Publicado em 3 de outubro de 2020 às 21:06
Depois de o médico da Casa Branca, Sean Conley, afirmar neste sábado (3) que Donald Trump, 74, está "passando bem", o chefe de gabinete do presidente dos EUA, Mark Meadows, disse a jornalistas que o líder republicano está passando por um período "muito preocupante" e que as próximas 48 horas serão vitais para a recuperação do americano. >
As informações contraditórias -divulgadas com minutos de diferença e cercadas de polêmicas- deixaram o mundo sem saber qual é o real estado de saúde do presidente americano.>
A declaração de Meadows foi inicialmente repassada sob condição de anonimato a um grupo de jornalistas que tem acesso direto aos eventos oficiais e é responsável por distribuir informações da Casa Branca aos demais repórteres.>
Ao longo do dia, porém, diferentes veículos de imprensa dos EUA confirmaram que o chefe de gabinete era o responsável pela informação.>
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"Os sinais vitais do presidente nas últimas 24 horas foram muito preocupantes e as próximas 48 horas vão ser críticas em termos de seu tratamento", disse Meadows a jornalistas logo após Conley dar uma entrevista coletiva que ia pelo caminho contrário.>
O médico da Casa Branca afirmou instantes antes que não teve febre nas 24 horas anteriores, mas foi evasivo ao ser questionado sobre o uso suplementar de oxigênio pelo presidente e deixou dúvidas sobre a data exata do diagnóstico de Covid-19 dado ao líder republicano.>
"Estamos extremamente felizes com o progresso do presidente", disse, em frente ao hospital militar Walter Reed, para onde Trump foi transferido no fim da tarde de sexta-feira para receber atendimento médico imediato caso seja necessário. Não há, entretanto, segundo o médico, uma previsão de alta para o líder americano.>
De acordo com Conley e outros membros da equipe que atende o presidente, Trump teve febre baixa, tosse e congestão nasal, mas o médico da Casa Branca deu respostas vagas quando questionado se o republicano precisou de oxigênio suplementar.>
Mais de uma vez, Conley afirmou que Trump não estava usando oxigênio neste sábado, mas, diante de perguntas mais específicas dos jornalistas presentes, ele evitou cravar uma resposta definitiva.>
"Quinta-feira, sem oxigênio. Nenhum neste momento, e ontem [sexta-feira (2)], enquanto estávamos todos aqui, ele não estava recebendo oxigênio", disse o médico.>
A afirmação levantou dúvidas sobre o uso de oxigênio suplementar pelo presidente ainda na Casa Branca, antes da internação no hospital militar. O jornal The New York Times afirmou já neste sábado que Trump precisou receber oxigênio na sexta na residência oficial da Presidência e que, por isso, ele foi internado.>
Na tarde de sábado, depois da repercussão do caso, o chefe de gabinete do presidente falou novamente com os jornalistas e adotou um tom mais otimista. "Os médicos estão muito satisfeitos com os sinais vitais [de Trump]. Eu o encontrei por diversas vezes hoje [para debater] vários assuntos", disse Meadows para a agência Reuters.>
Outro ponto que provocou questionamentos foi a data exata do diagnóstico de Covid-19 dado a Trump. O presidente anunciou na madrugada de sexta-feira que ele e sua esposa, Melania, tiveram resultados positivos no teste para coronavírus.>
Durante a entrevista coletiva, entretanto, Conley falou sobre "72 horas do diagnóstico", o que poderia indicar que houve confirmação da contaminação por coronavírus na quarta, mais de um dia antes do anúncio feito pelo presidente e reiterado pela Casa Branca.>
Horas depois, Conley publicou um comunicado em que afirma que usou "incorretamente o termo '72 horas' em vez de "dia três' e '48 horas' em vez de 'dia dois' em relação ao diagnóstico e à administração da terapia de anticorpo policlonal".>
"O presidente recebeu diagnóstico de Covid-19 na noite de quinta-feira, 1º de outubro, e recebeu o coquetel de anticorpos [da empresa farmacêutica] Regeneron na sexta-feira, 2 de outubro", diz o texto divulgado pela Casa Branca.>
O coquetel, conhecido como REGN-COV2, é uma combinação de cópias sintéticas de anticorpos humanos. O medicamento emula a função do sistema imunológico para combater o coronavírus e vem sendo estudado para uso em pacientes nos estágios iniciais da Covid-19.>
Apesar dos aspectos que demandaram esclarecimentos, os médicos procuraram passar uma imagem bastante positiva da evolução do quadro clínico de Trump. Segundo Sean Dooley, outro membro da equipe médica, o presidente está com um "bom humor excepcional".>
"O presidente não está no oxigênio nesta manhã, não tem dificuldades para respirar ou andar", disse Dooley. "Quando estávamos concluindo as rondas multidisciplinares, ele [Trump] disse: 'Acho que posso sair daqui hoje', e esse foi um comentário encorajador vindo do presidente.">
Pouco depois do fim da entrevista coletiva, encerrada abruptamente, Trump usou as redes sociais para dizer que, com a ajuda da equipe médica, está se sentindo bem.>
