupla musical favorita, Herb McGwyer (Basden) e Neil Mortimer (Mulligan) para se apresentar em um show ao vivo na pequena ilha onde ele mora.>
O problema é que a dupla se desfez anos atrás, pessoal e profissionalmente. E Charles não disse a nenhum dos dois que o outro também estará na ilha.>
Dirigido com sensibilidade por James Griffiths, The Ballad of Wallis Island é uma vitória. É um filme generoso, sincero e pitoresco, repleto de personagens carismáticos. E também é engraçado do princípio ao fim.>
Os diálogos de Charles, particularmente, são repletos de piadas deliberadamente ruins e frases de efeito de dar vergonha. Talvez você queira assistir novamente ao filme logo após o final, em busca de chavões que possam ter se perdido na primeira vez. (NB)>
The Ballad of Wallis Island está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e YouTube.>
Dos muitos filmes que já abordaram a fama na era das redes sociais e a ligação aparentemente próxima, mas ilusória, entre os fãs e as celebridades, poucos foram tão atuais ou bem sucedidos quanto este contundente thriller psicológico.>
Lurker é o primeiro filme do roteirista e diretor Alex Russell, que escreveu e produziu as séries O Urso (2022) e Treta (2023).>
Russell controla brilhantemente o andamento da história à medida que seu personagem central cruza a linha que separa o superfã de um relacionamento parassocial tóxico.>
Matthew (Théodore Pellerin) trabalha como vendedor em uma loja, que recebe a visita do astro da música pop Oliver (um carismático Archie Madekwe).>
Entusiasmado, Matthew entra na comitiva de Oliver. O filme oferece sua perspectiva, mas sem transformá-lo em herói.>
O público pode ficar constrangido ao ver como ele permite ser ridicularizado e tratado como um mascote. E, quando Oliver o congela, Matthew perde o controle.>
A maioria dos filmes sobre fãs costuma mergulhar no terror, mas este retrato sagaz e assustador do stalker é mais eficaz, pois atinge o suspense apenas no final. E Lurker expõe, ao longo do enredo, as raízes tão comuns das desilusões com a fama. (CJ)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
Acompanhante Perfeita é o filme independente americano mais expressivo do ano até aqui.>
Ele é estrelado por Jack Quaid e Sophie Thatcher, como um jovem e dedicado casal que viaja com amigos em férias para a floresta remota de um magnata russo. Rupert Friend faz uma engraçada participação especial interpretando o oligarca, com cabelo comprido.>
Uma noite de confissões, suspeitas e desentendimentos regada a bebida faz parecer que o filme será uma comédia romântica, ou talvez um filme de ação noir sobre um assalto que deu errado.>
Na verdade, Acompanhante Perfeita é uma comédia de ação e ficção científica. Mas, a partir daí, quanto menos você souber antecipadamente sobre o filme, mais agradáveis serão suas criativas reviravoltas.>
Basta dizer que a estreia do diretor e roteirista Drew Hancock na tela grande é uma sátira brilhante e divertida sobre a tecnologia moderna e o tema cada vez mais relevante de como certos jovens inseguros podem ser misóginos e arrogantes. E o filme consegue sintetizar todas as suas ideias em apenas 97 minutos. (NB)>
Acompanhante Perfeita está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e HBO Max.>
Pantera Negra (2018) foi deslumbrante. Mas seu diretor, Ryan Coogler, se superou este ano com Pecadores.>
Michael B. Jordan é maliciosamente convincente interpretando os gêmeos Smoke e Stack. Eles voltam de Chicago para abrir um bar com música ao vivo na sua cidade natal no Mississippi, nos Estados Unidos, em 1932 — época das leis Jim Crow, que pretendiam legalizar o racismo e marginalizar os negros americanos.>
Com enorme ambição e imaginação, Coogler emprega gêneros familiares e parábolas, formando um filme totalmente original, que mistura o real e o sobrenatural.>
Pecadores é, ao mesmo tempo, um filme de época e de vampiros. É um drama sobre racismo, família, superstições e espiritualidade, além de sexo apaixonado e blues revigorantes.>
Coogler é um diretor corajoso. Às vezes, ele cria cenas fantasmagóricas, com músicos africanos paramentados surgindo ao lado dos rappers.>
A primeira hora tem tanto conteúdo que poderia formar sozinha um filme de época. Mas, então, surge o sobrenatural, levando a um final com sangue, ação e vingança.>
Jordan conta com um elenco de apoio espetacular, que inclui Delroy Lindo, Wunmi Musaku e Hailee Steinfeld.>
Sexo, blues e vampiros batendo à porta? O que mais podemos querer de um filme? (CJ)>
Pecadores está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV, Google Play e HBO Max.>
O fascinante documentário de Miranda Yousef conta uma história mais estranha que a ficção, sobre o pintor americano Thomas Kinkade (1958-2012), um dos artistas que mais venderam seu trabalho na história.>
Os críticos rejeitavam suas obras como repulsivamente fracas. Mas, nos anos 1990 e 2000, havia nos Estados Unidos lojas dedicadas aos quadros sentimentais de Kinkade, que mostravam aconchegantes casas de campo.>
Art for Everybody levanta questões fascinantes sobre quem decide o que é arte verdadeira e se alguns quadros podem ser mais importantes do que outros. São questões atuais, considerando as contínuas guerras culturais sendo travadas nos Estados Unidos.>
O filme de Yousef apresenta sensibilidade e delicado equilíbrio. Ele é igualmente fascinante em suas questões pessoais e sociopolíticas.>
