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Netanyahu enfurece líderes judeus após pacto com partido racista

Netanyahu enfurece líderes judeus após pacto com partido racista

Em meio a acusações de suborno, primeiro-ministro israelense realiza articulações políticas que podem prejudicar a luta contra o antissemitismo

Publicado em 1 de março de 2019 às 12:08

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Benjamin Netanyahu, premiê de Israel. (AP)

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cujo futuro está ameaçado por um escândalo de suborno e por concorrentes políticos, enraiveceu líderes judeus em Israel e nos Estados Unidos ao fazer um acordo com um partido racista contrário aos árabes, cuja ideologia foi comparada por um influente rabino ao nazismo. O furor agravou as relações já complicadas entre Israel e os judeus da diáspora, prejudicando os esforços dos judeus europeus e americanos no combate ao antissemitismo no momento em que este está em ascensão.

Netanyahu, querendo conquistar todo voto potencial, recorreu ao partido de extrema direita Otzma Yehudit, ou Força para Israel, cujos líderes têm um passado de defesa da violência contra os palestinos, de expulsão dos árabes da Palestina e dos territórios ocupados, e de proibição de casamentos ou sexo entre judeus e árabes. Netanyahu conseguiu que o grupo se fundisse com um partido de sionistas mais tradicionais, "Israel é o nosso Lar". Este pacto poderia catapultar facilmente o Otzma Yehudit, partido menor mal visto, na próxima coalizão de governo de Israel.

Os líderes do Otzma Yehudit definem-se orgulhosamente discípulos de Meir Kahane, militante contrário aos árabos nascido em Nova York. Ele chegou a cumprir um mandato no Parlamento de Israel nos anos 1980, antes que o seu partido Kach fosse proibido no país e declarado um grupo terrorista pelos Estados Unido, mas foi assassinado em 1990.

Como o Kach, a plataforma do Otzma Yehudit exige a anexação dos territórios ocupados, rejeita o Estado palestino, pretende expulsar os “inimigos” de Israel - um eufemismo referido aos árabes - e declara o partido “dono” do Monte do Templo. Em Jerusalém, esse local é sagrado tanto para os muçulmanos quanto para os judeus, e é administrado por clérigos muçulmanos sob a supervisão jordaniana.

O pacto entre Netanyahu e os Kahanistas provocou uma convulsão entre os grupos judeus liberais como J Street e Americans for Peaced Now. Mas a ira não se limita à esquerda. No dia 22 de fevereiro, o grupo de lobby americano conhecido como Aipac, e o Comitê Judaico Americano declararam “condenáveis” as ideias do Otzma Yehudit, e prometeu não manter mais contato com os seus líderes, mesmo que passem a fazer partes do próximo governo.

Do seu púlpito na sinagoga Ramban, o rabino Benny Lau de Jerusalém, um dos principais expoentes do sionismo religioso, comparou o kahanismo ao nazismo. No sistema parlamentar de Israel, partidos pequenos como os Shas ultra-ortodoxos podem ser cruciais para a formação de uma coalização majoritária, e Netanyahu costuma fazer acordos com eles, concedendo-lhes uma influência enorme.

Mas desta vez, ele está concorrendo com a próxima instauração, amplamente esperada, de um processo em que é acusado de corrupção, e enfrentando o seu concorrente mais forte Benny Gantz, ex-comandante do exército centrista e muito popular. Os dois líderes do Otzma Yehudit que poderão obter cadeiras no Knesset, dependendo da parcela de votos recebidos pelo partido associado em abril, são Michael Ben Ari e Itamar Bem Gvir. Eles são os fundadores de Lehava, que se opõe às relações entre árabes e judeus e foi implicado no incêndio criminoso de uma escola para crianças árabes e judias em Jerusalém, em 2014.

Ben Ari chama os árabes de “inimigos” e defende a sua expulsão. Os Estados Unidos o consideram membro de uma organização terrorista. Ben Gvir, que foi assessor legislativo de Ben Ari, admitiu que tem em sua casa uma imagem de Baruch Goldstein, seguidor do Kahane que massacrou 29 palestinos enquanto oravam em uma mesquita em Hebron, em 1994.

Ben Ari ganhou notoriedade em 1995 como adversário radical do processo de paz de Oslo, quando ele roubou o ornamento do carro do primeiro-ministro Yaizhak Rabin. “Chegamos ao carro dele, e depois vamos chegar a ele”. Semanas mais tarde Rabin foi assassinado por um membro de um grupo ligado ao kahanismo.

Enquanto o procurador geral espera anunciar que tentará conseguir a condenação de Netanyahu em um escândalo de suborno, o primeiro-ministro também espera atrair um número suficiente de parlamentares para mantê-lo no poder caso seja processado - “o que se pode chamar de uma coalizão a prova de condenação”, disse Yohanan Plesner, presidente do Instituto pela Democracia de Israel. “Ele começa a sua campanha com muito menos inibições do que no passado”.

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Netanyahu traiu também o seu partido, o Likud, concedendo uma das suas candidaturas ao Knesser a um membro da ‘Israel é o nosso Lar’ como recompensa pela fusão. Também prometeu a ‘Israel é o nosso Lar’ os ministérios da Habitação e da Educação. Yossi Klein Halevi, um estudioso do Instituto Shalom Hartman de Jerusalém que era um seguidor de Kahane nos anos 1970, mas renunciou às suas ideias, disse que os israelenses ainda precisam absorver as ramificações da fusão do Otzma Yehudit e ‘Israel é o nosso Lar’. “Nós defendemos que este é um momento importante de prestação de contas”, afirmou. “Cada vez mais os israelenses irão compreender o que isto significa”.

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