Publicado em 27 de maio de 2020 às 09:49
Revés político para Jair Bolsonaro, que prega alinhamento com Donald Trump, as restrições dos EUA à entrada de pessoas que estiveram no Brasil nos últimos 14 dias não devem ser revertidas no curto prazo.>
A avaliação é de interlocutores no governo Bolsonaro que acompanham o tema.>
Segundo esses auxiliares, a linguagem do decreto emitido pela Casa Branca é muito semelhante à empregada na limitação imposta, em meados de março, a viajantes que passaram por Reino Unido, Irlanda e nações europeias do espaço Schengen. As restrições se devem ao novo coronavírus.>
O decreto referente à zona Schengen, área de livre circulação dentro da Europa, é de 11 de março, e o que atinge Reino Unido e Irlanda é do dia 14 do mesmo mês.>
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Apesar de vários países europeus já terem registrado sinais de redução da curva de transmissão do vírus, os EUA ainda não levantaram essas barreiras.>
Isso leva membros do governo a prever tratamento semelhante ao Brasil, sem perspectiva de normalização até que o país consiga demonstrar que os índices de propagação da doença estão controlados.>
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, minimizou no domingo (24) o decreto e afirmou que "o governo americano está seguindo parâmetros quantitativos previamente estabelecidos, que alcançam naturalmente um país tão populoso quanto o nosso".>
"Não há nada específico contra o Brasil. Ignorem a histeria da imprensa", escreveu.>
Menos otimistas que Martins, outros membros do governo ouvidos pela reportagem, sob condição de anonimato, argumentam que a linguagem do documento de Trump chama a atenção para a gravidade da crise no Brasil, que, na prática, passa a ser tratado como um dos novos focos da pandemia.>
Nela, a Casa Branca sustenta que as autoridades sanitárias americanas determinaram que o Brasil convive com um estágio de "transmissão generalizada e contínua de pessoa a pessoa" da Covid-19.>
Integrantes do governo também lembram que, num contexto de pré-campanha eleitoral nos EUA em que a resposta de Trump à crise sanitária será tema central da disputa, o republicano tende a ser pressionado a manter as barreiras de entrada a estrangeiros que passaram por países com alta incidência da doença.>
Justamente pelo fato de os EUA terem adotado medidas idênticas para outros países que registraram alto número de infecções pelo vírus, o veto a viajantes que estiveram no Brasil já era esperado pelo Itamaraty.>
A prioridade de diplomatas brasileiros nas últimos semanas vinha sendo defender, junto às autoridades americanas, a garantia de um fluxo mínimo de voos entre os dois países - algo preservado na decisão de Trump, que não trata de frequências aéreas. >
Além disso, a avaliação é que não cabe ao Brasil sequer contra argumentar diante da decisão dos EUA, uma vez que o próprio governo Bolsonaro impõe, desde o final de março, limitações à entrada no país de estrangeiros de todas as nacionalidades, inclusive americanos. >
Tanto na ação tomada pelo Brasil quanto na imposta pelos EUA há exceções, como residentes permanentes ou que estejam em viagem a um dos dois países em missão oficial. >
Em comunicado divulgado no domingo (24), o Itamaraty afirma que ambos os países "têm mantido importante cooperação bilateral no combate à Covid-19" e que as restrições não afetam o fluxo de comércio binacional. >
Também lembra que, no mesmo dia do decreto de Trump, o governo americano anunciou a doação de mil respiradores ao Brasil. >
A embaixada dos EUA em Brasília, por sua vez, destacou que os dois países trabalham em "estreita colaboração para mitigar os impactos socioeconômicos e de saúde da Covid-19 no Brasil, bem como para promover prioridades políticas, econômicas e de segurança no hemisfério e em todo o mundo". >
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