Publicado em 14 de março de 2024 às 05:29
Os próximos dias de março de 2024 devem ser marcados por calor intenso em diversas regiões do país, com áreas que devem ter ao menos 5°C acima da média mensal.>
Por trás disso estão, por exemplo, fenômenos globais como o El Niño e as mudanças climáticas, mas isso também envolve um processo chamado "domo de calor".>
Também conhecido como bolha de calor ou onda de calor, o fenômeno é marcado pelo aprisionamento de uma grande massa de ar quente numa determinada região, que funciona como uma "tampa" na atmosfera, o que impede a chegada de frentes frias ou chuvas e faz os termômetros subirem drasticamente.>
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão indica que esse sistema atuará pelo centro-sul do Brasil (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) ao longo desta semana, podendo se estender um pouco até o fim de semana.>
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A previsão inicial é de que as principais áreas afetadas com as maiores temperaturas nesta semana no país sejam Mato Grosso do Sul, centro-oeste de São Paulo, áreas entre o oeste do Rio Grande do Sul e o norte do Paraná. Em alguns pontos dessas regiões, as temperaturas podem atingir 40° C, segundo o Inmet.>
Já entre 16 e 20 de março, dia do início do outono, a onda de calor será mais intensa especialmente no Sudeste e no Centro-Oeste.>
“O centro do sistema de alta pressão atmosférica vai se mover gradualmente (nos próximos dias) em direção a São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Nos últimos dias deste verão, este centro de alta pressão ficará sobre o Sudeste”, explica a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo.>
Apesar das previsões, o Inmet frisa que é importante acompanhar o dia a dia das atualizações da previsão do tempo. Isso porque argumenta que as mudanças nos padrões meteorológicos costumam ocorrer muito rapidamente no atual período, entre fim do verão e começo do outono.>
Em meio às previsões de calor intenso no país, muitos podem se perguntar: afinal, como acontece a formação desses "domos de calor" e como eles acabam? A BBC News Brasil explica abaixo.>
A pesquisadora Marina Hirota, professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina, explica que esse fenômeno também é conhecido entre os especialistas como bloqueio atmosférico.>
"E o que isso significa? Na atmosfera, se forma um sistema que impede qualquer outro fenômeno meteorológico, como chuvas ou frentes frias", explica ela.>
"É como se fosse uma grande bolha de ar quente", compara a especialista.>
Essa massa de ar circula de forma vertical, de cima para baixo.>
Para completar, o ar quente não consegue se dissipar porque existe uma alta pressão atmosférica que "empurra" essa massa calorosa para baixo, em direção à superfície terrestre.>
Conforme desce, essa massa de ar quente passa por um processo de compressão, o que gera ainda mais calor.>
Essa região de alta pressão atmosférica funciona praticamente como a tampa de uma panela. Ele retém o calor dentro de um espaço definido — no caso do domo atual, é uma área grande e que abrange vários Estados brasileiros.>
Há uma questão importante nesse fenômeno. "O bloqueio atmosférico pode permanecer por vários dias. E quanto mais ele dura, mais intenso pode ficar", destaca Hirota.>
"Mas não é comum que esse bloqueio atmosférico se prolongue por muitos dias, como está acontecendo agora", acrescenta ela.>
Como a massa de ar quente impede a chegada de nuvens mais densas, outro efeito dela é ampliar a incidência de raios solares. Isso, num cenário de primavera e verão (quando há mais radiação solar), deixa tudo mais quente e seco.>
Hirota destaca que esse tipo de configuração de massas de ar costuma acontecer naturalmente no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil durante o período de inverno.>
"Só que não há um aumento da temperatura, porque há menos radiação solar nesse período", lembra ela.>
"Esses dias são costumeiramente bem abertos, frios, com bastante Sol e poucas nuvens", complementa a pesquisadora.>
Eventualmente, o domo de calor perde força quando há alguma mudança nessa configuração meteorológica, que consegue romper aquela alta pressão atmosférica.>
Com isso, a bolha de ar quente consegue se dissipar — e há um alívio na temperatura.>
Quando o “domos de calor” deixarem o Sul nos próximos dias, por exemplo, segundo a meteorologista Josélia Pegorim, isso permitirá que nuvens carregadas voltem a crescer sobre a região.>
Para o futuro, a projeção é de que fenômenos como os "domos de calor" sejam amplificados, apontam especialistas. Isso ocorre, além das mudanças climáticas, também pela combinação de fatores como desmatamento, queimada e o uso inadequado do solo.>
"Isso favorece que a estiagem e as altas temperaturas prevaleçam, ao inibir as chuvas e diminuir a cobertura de nuvens. Isso leva aos valores extremos de temperatura que observamos a partir de agosto (passado)”, disse o geógrafo Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.>
"O cenário não é nada bom, considerando que tivemos agora o inverno mais quente do Hemisfério Sul", acrescentou Aquino.>
E o que isso significa para o futuro?>
"Teremos mais áreas de alta pressão, que geram menos chuvas e mais ondas de calor", pontuou Aquino.>
Segundo as projeções, o regime de chuvas no país pode passar por uma alteração importante.>
Atualmente, há uma espécie de corredor que liga a Amazônia ao Sudeste e leva umidade para essa região, especialmente entre os meses de primavera e verão (a partir de setembro e outubro).>
"Quando você combina todos esses fatores com o desmatamento, a modificação de áreas de nascente e vegetação nativa, a tendência é que esses fenômenos se amplifiquem", concluiu Aquino.>
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