Publicado em 22 de agosto de 2024 às 17:07
Existem fãs de música que, agora, conhecem trechos de canções acelerados de 15 segundos melhor do que a versão original.>
Isso se deve a uma tendência emergente nas redes sociais, particularmente no TikTok. Criadores alteram o andamento de canções populares em 25% a 30%, para acompanhar vídeos virais curtos de danças ou outros temas. Estas versões estão até ajudando alguns artistas a subir de posto nas paradas oficiais.>
Em novembro de 2022, fãs prepararam versões aceleradas do single Escapism, da cantora britânica RAYE. Essas versões ajudaram a artista a chegar, pela primeira vez, ao topo da parada oficial britânica, cerca de três meses depois do lançamento original.>
Uma tendência inicial se desenvolveu com base na letra da música, que diz: "O homem que eu amava me fez sentar na noite passada e me disse que estava tudo acabado, decisão estúpida". E os usuários rapidamente postaram sua própria "decisão estúpida" em versões aceleradas da canção.>
>
O fenômeno traz um desafio moderno: como os cantores podem criar a próxima gravação de sucesso se, na verdade, as pessoas ouvem uma versão que pode soar de forma tão diferente?>
O hábito de ouvir canções aceleradas começou no início dos anos 2000, quando surgiram as edições nightcore. Elas foram lançadas por uma dupla de DJs noruegueses do mesmo nome, que aumentavam o tom e a velocidade das canções.>
Agora, estas edições são comuns nos nossos aplicativos de redes sociais, que podem aumentar a velocidade dos podcasts, anotações de voz, filmes e tudo o mais, para podermos consumi-los em menos tempo.>
O Spotify é um exemplo. Em 2023, mais de um terço dos ouvintes dos Estados Unidos acelerava os podcasts e cerca de dois terços ouviam as canções em andamento mais rápido.>
O serviço de streaming confirmou à BBC que está testando atualmente uma nova função, mais geral, que potencialmente poderá nos permitir remixar o andamento das canções e compartilhá-las.>
A escritora Mary Beth Ray, especializada em cultura musical digital, afirma que as plataformas de vídeos curtos como o TikTok "restringem nossas formas de ouvir" em trechos de músicas — mas estas restrições também permitem "vivenciar as canções de forma diferente".>
Para ela, "os clipes curtos oferecem um caminho menor para aquela injeção de dopamina que as redes sociais querem nos fazer sentir. Por isso, existe um elemento viciante para o qual somos conduzidos.">
A DJ Maia Beth, da BBC Rádio 1, acredita que, hoje em dia, é difícil para as gravadoras e para os músicos estabelecidos ignorar esta tendência. "Às vezes, pode parecer que, se eles não lançarem a versão [acelerada], outra pessoa irá fazê-lo", afirma ela.>
Beth reconhece que não consegue se imaginar ouvindo a versão acelerada de uma canção completa. Ela acredita que esta tendência não deverá necessariamente ser uma grande preocupação para os músicos.>
"As versões aceleradas das faixas podem ajudar os artistas a fazer sucesso ou viralizar, mas este sucesso inicial pode não durar muito", segundo Beth, que apresenta o programa Anthems (em inglês), na BBC Radio 1.>
As canções aceleradas ou desaceleradas não oficiais são diferentes do remix profissional. Elas são muito mais curtas e podem ser elaboradas facilmente por qualquer pessoa, incluindo no TikTok, Instagram Reels e em outros aplicativos. Mas algumas das nossas maiores estrelas da música pop estão adotando esta tendência.>
A cantora canadense Nelly Furtado foi 'chamada de volta' a cantar e compor quando seus sucessos viraram tendência no TikTok.>
Em 2022, a cantora americana Summer Walker lançou seu primeiro álbum totalmente acelerado — uma versão remixada do seu álbum de 2018, Last Day of Summer, que surgiu depois de uma tendência dançante no TikTok.>
Billie Eilish também lançou versões oficiais das suas canções, mais lentas e mais rápidas. E as canções de Sabrina Carpenter Please Please Please e Espresso, recordistas na primeira posição das paradas britânicas, receberam tratamento similar.>
O TikTok declarou ter observado aumento da quantidade de versões aceleradas e desaceleradas de músicas de catálogo, que foram retiradas da plataforma e lançadas oficialmente.>
Estes lançamentos oficiais com andamento alterado agora são somados à canção original na Parada Oficial Britânica de Singles, ao lado dos remixes, versões acústicas e ao vivo. Tudo isso ajuda os artistas a subir de posição.>
Mas nem todos estão satisfeitos com esta tendência. A popularidade das versões com velocidade alterada pode fazer com que seja mais difícil diferenciar o original do remix, distorcendo a velocidade, o tom e o clima desejado pelo artista.>
Em março, falando para o podcast A Safe Place, o cantor e rapper americano Lil Yachty declarou ter ficado constrangido quando pediu para retirar versões alternativas da sua canção A Cold Sunday.>
Em outubro de 2022, em um dos shows da turnê Give You The World, do cantor americano Steve Lacy, o público parecia não cantar muito seu sucesso Bad Habit. Algumas pessoas compartilharam vídeos online, indicando que parte da plateia reconhecia melhor a versão popular de um trecho acelerado da canção, do que sua versão original.>
Alguns artistas talvez gostem mais das novas versões do que outros. Mas parece que elas vieram para ficar.>
Para a artista e produtora londrina tonka._.b, de 23 anos, o ajuste da velocidade e do andamento faz parte do seu processo criativo.>
"Gosto de ouvir minhas canções três vezes: aceleradas, lentas e em velocidade normal", ela conta. "Cada uma delas oferece uma sensação totalmente diferente, cada uma delas abre as portas para novos públicos.">
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta