Publicado em 7 de julho de 2025 às 16:38
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu, nesta segunda-feira (7/7), as ameaças e críticas feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em suas redes sociais aos Brics e ao Brasil. >
Trump ameaçou impor tarifas a países que adotarem políticas alinhadas com os Brics e defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu em um caso que apura uma tentativa de golpe no Brasil. Para Lula, a postura de Trump foi "irresponsável".>
"Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador", disse Lula em entrevista coletiva após o encerramento da cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro.>
A declaração foi uma resposta à ameaça feita por Trump em sua rede social, o Truth Social, no domingo.>
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"Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos Brics será cobrado com uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política", escreveu Trump nas redes sociais.>
Aparentando incômodo com a manifestação de Trump, Lula cobrou "respeito" por parte do presidente americano.>
"Somos países soberanos. Se ele achar que ele pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade [...] As pessoas precisam aprender que respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber, e é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz", disse o petista.>
Esta não foi a primeira vez que Trump ameaçou impor sanções a países dos Brics. >
Em novembro de 2024, ele prometeu impor tarifas a produtos de países do bloco que aderissem a mecanismos para diminuir o uso do dólar americano em suas transações comerciais.>
O uso de moedas locais nas transações financeiras entre os países do bloco foi defendida por Lula durante a entrevista coletiva, mas o tema foi tratado com menos ênfase na declaração final dos Brics, divulgada no domingo, em comparação com a declaração da cúpula realizada na Rússia, em 2024.>
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a delegação brasileira tentou tratar o assunto com mais discrição justamente para evitar um embate direto com Trump.>
No ano passado, a lista de membros dos Brics expandiu-se para além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e passou a incluir também Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.>
Lula também criticou outra manifestação de Trump nas redes sociais, desta vez nesta segundam em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.>
"Eu tenho assistido, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo", disse Trump e suas redes sociais.>
Questionado sobre o assunto, Lula disse que teria assuntos mais importantes sobre os quais comentar, mas acabou rebatendo as declarações de Trump.>
"Eu não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Este país tem lei. Este país tem regras e este país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa", disse o presidente.>
O embate entre os dois acontece em meio à proximidade do julgamento do caso sobre tentativa de golpe de Estado no qual Bolsonaro é réu e que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro alega inocência em relação ao caso e diz ser perseguido politicamente no Brasil.>
Há expectativa de que o caso seja julgado efetivamente pela Corte nas próximas semanas.>
As declarações de Trump sobre o caso acontecem após o deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se mudar para os Estados Unidos, em março deste ano, e anunciar que faria uma campanha para expor o que ele vem classificando como "regime de exceção" supostamente em vigor no Brasil.>
Mais cedo, Lula já havia se manifestado por meio de nota, afastando qualquer interferência externa no país.>
"A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano", escreveu o presidente.>
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Lula também foi questionado sobre a crise com o Congresso Nacional, após o Parlamento derrubar seu decreto que subia o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).>
O governo decidiu levar o caso ao STF, na esperança de que a Corte revertesse a decisão do Congresso.>
No entanto, o ministro Alexandre de Moraes anulou tanto o decreto de Lula como a decisão do Parlamento e convocou uma audiência de conciliação para tentar um acordo.>
Lula, porém, refutou essa solução e disse que conversará nesta semana com o Advogado-Geral da União, Jorge Messias.>
"Não estou participando de nenhuma mesa de conciliação. Mandamos uma proposta para o Congresso, e o Congresso resolveu fazer uma coisa, na minha opinião, anticonstitucional, porque decreto é uma prioridade do governo, do Executivo".>
"Houve um PDL [Projeto de Decreto Legislativo] do Congresso Nacional que derrubou [nosso decreto], entramos na Justiça. Não li ainda a decisão do ministro Alexandre de Moraes, mas temos outras decisões de ministros diferentes. Temos decisões do ministro Gilmar [durante o governo] do FHC, temos [mudança no] IOF aprovada pelo governo Bolsonaro", argumentou Lula.>
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