Publicado em 1 de agosto de 2025 às 05:25
O projeto da nova lei do licenciamento ambiental, aprovado pelo Congresso e que aguarda sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), representa um "retrocesso de décadas" na proteção à natureza no Brasil, segundo Astrid Puentes Riaño, relatora especial das Nações Unidas (ONU).>
O texto pode causar "danos ambientais significativos e violações dos direitos humanos", afirmou Riaño em entrevista à BBC News. >
A especialista diz temer que uma lei mais branda se aplique a "alguns projetos de mineração" e que impacte a Amazônia.>
Citando uma estimativa da organização Instituto Socioambiental (ISA), Riaño afirma que o projeto revogaria a proteção de 18 milhões de hectares no Brasil, o equivalente ao tamanho do Uruguai. >
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Críticos do texto o chamam de "PL [projeto de lei] da devastação" — acusando-o de enfraquecer mecanismos de proteção ambiental e colocar em risco a saúde da população, afetada pelas mudanças climáticas e pela devastação da natureza.>
Já defensores dizem que o novo licenciamento simplificaria o longo e complexo processo que as empresas enfrentam para provar às autoridades que seus projetos não vão causar danos ambientais inaceitáveis.>
Empreendimento agropecuários menores poderão, por exemplo, autodeclarar seu impacto ambiental por meio de um formulário online.>
Astrid Puentes Riaño diz estar "muito preocupada" com os planos de renovação automática das licenças de alguns projetos que não passaram por grandes mudanças. >
"Isso impedirá que avaliações de impacto ambiental sejam feitas nesses projetos. Alguns dos empreendimentos incluirão projetos de mineração ou de infraestrutura, onde uma avaliação completa é necessária", aponta a relatora da ONU.>
"Também vai causar desmatamento. Sem uma análise adequada, mudanças ou a continuidade de projetos podem representar desmatamento na Amazônia.">
Grande parte do desmatamento na Amazônia tem sido impulsionado pela agricultura e mineração, às vezes ilegais — e Riaño diz que a nova lei é um "retrocesso" nos esforços para evitar isso.>
Há cerca de dois meses, uma pesquisa mostrou que grandes áreas da Amazônia foram destruídas em 2024, com incêndios florestais alimentados pela seca piorando o quadro causado pelo desmatamento provocado pela atividade humana. >
De acordo com a nova lei de licenciamento, os órgãos ambientais teriam 12 meses — prorrogáveis até 24 — para decidir se concedem ou não uma licença para projetos estratégicos. Se esse prazo for perdido, a licença poderá ser concedida automaticamente.>
Riaño diz compreender a necessidade de sistemas mais eficientes, mas defende que as análises de impacto ambiental sejam "abrangentes" e "baseadas na ciência".>
A lei também flexibilizaria a exigência de consulta a comunidades indígenas ou quilombolas em algumas situações, a menos que sejam diretamente impactadas.>
Especialistas da ONU levantaram preocupações de que análises aceleradas podem tirar a participação da comunidade local e afetar direitos humanos.>
O presidente Lula tem até 8 de agosto para decidir se aprova ou veta, parcialmente ou totalmente, a nova lei — a poucos meses de o Brasil receber a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) em Belém, em novembro.>
Se houver veto, o Congresso ainda poderá derrubá-lo. >
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já afirmou que, se mantida, a lei pode eventualmente ser questionada no Supremo Tribunal Federal (STF).>
Na terça-feira (29/07), durante evento em Brasília, a ministra sinalizou que Lula pode vetar alguns trechos do projeto e propor uma alternativa.>
"Não basta vetar. É preciso vetar e ter algo para colocar no lugar. Não está sendo vista apenas a questão do veto, mas como reparar adequadamente aquilo que porventura venha a ser mudado", declarou Marina Silva. >
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