Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 21:44
A escalada de tensão entre Estados Unidos e Venezuela — com repetidas ameaças de um ataque militar direto feitas pelo presidente americano, Donald Trump — traz ao governo do Brasil os temores de uma crise humanitária na fronteira e de caos no país vizinho, segundo fontes ouvidas pela BBC News Brasil.>
Na terça-feira (16/12), o presidente Donald Trump anunciou, em suas redes sociais, que o país imporia um bloqueio naval sobre navios petroleiros que enfrentam sanções internacionais.>
"A Venezuela está completamente cercada pela maior armada jamais reunida na história da América do Sul. E ela vai apenas ficar maior e o choque sobre eles (Venezuela) será como algo que eles nunca viram antes", disse Trump em uma postagem terça-feira (16/12).>
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram a apreensão de um navio petroleiro venezuelano. >
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A possibilidade de a Venezuela entrar em um caos social generalizado após uma queda repentina do presidente Nicolás Maduro é um dos fatores que estariam impedindo os Estados Unidos, ao menos por enquanto, de dar início a uma ação militar direta ao território venezuelano.>
Essa é a avaliação de parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo uma fonte ouvida pela BBC News Brasil em caráter reservado.>
Este cenário, diz este membro do governo brasileiro, seria semelhante ao que aconteceu na Líbia e no Iraque após as quedas de Muamar Khadafi e Saddam Hussein, respectivamente.>
Os dois países enfrentaram guerras civis após a derrubada dos dois ditadores após ações militares dos Estados Unidos, no caso do Iraque (em 2006), de uma coalizão entre norte-americanos e países europeus, no caso da Líbia (em 2011).>
Ainda de acordo com essa fonte, esse temor explica, em parte, a estratégia adotada pelos Estados Unidos nos últimos dias. >
Em vez de dar início a uma ofensiva amparada nos navios e aeronaves militares à disposição no Mar do Caribe, os Estados Unidos passaram a focar sua ação contra a Venezuela em uma tentativa de sufocar o país financeiramente, dificultando a exportação de petróleo, principal fonte de renda do país.>
A preocupação de Lula com a situação na Venezuela fez com que o presidente abordasse o assunto diretamente com Donald Trump durante as duas últimas conversas que os dois mantiveram por telefone.>
A mais recente aconteceu na terça-feira (2/12).>
Nesta quarta-feira, Lula mencionou a conversa com o líder americano e disse que tentou sensibilizar Trump sobre os possíveis efeitos negativos de uma intervenção militar no país.>
"Eu falei com o presidente Trump: 'O poder da palavra pode valer mais do que o poder da arma'. Custa menos e demora menos se a gente tiver disposição de fazer. Eu disse ao Trump: 'Se você tiver interesse em conversar com a Venezuela corretamente, nós temos como contribuir.' Agora, é preciso ter vontade de conversar, é preciso ter paciência", afirmou Lula.>
A fala de Lula refletiu uma preocupação do governo brasileiro sobre um eventual conflito na Venezuela.>
Segundo um interlocutor do presidente Lula, a pressão americana ainda não foi de "0 a 100 quilômetros por hora", mas as ações do país no Mar do Caribe geram uma tensão contínua sobre o país vizinho.>
O governo brasileiro teme que uma ação militar norte-americana no país cause instabilidade na Veneuzuela e leve a uma nova crise humanitária na fronteira, em Roraima, causada pelo aumento repentino de imigrantes venezuelanos que podem querer fugir do país vizinho.>
Desde o agravamento da situação social e econômica no país, em 2018, o Brasil montou uma operação de assistência humanitária para receber imigrantes venezuelanos. Chamada de "Operação Acolhida", a ação já recebeu mais de 125 mil imigrantes.>
Segundo um interlocutor do presidente Lula, uma queda repentina de Maduro poderia gerar um vácuo de poder momentâneo e não estaria claro que forças políticas teriam condições de liderar o país no dia seguinte.>
Essa preocupação também fez com que Lula mantivesse uma conversa telefônica com Nicolás Maduro na semana passada.>
Foi o primeiro contato direto entre os dois desde 2024, quando o país realizou eleições presidenciais e Maduro foi anunciado como presidente reeleito, mas cujo resultado o Brasil ainda não reconheceu.>
Uma pessoa com conhecimento do teor da conversa disse à BBC News Brasil que o governo brasileiro não se ofereceu para mediar a crise, mas a avaliação no Palácio do Planalto é de que o Brasil estaria bem posicionado para fazê-lo uma vez que, agora, mantém contato direto com os líderes tanto da Venezuela quanto dos Estados Unidos.>
Ainda segundo essa fonte, o governo brasileiro não chegou a oferecer ou a discutir a possibilidade de asilo político a Nicolás Maduro.>
A operação militar dos EUA no Caribe começou em agosto deste ano com o envio de forças aéreas e navais, incluindo um submarino nuclear e aeronaves de reconhecimento, segundo autoridades americanas.>
Em setembro, os militares norte-americanos deram início a ataques aéreos a barcos que navegavam na costa do país sul-americano sob o pretexto de combater o tráfico de drogas.>
Estima-se que pelo menos 80 pessoas já tenham sido mortas nestes ataques.>
O governo norte-americano alega que o governo da Venezuela é responsável pelo envio de drogas para o território americano, acusação rebatida por Nicolás Maduro.>
Agora, a operação reúne porta-aviões, navios do tipo destroyer, e navios de assalto anfíbios capazes de desembarcar milhares de soldados.>
Imagens de satélite identificaram pelo menos seis embarcações militares na região no início de dezembro.>
O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior da Marinha americana, estava a cerca de 120km ao sul da República Dominicana no final de novembro, a aproximadamente 700 quilômetros da costa venezuelana.>
Em meados de novembro, o navio foi avistado mais a leste, a cerca de 201km ao sul de Porto Rico, território dos EUA no Caribe, e depois navegou para o sul rumo à República Dominicana.>
Com mais de 330 metros de comprimento, o USS Gerald R. Ford opera em um grupo de ataque acompanhado de navios de apoio.>
A tensão entre os dois países fez com que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, pedisse, nesta quarta-feira, uma "desescalada imediata" da crise após uma conversa por telefone com Nicolás Maduro.>
Em um comunicado divulgado sobre a conversa, a ONU disse que Guterres pediu "contenção" para "preservar a estabilidade regional".>
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