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Lula fala na ONU um dia depois de nova rodada de sanções de Trump; siga

Lula fala na ONU um dia depois de nova rodada de sanções de Trump; siga

Presidente abre a Assembleia Geral da ONU, parte da tradição brasileira, seguido por discurso de Trump. É o primeiro encontro dos dois após tarifaço dos EUA anunciado em julho

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 10:33

Seguindo a tradição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz, nesta terça-feria (23/9), o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU. A fala está prevista para começar às 10h de Brasília, depois do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e acontece em meio à crise com os Estados Unidos, um dia após novas sanções do governo de Donald Trump a autoridades brasileiras.

O presidente dos Estados Unidos falará em seguida.

Lula chegou na ONU acompanhando da primeira-dama, Janja Lula da Silva. Na delegação, estão o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e os ministros das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública, Mauro Vieira e Ricardo Lewandowski, respectivamente.

Na segunda-feira (22/09), o Departamento de Estado americano anunciou que a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, seria punida pela Lei Magnitsky.

A aplicação dessa lei é umas das punições mais severas disponíveis contra estrangeiros considerados pelos EUA autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

O ministro do STF foi a primeira autoridade brasileira a ser punida sob a lei americana. Na ocasião, representantes do governo Trump acusaram Moraes de atacar a liberdade de expressão e de tomar decisões judiciais arbitrárias.

Além de Viviane, também foi punida sob a Lei Magnitsky a empresa Lex - Instituto de Estudos Jurídicos, mantida por ela e pelos três filhos do casal: Gabriela, Alexandre e Giuliana Barci de Moraes.

Segundo o Departamento de Estado, a medida visa sancionar a "rede de apoio" a Moraes.

"Aqueles que protegem e permitem que atores estrangeiros malignos como Moraes ameaçam os interesses dos EUA e também serão responsabilizados", diz uma nota do órgão americano.

O governo Trump também revogou o visto do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e de outros membros do Judiciário brasileiro, além de seus familiares diretos:

  • Airton Vieira, foi juiz instrutor do gabinete de Moraes e hoje é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP);
  • Benedito Gonçalves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele foi relator da ação que deixou Bolsonaro inelegível;
  • Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Alexandre de Moraes
  • José Levi, ex-advogado-Geral da União (2020-2021) no governo Bolsonaro, assumiu, em 2022, a secretaria-geral da presidência do TSE, comandado por Moraes na época;
  • Marco Antonio Martin Vargas, ex-juiz auxiliar de Moraes quando ele comandou o TSE, em 2022, hoje é desembargador no TJ-SP;
  • Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, juiz auxiliar de Moraes.

Lula concedia uma entrevista em Nova York a um canal de televisão americano quando soube da notícia sobre as sanções, informada por um de seus assessores.

Finalizada a entrevista, Lula e sua equipe conversaram e decidiram que ficaria a cargo do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) dar uma resposta, já que as medidas foram comunicadas pelo Departamento de Estado americano.

Em nota, o Itamaraty afirmou ter recebido a notícia "com profunda indignação" e que o recurso utilizado por Trump é uma "ofensa aos 201 anos de amizade entre os dois países".

"Esse novo ataque à soberania brasileira não logrará seu objetivo de beneficiar aqueles que lideraram a tentativa frustrada de golpe de Estado, alguns dos quais já foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. O Brasil não se curvará a mais essa agressão", diz a nota.

Até então, a possibilidade da aplicação de novas sanções pelos EUA durante a passagem de Lula pelo país era tratada como remota por interlocutores do presidente.

Também na segunda-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro; e o empresário Paulo Figueiredo, aliado de Eduardo e neto do ex-ditador João Batista Figueiredo, por ter articulado sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras.

Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo estão morando nos EUA, onde têm articulado para que o governo americano pressione o Brasil a barrar investigações e processos contra Jair Bolsonaro, seus apoiadores e aliados.

Imagem BBC Brasil
null Crédito: Getty Images

No início de julho, Trump anunciou em suas redes sociais a taxação em 50% de produtos brasileiros, justificando para isso a suposta "caça às bruxas" a que Bolsonaro estaria sendo submetido na Justiça brasileira.

Cerca de 700 produtos acabaram depois isentos da taxação.

Também em julho, o governo Trump anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, mirando em vários assuntos, do Pix ao desmatamento.

No fim daquele mês, Alexandre de Moraes foi submetido à Lei Magnitsky.

A revogação de vistos desta segunda-feira não foi inédita. O governo Trump já havia feito o mesmo em agosto, contra brasileiros ligados ao Programa Mais Médicos.

Na segunda-feira, a TV pública americana PBS publicou uma entrevista com Lula na qual o ex-presidente disse ser "inacreditável" que Trump esteja aplicando punições ao Brasil, como as tarifas, por conta da situação de Bolsonaro.

"É inacreditável que o presidente Trump tenha esse tipo de comportamento com o Brasil devido ao julgamento de um ex-presidente que tentou um golpe de Estado contra o Estado Democrático de Direito. Que articulou e planejou minha morte, o meu assassinato, do vice-presidente e de um ministro da Suprema Corte", disse o presidente brasileiro, assegurando a Justiça do Brasil é imparcial e que Bolsonaro teve um julgamento justo.

"A explicação de uma tarifa de 50% devido ao julgamento do ex-presidente não é uma explicação para a opinião pública internacional. E o Brasil quer ter uma relação civilizada com os EUA."

Perguntado pela jornalista da PBS se o Brasil retaliaria os EUA com a reciprocidade nas tarifas, Lula disse que seu país está tentando resolver as coisas com "tranquilidade" e que está pronto para negociar com Washington. Entretanto, argumentou que Trump está agindo por motivos políticos, e não econômicos.

O discurso de Lula na abertura da Assembleia Geral não é a primeira vez que um presidente brasileiro abre a Assembleia Geral da ONU — na verdade, isso acontece há décadas.

Na tradição, após o Brasil abrir o Debate Geral na Assembleia, segue-se o discurso do país anfitrião, os EUA.

Um dos motivos para o protagonismo no Brasil é o papel histórico que o país teve na constituição da Carta da ONU e na realização da primeira Assembleia Geral.

Assim, o Brasil passou a usar o espaço para fazer análises mais amplas da conjuntura internacional, projetando sua visão de mundo e defendendo temas estruturais, como o combate à fome, o desenvolvimento e a reforma de instituições multilaterais.

*Colaboraram Mariana Alvim e Marina Rossi, da BBC News Brasil em São Paulo

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