Uma parte fundamental do marketing de Kinkade era sua imagem pública cuidadosamente construída, de homem de família fundamentalmente americano e cristão devoto. Mas o chamado "Pintor da Luz" também tinha um lado obscuro.>
Será que as pressões para ser um irrepreensível Dr. Jekyll o teriam levado a se tornar um autodestrutivo Sr. Hyde? (NB)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
O roteirista e diretor de Guerra Civil (2024), Alex Garland, e o veterano e consultor militar de Tempo de Guerra, Ray Mendoza, apresentam um drama em tempo real visceral e angustiante. Eles recriaram uma batalha real entre marinheiros americanos e jihadistas da al-Qaeda.>
A virtuosa técnica de Garland e a experiência de guerra de Mendoza formaram um filme descompromissado, que nos faz mergulhar na intensidade do combate, sem explicações prévias nem antecedentes.>
Os rostos de Joseph Quinn, Will Poulter, Cosmo Jarvis e D'Pharaoh Woon-A-Tai já são suficientes para transmitir o medo e a determinação de estar sob ataque. E, ao criarem seus personagens longe das bravatas típicas dos filmes de guerra de Hollywood, os atores mostram coragem na batalha em um filme de resistência repleto de terror.>
Tempo de Guerra nos faz imergir nas sensações do conflito. Ele é intenso, estrondoso e implacável na sua sequência de granadas e artilharia. Quando os gritos de dor dos homens feridos começam, eles não param mais.>
E o filme é muito mais do que uma conquista técnica deslumbrante. Ao se concentrar no custo pessoal dos combates e na própria violência em si, não na política do conflito no Iraque, Tempo de Guerra reinventa o filme de guerra de forma renovada, premente e estimulante. (CJ)>
Tempo de Guerra está disponível na Amazon Prime Vídeo, Apple TV e Google Play.>
Em Vingt Dieux (Holy Cow é o título em inglês), o desajeitado e preguiçoso adolescente Totone (Clément Faveau) precisa cuidar da sua irmã mais jovem, Claire (Luna Garret), após a morte súbita do pai, em um local remoto do interior da França.>
A solução que ele encontrou para seus terríveis problemas financeiros foi produzir queijos premiados de alta qualidade.>
O filme de estreia de Louise Courvoisier é um drama emotivo de crescimento humano, enraizado no solo da região de Jura, no leste da França, onde ela foi criada.>
Courvoisier oferece uma visão telúrica e detalhada de como a vida dos agricultores pode ser intensa e dolorosa, quando a juventude despreocupada se transforma na idade adulta, implacável e cheia de responsabilidades.>
Mas a diretora também cria um conto de esperança agradável, romântico e repleto de belas cenas, mostrando pessoas desfavorecidas que trabalham juntas do nascer ao pôr do sol para melhorar suas vidas.>
Bem-aventurados sejam os produtores de queijo, como disseram certa vez os comediantes do grupo Monty Python. (NB)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
Os dois grandes heróis do estúdio Aardman estão de volta em uma animação indicada ao Oscar. E, com eles, o seu mais sorrateiro inimigo: o pinguim diabólico chamado Feathers McGraw.>
Dirigido por Nick Park e Merlin Crossingham, Avengança é repleto das qualidades que levaram o público a admirar as irreais aventuras de Wallace & Gromit: a trabalhosa animação com argila em stop motion; suas máquinas e equipamentos característicos; suas rápidas homenagens aos clássicos do cinema; seu humor britânico, alegre e absurdo; e a profunda afeição pelos personagens e seu mundo.>
Acima de tudo, é um prazer ver de novo Feathers McGraw, mais de 30 anos após sua primeira aparição em Wallace & Gromit: As Calças Erradas (1993). Mas o novo filme do estúdio inglês de Bristol vai muito além da nostalgia.>
Quando Wallace inventa um gnomo robótico que (antes de se tornar malvado) faz todo o trabalho de jardinagem de Gromit, a história faz uma viagem para o mundo de Missão Impossível e aborda os receios atuais em relação à inteligência artificial. (NB)>
Wallace & Gromit: Avengança está disponível na Netflix.>
O imenso talento da diretora Rungano Nyoni valeu a ela um prêmio Bafta por sua notável estreia britânica em Eu Não Sou uma Bruxa (2017).>
Seus filmes são obras de arte acessíveis, de grande elegância visual. E seu mais recente lançamento é um drama realista sobre conflitos culturais e geracionais.>
Sua heroína, Shula, é uma mulher cosmopolita que retornou recentemente da cidade grande para sua aldeia na Zâmbia. Nyoni transmite essa dissonância de imediato, mostrando Shula indo de carro para casa, vindo de uma festa à fantasia.>
A personagem usa um capacete prateado brilhante e óculos escuros, em homenagem a um vídeo da cantora Missy Elliott. E encontra seu tio Fred morto em uma estrada de terra.>
A história nos leva, então, aos rituais fúnebres tradicionais da família e revela aos poucos que Fred abusou de Shula e de duas primas quando elas eram crianças. Mas suas mães colocam os fatos de lado enquanto lamentam a morte do irmão.>
O estilo de Nyoni é realista, mesmo quando usa imagens surreais.>
A narrativa do sigilo e do trauma sobre o assédio sexual se transforma em poder mais para o fim, quando Shula relembra um programa infantil na televisão. É nesse momento que o título deste filme surpreendente finalmente faz sentido. (CJ)>
A reportagem não encontrou cinemas ou serviços de streaming que estejam exibindo o filme no Brasil.>
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.>
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