Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 15:44
Imagens de satélite mostram que pelo menos seis navios militares dos EUA estão operando no Caribe desde a última semana, em meio a tensões entre EUA e Venezuela.>
A BBC Verify, serviço de checagem da BBC, identificou outros cinco navios na região como parte da operação militar americana.>
A movimentação ocorre após uma série de ataques aéreos dos EUA contra supostos barcos que transportam drogas no Caribe e no Pacífico Oriental nos últimos meses, considerados pelo governo do presidente americano, Donald Trump, necessários para conter o fluxo de narcóticos.>
Nos últimos dias, houve também novas sinalizações dos EUA sobre uma ofensiva contra a Venezuela. >
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Trump voltou a dizer, na terça-feira (02/12), que uma ação terrestre no país aconteceria "muito em breve".>
"Sabe, por terra é muito mais fácil, muito mais fácil. E nós sabemos as rotas que eles [traficantes] usam. Sabemos tudo sobre eles. Sabemos onde moram. Sabemos onde os caras maus moram, e vamos começar isso muito em breve também", disse o presidente americano em reunião aberta à imprensa na Casa Branca.>
Na quarta (03), o governo americano recomendou a seus cidadãos que não viajem para a Venezuela e, para aqueles que estão no país sul-americano, que tentem sair de lá. >
"Não viaje para a Venezuela nem permaneça no país devido ao alto risco de detenção ilegal, tortura, terrorismo, sequestro, aplicação arbitrária das leis locais, criminalidade, agitação civil e infraestrutura de saúde precária. Recomenda-se fortemente que todos os cidadãos americanos e residentes permanentes legais na Venezuela deixem o país imediatamente", diz um comunicado do governo americano.>
A operação americana inclui milhares de soldados e o maior navio de guerra do mundo, posicionado à distância estratégica da Venezuela, alimentando especulações sobre uma possível ação militar contra a Venezuela.>
A operação militar dos EUA no Caribe começou em agosto com o envio de forças aéreas e navais, incluindo um submarino nuclear e aeronaves de reconhecimento, segundo autoridades americanas.>
Agora, a operação reúne porta-aviões, destróieres com mísseis guiados e navios de assalto anfíbios capazes de desembarcar milhares de soldados.>
A análise de imagens de satélite permitiu identificar pelo menos seis embarcações militares na região na última semana.>
O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior da Marinha americana, estava a cerca de 120km ao sul da República Dominicana em 27/11, aproximadamente 700km da costa venezuelana.>
Em meados de novembro, o navio foi avistado mais a leste, a cerca de 201km ao sul de Porto Rico, território dos EUA no Caribe, e depois navegou para o sul rumo à República Dominicana.>
Com mais de 330 metros de comprimento, o USS Gerald R. Ford opera em um grupo de ataque acompanhado de navios de apoio.>
A BBC Verify também identificou várias outras embarcações próximas ao USS Gerald R. Ford. Além disso, localizou outras embarcações dos EUA no Caribe.>
Entre elas, estão o MV Ocean Trader, um navio de comando de operações especiais, avistado em imagens de satélite em 25/11 entre Porto Rico e a República Dominicana, e um navio da classe USS Antonio, um tipo de transporte anfíbio, visto em 27/11 a 90km ao sul de Porto Rico.>
O navio mais próximo da Venezuela observado foi um navio de reabastecimento de combustível, visto em 27/11 a 480km ao norte da costa venezuelana.>
Imagens de satélite também mostraram outros cinco navios na região do Caribe, mas não foi possível confirmar suas identidades.>
A análise da BBC Verify indica ainda que, em um caso, uma embarcação naval previamente rastreada no Caribe retornou aos EUA e agora está em Key West, na Flórida.>
Não se sabe a razão desses movimentos, mas eles podem ter sido realizados para reabastecimento.>
Os EUA também deslocaram caças F-35 para suas bases no Caribe e realizaram voos de bombardeiros e aeronaves de reconhecimento na região.>
A BBC Verify usou dados de rastreamento de voos para identificar quatro aeronaves militares americanas voando próximas à Venezuela nos dias 20/11 e 21/11.>
Um bombardeiro de longo alcance B-52 dos EUA apareceu brevemente no site de rastreamento Flightradar24 ao largo da Guiana — país vizinho a leste da Venezuela — por volta das 19h45 (horário local) de 20/11.>
Os dados mostram que o bombardeiro, com indicativo TIMEX11, partiu do estado americano de Dakota do Norte naquela tarde e retornou na manhã seguinte.>
Uma aeronave de vigilância da Força Aérea dos EUA — indicativo ALBUS39 — surgiu nos dados de rastreamento de voos pouco após as 18h (horário local) de 20/11, voando por cerca de duas horas perto da costa leste da Venezuela.>