"Médicos, enfermeiras e todos do grande Centro Médico Walter Reed, e outros de instituições igualmente incríveis que se juntaram a eles, são incríveis!", escreveu o presidente. "Um progresso tremendo foi feito nos últimos seis meses no combate a esta praga. Com a ajuda deles, estou me sentindo bem!">
A equipe médica disse que o presidente continua sendo tratado com remdesivir. Trump tomou a primeira dose nesta sexta e o tratamento completo com o medicamento deve durar um total de cinco dias.>
O remdesivir é um antiviral desenvolvido inicialmente para o combate ao vírus ebola, mas a FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA) autorizou, em agosto, seu uso emergencial para tratamento da Covid-19 em pacientes adultos e crianças.>
O último boletim emitido pela Casa Branca, na noite de sexta, informava que Trump estava "muito bem".>
"Ele não está precisando de oxigênio suplementar, mas em consulta com especialistas, escolhemos iniciar a terapia com remdesivir", diz o comunicado assinado por Conley. "Ele completou sua primeira dose e está descansando confortavelmente.">
Apesar de ter incentivado o uso de hidroxicloroquina e dito que a usava como método de prevenção, o líder americano até agora não tomou o medicamento, cuja eficácia contra o coronavírus não tem comprovação científica.>
Segundo os médicos, Trump está "levemente acima do peso", mas não apresenta fatores de risco que possam agravar a Covid-19. A frequência cardíaca, na faixa dos 70 batimentos por minuto, e a pressão arterial do presidente estão em níveis normais.>
Conley afirmou ainda que a saturação de oxigênio de Trump é de 96%. O número representa a concentração de oxigênio transportada pelo sangue e, em pessoas saudáveis, deve ser igual ou superior a 96%.>
Concentração igual ou inferior a 92% indica alerta para a possibilidade de alguma alteração no transporte de oxigênio pelo organismo. Caso a medição indique porcentagem igual ou inferior a 89%, a falta de oxigenação é considerada grave.>
De acordo com o que a ciência já descobriu sobre os pacientes com coronavírus, entretanto, Trump está dentro do grupo de maior risco, devido a seus 74 anos. Com 1,90 m de altura e 110 kg, seu índice de massa corporal (IMC) é de 30,5, o que o faz ser considerado obeso.>
Desde o anúncio do diagnóstico, Trump recebeu mensagens de diversos líderes mundiais e outras personalidades, incluindo seu adversário na eleição de 3 de novembro, o democrata Joe Biden, e o dirigente chinês, Xi Jinping, com quem o republicano tem travado uma espécie de Guerra Fria 2.0, que envolve questões econômicas e geopolíticas, da pandemia de Covid-19 à autonomia de Hong Kong.>
Ambos desejaram a Trump e Melania uma rápida recuperação, à semelhança de autoridades como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o presidente russo, Vladimir Putin.>
Biden e sua esposa, Jill, também fizeram testes para detecção do coronavírus e os resultados foram negativos. Havia risco de que o democrata tivesse se contaminado durante o debate eleitoral da última terça-feira (29).>
Ainda é cedo, entretanto, para descartar completamente a possibilidade de infecção devido à chamada "janela imunológica". Neste período, o indivíduo pode ter se contaminado, mas o organismo ainda não teve tempo de produzir anticorpos e, portanto, os testes podem apontar falsos resultados negativos.>
Neste sábado, Biden usou as redes sociais para reforçar a orientação sobre o uso de máscaras como prevenção contra o coronavírus. "Usar uma máscara irá protegê-lo. Mas também protegerá aqueles ao seu redor ?sua mãe, seu pai, seu filho, sua filha, seu vizinho, seu colega de trabalho", escreveu o democrata. "Seja um patriota. Faça sua parte.">
Trump foi visto usando máscara em público em raras ocasiões, uma delas nesta sexta quando caminhava, sozinho, até o helicóptero que o levaria ao hospital em Bethesda. Durante o debate, chegou a zombar do adversário democrata dizendo que ele usava uma "máscara grande demais", em mais um exemplo da postura contrária ao conhecimento científico sobre o risco de propagação do coronavírus.>
Na noite de sexta, o ex-presidente Barack Obama e a candidata à vice-presidência na chapa de Biden, Kamala Harris, abriram um evento virtual de campanha novamente expressando solidariedade ao presidente e à primeira-dama.>
"Mesmo quando estamos no meio de grandes batalhas políticas com muita questões em jogo, somos todos americanos e somos todos seres humanos, e queremos ter certeza de que todos estão saudáveis", disse Obama.>
Kamala ofereceu "as mais profundas orações" ao casal e disse que a situação deve ser "um lembrete a todos nós de que devemos permanecer vigilantes e cuidar de nós mesmos e uns dos outros".>
Nas redes sociais, entretanto, muitos usuários tem desejado a morte ou a incapacitação de Trump. O volume de publicações com esse teor levou a equipe de comunicação do Twitter a reforçar a aplicação de uma das políticas da rede.>
"Tuítes que desejam morte, lesões corporais graves ou doenças fatais contra qualquer pessoa não são permitidos e deverão ser removidos", escreveu a equipe.>
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