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Conheça cinco mitos sobre a família real britânica

Conheça cinco mitos sobre a família real britânica

A Rainha Elizabeth II, por exemplo, não é tão rica quanto se acredita

Publicado em 16 de maio de 2018 às 11:13

Rainha Elizabeth II e Príncipe Philip Crédito: Reprodução/Pixabay

O casamento do príncipe Harry e da americana Meghan Markle acontece no sábado, 19 de maio, e a febre da realeza está em alta nos Estados Unidos: um bar temático de Harry e Meghan foi aberto em Washington e a Georgetown Cupcake está vendendo guloseimas de limão com sabugueiro durante todo o mês em homenagem ao bolo de casamento do casal. Se a audiência da televisão americana para a cerimônia do irmão de Harry (cerca de 23 milhões de telespectadores) e de seus pais (17 milhões) servir de guia, milhões de americanos acordarão cedo para assistir à transição de Markle de atriz de TV para nobre da vida real. Apesar de todo o interesse, o entendimento sobre a coroa britânica continua cercado de equívocos. Eis alguns dos mais comuns:

Mito n° 1: a monarquia abraçou uma atitude progressista

Duas gerações atrás, casos amorosos de integrantes da realeza com pessoas divorciadas provocaram crises. Apenas em 2002 a Igreja da Inglaterra, da qual o rei ou rainha é governador supremo, passou a permitir que pessoas divorciadas se casassem novamente. À essa altura, à medida que o divórcio se tornava mais comum no Reino Unido, três dos quatro filhos da rainha Elizabeth II já haviam se divorciado. Em 2005, o herdeiro (divorciado) do trono, o príncipe Charles, se casou com uma divorciada, Camilla. Isso ajudou a suavizar o caminho para Harry e Markle — que é divorciada. "A Casa de Windsor está rasgando o livro de regras e entrando no século 21", escreveu um biógrafo da família real.

Enquanto isso, a coroa atualizou as regras de sucessão para acabar com a preferência masculina sobre os herdeiros femininos. A mudança fez história em abril, quando o recém-nascido príncipe Louis não passou à frente da irmã mais velha, a princesa Charlotte, na linha do trono.

A antiga instituição está se modernizando — mas isso não a torna moderna. Ela continua sendo o exemplo mais emblemático do mundo da aristocracia hereditária (situada no topo de uma sociedade consciente das classes e das raças), um sistema há muito descartado na maioria das nações liberais e democráticas. E eliminar preconceitos de gênero na sucessão ao trono reflete apenas as normas do século XX, e não o progressivismo do século XXI. Outro problema, como apontou um editorial do "New York Times", é se, apesar da origem birracial de Markle, "mais pessoas de cor vão sentir que têm mais importância na instituição mais antiquada do país". No mês passado, a autora Anita Sethi escreveu que o príncipe Charles comentou durante uma conversa que ela, uma mulher parda, não "parecia" com alguém de Manchester.

Mito nº 2: os Windsors são multibilionários

As histórias de como as famílias reais têm dinheiro são rotineiras. Sim, eles são ricos. Segundo um artigo da "Reader's Digest", o patrimônio líquido do príncipe George, de quatro anos, é de em US$ 3,6 bilhões, e o da princesa Charlotte, de 3 anos, é de US$ 5 bilhões. Um relatório de consultoria de negócios concluiu no ano passado que o patrimônio líquido da família real é de cerca US$ 88 bilhões. A soma astronômica inclui o valor combinado de ativos como o Palácio de Buckingham, a coleção de joias da coroa e a "marca" Windsor, que atrai turistas à Grã-Bretanha a cada ano.

A rainha tem uma fortuna pessoal de cerca de US$ 425 milhões, estimou a agência "Bloomberg" em 2015. A monarca não integrou a lista de 2017 do "Sunday Times" das 300 pessoas mais ricas do Reino Unido. Ela é dona do Castelo de Balmoral, na Escócia, e da Sandringham House, em Norfolk, Inglaterra. Mas residências oficiais, como o Castelo de Windsor, não contam como propriedade privada dela. Fazem parte dos Bens da Coroa, um sistema formalizado em 1760 pelo qual o rei George III cedeu terras e ativos da coroa para o governo em troca de um salário. A rainha não pode vender o Palácio de Buckingham — e ela não é totalmente responsável por sua manutenção. Da mesma forma, embora os integrantes da realeza tenham jóias pessoais, aquelas usadas em coroações e eventos do Estado, como a abertura do Parlamento, passam de monarca para monarca.

