Publicado em 21 de outubro de 2025 às 17:32
Ela é a astronauta que quebrou o "teto de vidro". E foi além.>
Eileen Collins fez história ao se tornar a primeira mulher a pilotar e comandar uma nave espacial da Nasa. Mas, apesar de seus feitos marcantes, sua trajetória é pouco conhecida pelas pessoas.>
Agora, um documentário que narra sua trajetória pioneira, chamado Spacewoman ("Mulher do Espaço", em tradução livre, sem previsão de estreia nos cinemas brasileiros), busca mudar essa falta de reconhecimento popular.>
A BBC conversou com Collins no Museu da Ciência, em Londres.>
>
Ela fala com suavidade, é acolhedora e tem os pés no chão, mas logo se percebe sua concentração e determinação. Há firmeza por trás da voz calma.>
"Eu estava lendo um artigo sobre os astronautas do programa Gemini [conduzido pela Nasa entre 1961 e 1966]. Eu devia ter uns nove anos e pensei: isso é a coisa mais incrível do mundo. É isso que eu quero fazer", conta. >
"É claro que, naquela época, não havia mulheres astronautas. Mas pensei: vou ser uma mulher astronauta.">
Aquela garotinha, porém, sonhava ainda mais alto: queria estar no comando de uma nave espacial.>
E a única forma de conseguir isso era entrar para as Forças Armadas e tornar-se piloto de testes.>
Na Força Aérea, Collins se destacou e foi selecionada para integrar o programa de astronautas. Ela pilotaria ônibus espaciais, como são chamados os "aviões espaciais" da Nasa.>
Collins sabia que os olhos do mundo estavam sobre ela quando sua primeira missão decolou, em 1995.>
"Como primeira mulher a pilotar o ônibus espacial, trabalhei muito porque não queria que as pessoas dissessem: 'Olhem, a mulher errou'. Não era só sobre mim, era sobre as mulheres que viriam depois", conta.>
"E eu queria que a reputação das mulheres piloto fosse: 'Ei, elas são realmente boas'.">
Ela era tão competente que logo foi promovida a comandante, outro feito inédito.>
Collins também era mãe de dois filhos pequenos. O fato de ser esposa, mãe e astronauta era frequentemente mencionado nas coletivas de imprensa da época, e alguns jornalistas pareciam surpresos com a ideia de que ela pudesse ser as três coisas ao mesmo tempo.>
Mas Collins diz que ser mãe e comandante foram "os dois melhores trabalhos do mundo".>
"Vou dizer uma coisa: é mais difícil criar uma criança do que comandar ônibus espacial", brinca.>
"O melhor treinamento que já tive para ser comandante foi ser mãe, porque você aprende a dizer não às pessoas.">
Os ônibus espaciais da Nasa, que voaram por três décadas, alcançaram feitos impressionantes, mas também enfrentaram tragédias.>
Em 1986, a nave espacial Challenger sofreu uma falha catastrófica segundos após o lançamento, matando os sete tripulantes a bordo.>
E, em 2003, o ônibus espacial Columbia se desintegrou nos céus do Texas ao final de sua missão, também com a morte dos sete astronautas.>
Um pedaço de espuma isolante do tanque de combustível do Columbia se soltou durante o lançamento, danificando o escudo térmico, com consequências devastadoras.>
A nave não resistiu à reentrada na atmosfera terrestre e se desintegrou diante dos olhos atônitos do mundo.>
Collins balança a cabeça ao lembrar do desastre e dos amigos que perderam suas vidas.>
Mas, como comandante, ela precisava assumir a responsabilidade, seria a encarregada do voo seguinte do programa.>
Será que ela chegou a pensar em desistir naquele momento?>
"As pessoas em todo o programa de ônibus espaciais contavam com a comandante para seguir em frente", diz ela em voz baixa. >
"Acho que desistir da missão teria sido o oposto da coragem... E eu queria ser uma líder corajosa. Queria ser uma líder confiante. Queria transmitir essa confiança às outras pessoas.">
Quando sua missão finalmente decolou, em 2005, o pesadelo se repetiu: um pedaço de espuma se soltou durante o lançamento.>
Desta vez, porém, havia um plano para verificar o dano, mas que exigia uma das manobras mais arriscadas da história espacial.>
Collins precisou pilotar o ônibus espacial fazendo um giro completo de 360 graus, enquanto voava sob a Estação Espacial Internacional. >
A manobra permitiu que os colegas no laboratório orbital fotografassem a parte inferior da nave e verificassem se o escudo térmico havia sido comprometido.>
"Havia engenheiros e gerentes dizendo que não seria possível e listando todos os motivos pelos quais era perigoso demais", conta.>
"Eu ouvi toda a discussão, eles sabiam que eu era a comandante, e eu disse: 'Parece que a gente consegue fazer'.">
Com as mãos firmes nos controles e a voz calma ao falar com o centro de comando, Collins pilotou a nave em uma lenta e graciosa cambalhota no espaço. >
Com a parte inferior agora visível, os danos foram rapidamente identificados e uma caminhada espacial foi realizada para fazer o reparo.>
A manobra garantiu que Collins e sua tripulação voltassem em segurança para casa.>
Esse foi o último voo de Collins. Ela conta que sempre planejou parar após a quarta missão, para dar a outros a oportunidade de ir ao espaço.>
Desde então, viu muitas astronautas seguirem seus passos.>
E que conselho daria à nova geração que sonha com as estrelas?>
"Façam o dever de casa, ouçam o professor, prestem atenção nas aulas e leiam livros, isso vai ajudar vocês a se concentrarem", diz, em tom direto.>
Os que seguirem Collins no espaço descobrirão o quanto ela conquistou, não apenas como mulher, mas como piloto e comandante excepcional.>
Ela afirma não ter arrependimentos por ter encerrado a carreira de astronauta. Ela tomou a decisão e não olhou para trás. >
Ainda assim, um leve brilho nostálgico surge em seu olhar quando perguntamos se aceitaria voltar ao espaço caso surgisse uma vaga.>
"Sim, eu adoraria participar de uma missão algum dia. Quando eu for uma senhora idosa, talvez tenha a chance de voltar ao espaço.">
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta