Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 05:50
O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaa situação dos palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto, o genocídio de judeus promovido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. >
A fala foi feita durante uma entrevista Adis Abeba (Etiópia), onde o presidente participou neste fim de semana de uma reunião da cúpula da União Africana. >
Lula já havia falado sobre a situação dos palestinos em seu discurso, mas a fala durante a entrevista gerou uma forte reação de Netanyahu, que convocou o embaixador brasileiro em Israel para prestar explicações. >
Mais de 28,8 mil palestinos, incluindo civis, mulheres e crianças, morreram durante os mais recentes ataques de Israel à Faixa de Gaza. O país iniciou uma guerra contra o Hamas em outubro após a morte de 1.200 pessoas e o sequestro de 253 reféns em um ataque do grupo em Israel. >
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Entenda a fala de Lula sobre o conflito e a reação de Israel. >
Lula havia questionado a decisão de alguns países de suspender verbas à agência da ONU que dá assistência aos palestinos, a UNRWA.>
A suspensão havia acontecido porque Israel acusou funcionários da agência de envolvimento com o Hamas. >
Lula afirmou que a ajuda humanitária aos palestinos não pode ser suspensa e disse que, se confirmado que houve erros na UNRWA, deve haver responsabilização.>
“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente?”, disse o presidente.>
“E qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio?”, afirmou. >
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus.">
“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. Se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou. Mas não suspenda a ajuda humanitária para o povo que tá há quantas décadas tentando construir o seu Estado”, disse o presidente. >
Lula também reiterou que condena o Hamas e os ataques realizados por eles. >
"O Brasil condena o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que Israel está fazendo na Faixa de Gaza", disse. >
No sábado (17), Lula havia se encontrado com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.>
O Palácio do Planalto afirmou que o presidente brasileiro condenou ataques do Hamas durante a reunião e reiterou a necessidade de paz no Oriente Médio e necessidade da criação de um Estado Palestino. Shtayyeh agradeceu a Lula pela solidariedade com o povo palestino, segundo o governo brasileiro. >
O genocídio de mais de 6 milhões de judeus e outros milhões pessoas (entre gays, comunistas, ciganos e outros grupos perseguidos pelo nazismo) durante a Segunda Guerra Mundial é um tema bastante sensível.>
A fala de Lula gerou uma forte reação de instituições judaicas, que afirmam que comparar a situação dos palestinos afetados pelos ataques de Israel com o genocídio de judeus feito pelos nazista é uma forma de "banalizar o Holocausto". >
A Conib (Confederação Israelita do Brasil) emitiu uma nota de repúdio à fala de Lula, na qual defendeu as ações de Israel. >
"Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua carta de fundação a eliminação do Estado judeu", diz o comunicado da entidade. >
"Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes", afirmou. >
O presidente do Museu do Holocausto em Jerusalém, Dani Dayan, afirmou que a fala de Lula é "vergonhosa" e uma "combinação de ódio e ignorância". >
Ministros do governo defenderam Lula nas redes sociais. >
"Todo meu apoio às preocupações do presidente Lula em relação ao conflito que vem cruelmente atingindo civis na Faixa de Gaza, vítimas do governo de extrema-direita de Israel", escreveu Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) na rede social X. >
"A fala do presidente Lula sobre o que está acontecendo em Gaza é corajosa e necessária. Já são mais de 20 mil mortos palestinos através de ataques promovidos por Israel. Que esse posicionamento incentive outros países a condenarem a desumanidade que estamos vendo dia após dia", disse Sônia Guajajara (Povos Indígenas), também no X. >
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O atual presidente de Israel, Benjamin Netanyahu, emitiu um comunicado criticando a fala de Lula e convocou o embaixador brasileiro em Israel para uma reunião na segunda-feira. >
“A comparação entre Israel e o Holocausto dos nazistas e de Hitler está ultrapassando a linha vermelha”, afirmou Netanyahu em um comunicado. "Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa.">
Ele disse ainda que a "banalização do Holocausto é a uma tentativa de prejudicar o povo judeu e o direito de Israel de se defender".>
O Brasil sempre teve relações diplomáticas amigáveis tanto com Israel quanto com autoridades palestinas, sendo defensor da solução do conflito através da convivência de dois Estados: Israel e um Estado palestino. >
Após os ataques do Hamas em Israel, o Brasil condenou as ações do grupo, que deixaram 1.200 mortos e 253 reféns.>
Desde então, o Brasil vem criticando também a contraofensiva israelense, que já deixou 28,8 mortos na Faixa de Gaza. >
A posição oficial brasileira é em favor de um cessar-fogo na região.>
O Brasil também apoiou o caso da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça no passado. >
A África do Sul acusou Israel de genocídio contra os palestinos na ação, que autorizada a continuar pela Corte em janeiro. >
O tribunal instruiu Israel a impedir os seus militares de cometerem atos que possam ser considerados genocidas, a prevenir e punir o incitamento ao genocídio e a permitir a assistência humanitária ao povo de Gaza.>
Mas o tribunal não chegou a apelar a Israel para que suspenda imediatamente as suas operações militares em Gaza, como era desejo do país africano. >
A convocação do embaixador brasileiro em Israel para reunião após a fala de Lula é vista por analistas como uma "medida drástica". Espera-se que o "desconforto" gerado pela fala de Lula seja resolvido na reunião.>
O ex-embaixador do Brasil em Londres e diplomata Rubens Barbosa afirmou à GloboNews que a fala de Lula foi "improvisada" e que o Itamaraty não compartilha dessa visão. >
"É uma situação delicada. Eu não creio que esse incidente possa afetar as relações entre o Estado de Israel e o Estado brasileiro, porque há muitos interesses em jogo, inclusive na área de Defesa", disse Barbosa à GloboNews.>
Enquanto isso, a situação em Gaza continua dramática. A Organização Mundial de Saúde disse que o hospital Nasser deixou de funcionar após um ataque israelita. As Forças de Defesa Israelense disseram que sua operação era “precisa e limitada” e acusou o Hamas de “usar cinicamente hospitais para o terror”.>
O esforços para mediar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas têm acontecido no Cairo, mas os mediadores do Qatar disseram que o progresso recente "não é muito promissor".>
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