Mito nº 3: quando Charles for rei, Camilla, sua mulher, não será rainha

Quando o casal ficou noivo em 2005, a Clarence House (a residência oficial de Charles) anunciou: "Pretende-se que a Sra. Parker Bowles use o título de Princesa Consorte quando o príncipe assumir o trono". O casal procurou assim minimizar as reações negativas dos fãs da princesa Diana e outros ofendidos por seu longo caso, que Diana publicamente culpou pelo fracasso de seu casamento com Charles. Então Camilla tornou-se conhecida como a duquesa da Cornualha, evitando o título de Diana, Princesa de Gales.

No entanto, embora as pesquisas sugiram que muitos britânicos se opõem à ideia de Camilla como rainha, a rainha Elizabeth II sinalizou sua aprovação em 2016 ao adicioná-la ao Conselho Privado, um grupo sênior de conselheiros do soberano. A explicação sobre Camilla se tornar princesa consorte foi removida do site da Clarence House e artigos e biografias de Charles e Camilla sugerem que Charles pretende que sua mulher se torne rainha.

Mito nº 4: o filho de Markle pode ser um nobre e concorrer à Presidência dos EUA

Meghan Markle e o príncipe Harry Crédito: Reprodução/Web

Alguns artigos de revistas e jornais argumentam que qualquer filho de Harry e Markle "poderia ser tanto presidente dos Estados Unidos quanto herdeiro do trono britânico", apontando para uma análise jurídica de 2016 sobre o termo "cidadão nativo" dos EUA. Markle pretende se tornar uma cidadã inglesa, anunciou o Kensington Palace, embora não se saiba se ela pretende manter a cidadania americana. Filhos de americanos, incluindo aqueles com dupla cidadania, possuem status de cidadão americano desde o nascimento.

Mas, sem uma isenção do Congresso, qualquer filho do casal na linha de sucessão entraria em conflito com a cláusula dos emolumentos estrangeiros: o Artigo I, Seção 9 da Constituição americana diz que "nenhuma pessoa ocupando qualquer posto de confiança [nos Estados Unidos], sem o consentimento do Congresso, aceitará qualquer presente, emolumento, ofício ou título, de qualquer espécie, de qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro". Assim, mesmo que a futura prole rompa com a tradição real de evitar a política, ela precisará renunciar ao trono — ou obter permissão especial do Congresso americano — para manter seu título. É difícil imaginar um candidato vencendo uma eleição sem primeiro comprometer-se exclusivamente com os Estados Unidos.

Mito nº 5: é antipatriota se preocupar com o casamento ou com a realeza.

Para alguns, a cobertura do casamento real é mais do que irritante. Depois que o noivado real foi anunciado no ano passado, Sonny Bunchargued, do "Washington Post", disse que os americanos "legitimamente e bravamente derrubaram os senhores do chá, que sobrecarregavam a colônia com impostos, para que não tivéssemos que nos ajoelhar diante do altar das linhagens reais". Na CNN, Moni Basu escreveu recentemente sobre o esforço para entender o interesse dos americanos no casamento: "Afinal, eles não são nossos reis ou rainhas, príncipes e princesas. Nós demos sangue para sermos livres da monarquia britânica".

Muita coisa mudou desde 1776. Os poderes antes exercidos pelos monarcas britânicos estão em grande parte nas mãos do Parlamento. O exército pode ser oficialmente de Sua Majestade, mas não é a rainha quem manda as tropas para a batalha. Quando ela abre uma sessão do Parlamento, lê um discurso escrito pelo governo eleito. Os impostos são coletados em seu nome, mas o poder legislativo define as taxas. O Reino Unido evoluiu de um império de colônias para uma comunidade de governos aliados.

Enquanto isso, o interesse americano na realeza não é novidade: a rainha Elizabeth II, de 92 anos, apareceu pela primeira vez na capa da revista "Time" aos 3 anos de idade, em 1929; o fascínio pelo guarda-roupa da Duquesa de Cambridge não diz respeito à cidadania ou ao governo dos Estados Unidos — e é por isso que muitos gostam disso.

Para os americanos, seguir personagens da nobreza não vem com nenhuma complicação política ou responsabilidade pelos custos da monarquia. Alguns vêem a realeza como um conto de fadas da vida real; outros encaram como uma novela de longa duração. Em uma cultura obcecada por celebridades, para alguns príncipes e princesas são, simplesmente, uma casta superior.

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