Em horário semelhante, um caça Super Hornet da Marinha dos EUA — indicativo FELIX11 — foi visto circulando ao largo da costa oeste.>
Além disso, um avião-tanque de reabastecimento da Força Aérea dos EUA — indicativo PYRO33 — estava sobre o sul do Caribe por volta das 21h30 (horário local) de 21/11. Em seguida, deixou de transmitir sua posição até ser observado mais tarde seguindo rumo noroeste.>
Em outubro, três bombardeiros B-52 decolaram de uma base aérea na Louisiana e sobrevoaram ao largo da costa da Venezuela antes de retornar, segundo dados de rastreamento de voos do FlightRadar24.>
No mês passado, os dados de rastreamento mostraram que várias aeronaves de reconhecimento P-8 Poseidon voaram rumo ao sul sobre o Caribe a partir de uma base naval dos EUA na Flórida.>
Especialistas afirmam que esses voos indicam que os EUA buscam obter inteligência militar na região.>
"Observamos atividade de P-8A em todo o mundo, em qualquer lugar em que a Marinha americana tenha interesse em reforçar sua consciência do domínio marítimo", diz Henry Ziemer, especialista para as Américas no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês).>
O presidente dos EUA, Donald Trump, também reconheceu ter autorizado a CIA (agência de inteligência americana) a conduzir ações secretas na Venezuela, embora o alcance dessas operações permaneça altamente sigiloso.>
O aumento da presença militar americana gerou preocupações de que o país possa mirar diretamente a Venezuela ou tentar derrubar o governo socialista do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.>
"O nível das forças, e o fato de não estarem claramente voltadas para a simples interdição de drogas, levantou suspeitas de que os EUA podem estar caminhando para a guerra com a Venezuela", afirma Ziemer, do CSIS.>
"Os riscos de escalada são significativos, mas acredito que, dentro da administração Trump, ainda há debate considerável sobre os próximos passos", acrescenta.>
Questionado se os EUA iriam à guerra contra a Venezuela, Trump disse ao programa 60 minutes da CBS em 3 de novembro: "Duvido… Mas eles têm nos tratado muito mal".>
No entanto, em 29/11, o presidente americano afirmou que o espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela deveria ser considerado "totalmente fechado".>
O governo venezuelano acusou os EUA de fomentar tensões na região com o objetivo de derrubar o governo. Em resposta, em novembro, declarou uma "mobilização massiva" de tropas, enviando 200 mil militares pelo país.>
"No geral, acredito que a frequência de ataques a alvos no mar aumentará em breve, enquanto os EUA tentam decidir se podem atacar dentro da Venezuela", diz Ziemer.>
Desde o início de setembro, as forças americanas realizaram pelo menos 21 ataques separados em águas internacionais do Caribe e do Pacífico Oriental, segundo o parceiro da BBC nos EUA, CBS News.>
No total, ao menos 83 pessoas foram mortas, de acordo com declarações de autoridades americanas.>
Embora os EUA não tenham identificado publicamente os mortos, alegam que todos eram "narcoterroristas".>
Uma investigação da agência de notícias americana Associated Press apontou que vários venezuelanos mortos nos ataques eram traficantes de baixo escalão, empurrados pela pobreza para a vida do crime, além de pelo menos um chefe local do crime organizado.>
Trump e membros de seu governo justificaram os ataques como necessários para conter o fluxo de narcóticos da América Latina para os EUA.>
Em comunicado, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse que a campanha — oficialmente chamada de Operação Southern Spear (Lança do Sul, em tradução livre) — tem o objetivo de eliminar "narcoterroristas de nosso hemisfério" e proteger os EUA das "drogas que estão matando nosso povo".>
Em alguns casos, autoridades americanas afirmaram que os alvos estavam ligados à Tren de Aragua, uma gangue venezuelana designada como organização terrorista estrangeira pelo governo Trump no início do ano.>
No entanto, poucas informações sobre os alvos ou sobre a quais organizações de tráfico de drogas pertenciam foram oficialmente divulgadas pelo Pentágono.>
O governo Trump insiste que os ataques são legais, os justificando como medida necessária de autodefesa voltada a salvar vidas americanas.>
Mas alguns especialistas jurídicos afirmam que os ataques podem ser ilegais e violar o direito internacional ao atingirem civis sem garantir o devido processo aos suspeitos.>
Reportagem adicional de Kumar Malhotra, Tom Edgington e Bernd Debusmann Jr. Gráficos de Leo Scutt-Richter.>
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