Publicado em 11 de agosto de 2025 às 08:25
Funcionários tensos e sobrecarregados em qualquer lugar reconhecem as características do burnout: exaustão, despersonalização (sentir-se desligado dos outros ou de você mesmo no trabalho) e uma sensação reduzida de realização pessoal. Isso acontece quando o estresse crônico no trabalho não é administrado de forma adequada. >
No outro extremo do espectro do estresse está o "rust out". Você talvez já tenha passado por isso. É quando os funcionários ficam entediados, apáticos ou desmotivados, frequentemente fazendo o mínimo necessário no trabalho. Isso pode levar à procrastinação, fazer com que eles passem muito tempo nas redes sociais ou busquem algo que os estimule em outro lugar.>
Rust out é o declínio mental e emocional causado por tarefas repetitivas e monótonas e pela estagnação profissional contínua. Ao contrário do burnout, que resulta em sobrecarga de trabalho, o rust out surge da subutilização e da falta de tarefas estimulantes. >
Essa condição pode ser agravada quando um ambiente de trabalho valoriza mais a eficiência e cumprimento de metas do que o engajamento profissional, levando as pessoas a se sentirem invisíveis ou substituíveis. Em outras palavras, acontece quando a pessoa não é desafiada o suficiente. >
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Pode parecer uma reclamação estranha para quem adoraria pensar um pouco menos em trabalho. Mas, a longo prazo, isso pode levar à insatisfação com a carreira e afetar a saúde mental. >
Ainda assim, em muitas profissões, o rust out continua sendo um problema que não é falado. Talvez isso se deva à expectativa não oficial de que o trabalho seja algo entediante.>
Nossa pesquisa investigou o rust out em uma profissão específica: a dos formadores de professores. Eles são professores universitários que treinam futuros professores. Um total de 154 desses profissionais responderam um questionário e, com 14 deles, realizamos entrevistas. >
Embora a maioria tenha dito gostar do trabalho, nós encontramos sintomas e experiências que indicam rust out. Acreditamos que nossas descobertas possam ter relevância para outros contextos profissionais. >
O rust out pode parecer um pouco com a tendência das redes sociais chamada quiet quitting (ou demissão silenciosa, na tradução para o português). >
Contudo, os formadores de professores com quem nós conversamos não estavam deliberadamente se afastando de suas funções ou planejando sair. Na verdade, eles permaneciam altamente comprometidos com seus alunos — o que tornava a situação ainda mais frustrante. >
Com frequência, eles viam a profissão como uma vocação e sentiam orgulho em guiar novos professores para a carreira. Muitos contaram sobre a alegria que era possível encontrar no trabalho e sobre os jovens brilhantes e inspiradores que eles ajudaram a formar. No entanto, alguns haviam perdido esse entusiasmo. >
Pilhas cada vez maiores de documentos de trabalho os obrigaram a desviar o foco daquilo que eles amavam. E, de forma crucial, havia a sensação de que eles não faziam mais o trabalho para o qual haviam se candidatado.>
Os formadores de professores no ensino superior equilibram múltiplas responsabilidades: dar aulas, supervisionar os estágios de seus alunos, orientar e realizar um extenso trabalho administrativo. Essas demandas deixam pouco espaço para o envolvimento com pesquisa, que é cada vez mais valorizada em universidades orientadas por métricas.>
Descobrimos que a burocratização do ensino superior na Irlanda e no Reino Unido tem levado a um excesso de papelada, tarefas de compliance e mudanças constantes nos sistemas. Um professor nos disse: "Cerca de 70% da minha carga de trabalho agora é quase só administração, o que é muito deprimente.">
Em conjunto, isso pode deixar pouco tempo para aspectos mais criativos ou profissionalmente enriquecedores da função, como o desenvolvimento de currículo, o ensino ou a pesquisa. "Eu geralmente sinto que eu não produzi nada no fim da semana e não há sensação de desenvolvimento", disse outro educador.>
O rust out também pode acontecer quando há um desalinhamento entre as aspirações profissionais e as demandas do trabalho. >
Por exemplo, no nosso estudo, alguns formadores de professores altamente qualificados, com experiência significativa em pesquisa, ensino e liderança, se sentiam sobrecarregados com tarefas repetitivas e de baixo valor, em vez de realizarem atividades mais alinhadas à sua expertise.>
Um profissional disse: "As pessoas podem ser colocadas em uma função e permanecer naquela zona de conforto, em vez de serem desafiadas ou convidadas a tentar algo novo que poderia estimular a criatividade.">
Alguns podem ficar confortáveis com o rust out por um tempo, mas ficar preso nessa situação pode levar à insatisfação profissional. >
O crescimento profissional restrito pode gerar sentimentos de rust out. Isso inclui oportunidades limitadas para mudança de carreira, estruturas rígidas e falta de apoio ao desenvolvimento de carreira no ambiente de trabalho. >
Se os funcionários são vistos como uma espécie de "porto-seguro", que podem ajudar a manter a operação em andamento, a satisfação profissional deles não é levada em conta. >
"A conversa não acontece; é apenas 'você fez o trabalho?'", disse um formador de professores. "Não se trata de satisfação no trabalho; mas de você ter sorte de ter um emprego.">
O rust out traz consequências tanto pessoais quanto institucionais. A nível individual, ele leva ao desengajamento profissional, apatia e redução da motivação. Um dos entrevistados pela pesquisa disse estar "funcionando sem prosperar", com tarefas repetitivas corroendo seu senso de propósito.>
Muitos formadores de professores relataram não conseguir falar sobre a insatisfação devido à cultura do ambiente de trabalho e às expectativas de desempenho. >
"O rust out existe na formação de professores. Com certeza. Contudo, eu não tenho nenhuma experiência de conversar sobre isso com alguém", disse um professor. >
Isso pode acontecer porque é conveniente para todos não falar sobre o assunto. Nada é abalado quando a equipe está trabalhando e cumprindo suas funções. >
Esse silêncio beneficia as instituições a curto prazo, já que mantém a estabilidade e adia conversas difíceis. Mas, a longo prazo, pode contribuir para problemas de retenção, um clima organizacional negativo e possivelmente redução da inovação. >
Acreditamos que o rust out deve entrar na agenda de saúde mental nos locais de trabalho, assim como acontece com o burnout. Os empregadores precisam reconhecer que o bem-estar de seus funcionários é parte essencial para o sucesso. >
* Sabrina Fitzsimons é professora de Educação e co-diretora do Centro de Pesquisa Colaborativa em Formação de Professores na Dublin City University (DCU), na Irlanda.>
David Smith é professor na Escola de Estudos Sociais Aplicados na Robert Gordon University, no Reino Unido.>
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).>
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