Publicado em 20 de setembro de 2025 às 11:32
Um grupo de cientistas conseguiu localizar, pela primeira vez, uma espécie de "contador de quilometragem" dentro do cérebro, ao registrar a atividade cerebral de ratos em movimento.>
Soltos em uma pequena arena adaptada ao tamanho dos animais, os pesquisadores monitoraram uma região cerebral conhecida por sua importância na navegação e na memória.>
Eles observaram que células dessa área "disparam" em um padrão semelhante a um medidor de quilometragem de um carro (o chamado hodômetro), marcando tic-tac a cada poucos passos dados pelo animal.>
Um experimento complementar, no qual voluntários humanos caminharam por uma versão ampliada do teste usado com os ratos, sugeriu que o cérebro humano possui o mesmo mecanismo.>
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O estudo, publicado na revista Current Biology, é o primeiro a demonstrar que o disparo regular das chamadas "grid cells" (células de grade) está diretamente ligado à capacidade de estimar corretamente a distância percorrida.>
"Imagine caminhar entre a cozinha e a sala de estar", disse o pesquisador-chefe, James Ainge, da Universidade de St Andrews (Escócia). "[Essas células] estão na parte do cérebro que fornece o mapa interno — a capacidade de se situar mentalmente no ambiente.">
O estudo oferece pistas sobre o funcionamento desse mapa interno e sobre o que ocorre quando ele falha. Ao alterar o ambiente e interromper o som do marcador de quilometragem, ratos e humanos passam a errar a estimativa de distância.>
Na vida real, isso acontece no escuro ou quando a neblina baixa durante uma caminhada. Nesses casos, torna-se mais difícil avaliar a distância percorrida, porque o contador de distância deixa de funcionar de forma confiável.>
Para investigar o fenômeno, os pesquisadores treinaram ratos para percorrer uma distância fixa em uma arena retangular, recompensando-os com um pedaço de cereal de chocolate ao completarem corretamente o percurso e retornarem ao ponto de partida.>
Quando os animais percorriam a distância correta, as células responsáveis por "contar a quilometragem" em seus cérebros disparavam regularmente — aproximadamente a cada 30 cm percorridos.>
"Quanto mais regular era o padrão de disparo, melhor os animais estimavam a distância necessária para obter a recompensa", explicou Ainge, da Universidade de St Andrews.>
Os cientistas conseguiram registrar o contador de quilometragem do cérebro, acompanhando o deslocamento do rato.>
Quando a forma da arena foi alterada, o padrão de disparo tornou-se irregular e os ratos tiveram dificuldade em estimar a distância necessária antes de retornar à recompensa.>
"É fascinante", disse Ainge. "Eles parecem subestimar cronicamente. Quando o sinal não é regular, param cedo demais.">
Os pesquisadores compararam a situação à perda repentina de marcos visuais em meio à neblina.>
"É evidente que navegar na neblina é mais difícil, mas o que talvez não se perceba é que isso também prejudica nossa capacidade de estimar distâncias.">
Para testar o fenômeno em humanos, os cientistas ampliaram o experimento realizado com ratos. Construíram uma arena de 12m por 6m no centro estudantil da universidade e pediram aos voluntários que realizassem a mesma tarefa: percorrer uma distância determinada e retornar ao ponto inicial.>
Assim como os ratos, os participantes humanos estimaram corretamente a distância quando estavam em uma caixa retangular simétrica. Mas, ao alterar a forma da arena, começaram a cometer erros.>
"Ratos e humanos aprendem muito bem a tarefa de estimar distâncias. Quando o ambiente é modificado de forma a distorcer o sinal nos ratos, observa-se exatamente o mesmo padrão de comportamento nos humanos", explicou Ainge.>
Além de revelar aspectos fundamentais sobre como o cérebro permite a navegação, os cientistas afirmam que a descoberta pode ajudar no diagnóstico precoce da doença de Alzheimer.>
"As células cerebrais específicas que estamos registrando estão em uma das primeiras áreas afetadas pelo Alzheimer", explicou Ainge, da Universidade de St Andrews. "Já existem jogos [diagnósticos] que podem ser usados no celular, por exemplo, para testar a navegação. Teríamos muito interesse em desenvolver algo semelhante, mas focado especificamente na estimativa de distâncias.">
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