Publicado em 30 de outubro de 2025 às 06:33
André Lyra de Oliveira, o Lápis, estava na comunidade do Quitungo, no bairro Brás de Pina, zona norte do Rio, quando dois homens atiraram contra ele. >
Lápis morreu ali, por volta das três da manhã do dia 16 de setembro de 2021. >
As ordens para executar o crime, segundo a polícia, partiram de Edgar Alves de Andrade, o Doca, principal líder do Comando Vermelho (CV) em liberdade — na hierarquia, ele está abaixo apenas de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, ambos presos em penitenciárias federais.>
Doca era o principal alvo da Operação Contenção, realizada pelas polícias fluminenses na terça-feira (28/10) nos complexos do Alemão e da Penha e considerada a mais letal da história no país.>
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Ele, no entanto, conseguiu escapar.>
Com mandado de prisão preventiva decretado antes da operação, Doca era um dos alvos das polícias fluminenses. >
Segundo Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio, o criminoso usou "soldados" do tráfico para fazer uma barreira e escapar da operação. O Disque Denúncia do Rio oferece R$ 100 mil para quem tiver informações sobre ele.>
"O Doca, nós não conseguimos pegar nesse primeiro momento porque é uma estratégia que eles fazem. Ele bota os soldados como mais uma barreira para poder facilitar a sua prisão, a gente tem toda essa dificuldade", afirmou Santos, em entrevista à GloboNews.>
Segundo consta em sua ficha criminal, Doca nasceu em 1970 em Caiçara — há divergências em registros das próprias autoridades se sua origem é Caiçara no Rio Grande do Sul ou Caiçara na Paraíba.>
Ele entrou para o crime há pelo menos 20 anos. Em 2007, foi preso em flagrante por porte de arma e tráfico de drogas, na vila da Penha, zona norte da capital fluminense. >
Relatou aos policiais, à época, que era militar. Anos depois, teve progressão de pena e foi para o semiaberto.>
Nas ruas, foragido, Doca assumiu um papel importante na organização criminosa. Não era apenas mais um membro. Com papel de liderança, passou a gerenciar os recursos da facção, principalmente na região da Vila da Penha, e a orquestrar ordens de ações — como aquela que matou André Lyra de Andrade.>
Doca tinha um motivo para querer André Lyra morto: disputa territorial na zona norte. Nos últimos anos, as milícias e o Comando Vermelho aumentaram suas disputas. >
Em 2020, o Terceiro Comando da Capital (TCP) havia fechado parceria com a milícia da comunidade do Quitungo — área de interesse do CV—, que andava enfraquecida, para vender drogas por lá de forma velada. A comunidade fica a poucos quilômetros do Complexo da Penha.>
Em março de 2020, alguns membros do TCP provocaram o CV: gravaram vídeos de dentro da Vila Cruzeiro, na Penha. Meses depois, em outubro, a provocação virou ataques em áreas do Complexo da Penha. O CV revidou e divulgou em redes sociais prêmios para quem matasse os rivais daquela região. Lápis foi um desses alvos.>
Como líder do CV, Doca é considerado um dos principais responsáveis pela expansão da facção nos últimos anos. >
Entre 2022 e 2023, a organização aumentou em 8,4% as áreas sob seu controle e retomou a liderança perdida para as milícias nos anos anteriores. E, hoje, responde por 51,9% das áreas dominadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio.>
Essa disputa entre milícias e facções terminou com a morte, por engano, de três médicos na Barra da Tijuca, em outubro de 2023: Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato, e Perseu Ribeiro Almeida. >
Naquela ocasião, os criminosos confundiram Perseu com Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de um miliciano. Segundo a polícia, a autorização partiu de Doca. Ao saber do engano, Doca teria mandado matar também os comparsas.>
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Esses crimes não estão nem perto de serem os únicos crimes pelos quais Doca responde. A extensa ficha criminal — de 189 páginas — indicava 176 anotações criminais até 2023. >
A maioria delas por tráfico de drogas, associação criminosa, roubos e furtos de cargas, homicídios, tortura e porte de armas.>
Em dezembro de 2020, Doca foi acusado de autorizar também o homicídio de três crianças, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense: Lucas Matheus da Silva, de 8 anos, Alexandre da Silva, 10, e Fernando Henrique Ribeiro, de 12. Os garotos haviam se desentendido com um chefe do tráfico local por conta de um passarinho. Com o aval de Doca, os criminosos torturaram e mataram os garotos.>
Como líder do CV, Doca também se envolveu, segundo investigações, com a compra e uso de drones lançadores de granada — usados na terça-feira (28/10) contra os policiais. A facção fez uso da tecnologia, pela primeira vez, em uma ação contra milicianos na zona norte do Rio.>
Doca aparece ainda em outro caso de grande repercussão na mídia, no caso do TH Joias — o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos. Preso em 2025, ele é acusado de tráfico de drogas, intermediação de armas para facções e lavagem de dinheiro por meio da venda de joias e bens de alto valor.>
As investigações da Polícia Federal e da Polícia Civil apontam que o parlamentar atuava como elo entre chefes do tráfico e o poder público, movimentando recursos ilícitos em nome de prestígio e influência política. Segundo consta no processo, TH Joias chegou a relatar, por mensagem, para comparsas, que havia se encontrado com Doca e outras lideranças, num local desconhecido, para fechar negócios.>
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