Publicado em 12 de maio de 2025 às 21:39
Um grupo de 59 sul-africanos brancos chegou aos Estados Unidos nesta segunda-feira (12/05), onde deve receber status de refugiado.>
O presidente Donald Trump afirmou que os pedidos de refúgio feitos por integrantes da minoria africâner (descendente de colonos holandeses e outros europeus na África do Sul) haviam sido acelerados por se tratarem de vítimas de "discriminação racial".>
O governo sul-africano, por sua vez, declarou que o grupo não sofre nenhum tipo de perseguição que justifique a concessão da condição de refugiado.>
A administração Trump suspendeu todas as outras admissões de refugiados, inclusive de pessoas vindas de zonas de guerra. >
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A ONG Human Rights Watch classificou a medida como uma distorção racial cruel, afirmando que milhares de pessoas — entre elas, muitos refugiados negros e afegãos — tiveram o pedido de asilo negado pelos EUA.>
O grupo de sul-africanos brancos desembarcou no Aeroporto Dulles, próximo a Washington DC, e foi calorosamente recebido pelas autoridades americanas.>
Alguns seguravam crianças pequenas e agitavam bandeirinhas dos EUA na área de desembarque, decorada com balões nas cores vermelha, branca e azul.>
O processamento de pedidos de refúgio nos EUA costuma levar meses — em alguns casos, anos —, mas esse grupo teve o processo acelerado. A ACNUR, a agência de refugiados da ONU, confirmou à BBC que não participou da triagem, como geralmente ocorre.>
Questionado na segunda-feira sobre por que os pedidos de refúgio dos africâneres foram processados mais rapidamente do que os de outros grupos, Trump respondeu que estaria ocorrendo um "genocídio" e que os "agricultores brancos" estariam sendo especificamente visados.>
"Estão matando agricultores. Eles são brancos, mas, para mim, não faz diferença se são brancos ou negros", declarou.>
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse ter afirmado a Trump, por telefone, que essa avaliação dos EUA "não era verdadeira".>
"Um refugiado é alguém que precisa deixar seu país por medo de perseguição política, religiosa ou econômica", afirmou Ramaphosa. "E esse grupo não se enquadra nesses critérios.">
Ao ser questionado pela BBC no aeroporto de Dulles, o subsecretário de Estado Christopher Landau comentou: "Não é surpreendente, infelizmente, que um país de onde saem refugiados não reconheça que eles são, de fato, refugiados.">
Os EUA também vêm criticando políticas internas da África do Sul, acusando o governo de confiscar terras de agricultores brancos sem qualquer compensação.>
Em janeiro, o presidente Ramaphosa sancionou uma polêmica lei que permite ao governo confiscar propriedades privadas sem indenização, em determinadas circunstâncias, quando isso for considerado "justo e de interesse público".>
No entanto, o governo afirma que nenhuma terra foi confiscada até agora com base nessa legislação.>
Há frustração na África do Sul quanto ao ritmo lento da reforma agrária desde o fim do sistema racista do apartheid, há três décadas.>
Embora mais de 90% da população do país seja negra, apenas 4% das terras privadas estavam nas mãos de negros, segundo um relatório de 2017.>
Um dos conselheiros mais próximos de Trump, o sul-africano Elon Musk, já declarou que havia um "genocídio de brancos" na África do Sul e acusou o governo de aprovar "leis racistas de propriedade".>
As alegações de genocídio contra brancos no país já foram amplamente desacreditadas.>
Em nota enviada à BBC, Gregory Meeks, democrata de destaque na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, afirmou que a política de reassentamento de refugiados da gestão Trump "não é apenas um apelo racista velado, mas uma reescrita politicamente motivada da história".>
A Igreja Episcopal declarou que deixaria de colaborar com o governo federal no reassentamento de refugiados, em protesto contra o "tratamento preferencial" concedido aos africâneres.>
Melissa Keaney, advogada do Projeto Internacional de Assistência a Refugiados, disse à BBC que a decisão da Casa Branca de acelerar a chegada dos africâneres representa "muita hipocrisia e tratamento desigual".>
Sua organização está processando a administração Trump após a suspensão indefinida do Programa de Admissão de Refugiados dos EUA (USRAP) em janeiro. Segundo Keaney, a medida deixou mais de 120 mil refugiados com aprovação condicional em situação indefinida.>
O autor africâner Max du Preez afirmou ao programa Newsday, da rádio BBC, que as alegações de perseguição contra sul-africanos brancos são "um absurdo completo" e "sem qualquer fundamento".>
Dados da polícia sul-africana mostram que, em 2024, foram registrados 44 assassinatos em fazendas e pequenas propriedades agrícolas, sendo que oito das vítimas eram fazendeiros.>
A África do Sul não divulga estatísticas criminais com recorte racial, mas a maioria dos proprietários de fazendas no país é branca, enquanto a maioria dos trabalhadores rurais e outros moradores dessas áreas é negra.>
As relações bilaterais entre EUA e África do Sul vêm se deteriorando desde que Trump incumbiu seu governo de reassentar africâneres — grupo composto majoritariamente por descendentes de holandeses — nos Estados Unidos.>
Em março, o embaixador sul-africano nos EUA, Ebrahim Rasool, foi expulso após acusar Trump de usar a "vitimização branca como apelo velado", o que levou os EUA a acusarem Rasool de "incitação racial".>
Os EUA também criticaram a África do Sul por sua postura "agressiva" contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), onde o governo sul-africano acusou a gestão de Benjamin Netanyahu de genocídio contra os palestinos — alegação fortemente rejeitada por Israel.>
A disposição do presidente Trump em aceitar refugiados africâneres ocorre num contexto de repressão mais ampla à entrada de migrantes e solicitantes de asilo vindos de outros países.>
Reportagem adicional de Khanyisile Ngcobo, em Joanesburgo, e Cai Pigliucci, em Washington DC.>
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