Publicado em 8 de junho de 2025 às 07:38
De "portas abertas" à imigração a ordens de expulsão em 20 dias. Esta é, em linhas gerais, a mudança que a política migratória de Portugal sofreu no último ano.>
Em 2 de junho, o governo anunciou a expulsão de 33.983 imigrantes que solicitaram residência no país, mas tiveram o pedido negado. Do total, 5.368 são brasileiros, que vão receber uma notificação para deixar Portugal.>
Desde o ano passado, quando a coligação Aliança Democrática (AD) do primeiro-ministro, Luís Montenegro, assumiu o poder, o governo criou uma força-tarefa para analisar os pedidos de residência de imigrantes estrangeiros.>
Segundo o governo, quase meio milhão de solicitações foram enviadas à Agência para Integração, Migração e Asilo (Aima) com base em um mecanismo de imigração que agora foi abolido pelo governo.>
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Em seu relatório anterior, apresentado no início de maio, a Aima informou que 18 mil estrangeiros haviam sido notificados das ordens de expulsão — agora este número chega a quase 34 mil.>
O governo português disse que está notificando cerca de 2 mil estrangeiros por dia.>
Aqueles que receberem a notificação devem planejar sua saída de Portugal dentro de 20 dias.>
De acordo com o ministro da Presidência do governo português, Antonio Leitão Amaro, a notificação "permite a saída voluntária, e só leva à saída coercitiva após um novo procedimento". O ministro sugeriu que as forças de segurança poderiam ser acionadas para expulsar os notificados.>
O Brasil lidera a lista de nacionalidades que mais solicitaram residência.>
O governo português analisou 73 mil pedidos de residência de brasileiros até o momento. No entanto, o país também lidera a lista de aprovações — 68 mil brasileiros tiveram seus pedidos aprovados. Os 5.386 cujas solicitações foram negadas vão receber agora uma notificação.>
A taxa de rejeição dos brasileiros — ou seja, quantos pedidos foram negados em relação ao número de pedidos analisados — foi de 7,3%.>
A Índia lidera as rejeições. Dos 28 mil indianos que tiveram suas solicitações de residência em Portugal analisadas pelo governo, 46,6% (13 mil) tiveram as solicitações negadas.>
No caso dos cidadãos de Bangladesh, Paquistão e Nepal, a taxa de rejeição foi de uma solicitação negada para cada quatro analisadas — ou seja, aproximadamente 25%.>
Até o ano passado, Portugal tinha um mecanismo para incorporação de cidadãos estrangeiros, chamado "manifestação de interesse". >
Aqueles que estivessem em Portugal para estudar ou procurar trabalho podiam solicitar residência permanente no país.>
No ano passado, o governo eliminou esse mecanismo. Assim, os estrangeiros que desejam viver em Portugal precisam primeiro ter um contrato de trabalho ou uma oferta de emprego no país.>
Esta mudança faz parte da plataforma política do Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, que prometeu maior controle nas fronteiras — e criticou fortemente a política de "portas abertas" do governo anterior, do Partido Socialista, de esquerda.>
A "manifestação de interesse" foi abolida em 3 de junho de 2024, mas o governo continua a analisar pedidos atrasados, que permanecem em vigor por lei.>
Na segunda-feira, o governo português informou que, até junho do ano passado, 446 mil pedidos de manifestação de interesse estavam em análise — dos quais 165 mil foram cancelados por falta de pagamento.>
O governo alegou ter implementado uma "operação administrativa sem precedentes" para analisar esses pedidos atrasados, com a criação de 25 centros de atendimento e a participação de 1,4 mil funcionários públicos e parceiros, multiplicando por sete a capacidade do Estado de lidar com os pedidos.>
Até o momento, 184 mil solicitações foram analisadas — e ainda restam mais 68 mil para analisar.>
Destas, 150 mil solicitações de residência foram aprovadas, o que significa que os migrantes vão poder residir legalmente em Portugal. Outras 34 mil foram rejeitadas.>
Estes 34 mil estrangeiros estão começando a ser notificados agora de que vão ter de deixar o país.>
A imigração e a integração cultural dos imigrantes em Portugal foram o tema central das eleições no país no mês passado, que resultaram num aumento repentino do apoio à direita radical.>
Portugal vem enfrentando um grande aumento do fluxo migratório, o que gerou conflitos culturais e ondas de resistência à imigração, incluindo episódios de xenofobia.>
Na entrevista coletiva de imprensa do governo português, realizada na segunda-feira, o ministro Leitão Amaro afirmou que o grande fluxo de imigrantes constitui "a maior mudança demográfica da nossa história democrática".>
Cerca de 1,5 milhão de estrangeiros vivem em Portugal, quase o triplo do número de há uma década, e representam aproximadamente 14% da população total.>
"O número de imigrantes estrangeiros em Portugal quadruplicou, assim como o número de estudantes estrangeiros nas escolas públicas, a demanda por cuidados básicos de saúde e o número de contribuintes estrangeiros para a segurança social", afirmou o ministro.>
Entre 2015 e 2023, sob o governo do Partido Socialista, Portugal teve um dos regimes de imigração mais abertos da Europa.>
O aumento da chegada de imigrantes — provenientes do Brasil, mas também de países asiáticos — gerou um sentimento anti-imigração.>
"Esta mudança quantitativa também foi acompanhada por uma transformação significativa na natureza [da migração]", disse Leitão Amaro.>
"Nossa história de imigração sempre foi marcada essencialmente por populações imigrantes provenientes de países que falavam a mesma língua, compartilhavam as mesmas tradições e raízes culturais, históricas, linguísticas e religiosas", completou.>
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