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Bolsonaro tem alta prevista no Ano Novo após novo procedimento contra soluço

Bolsonaro tem alta prevista no Ano Novo após novo procedimento contra soluço

É a décima cirurgia do ex-presidente desde que sofreu facada, em 2018; seu estado de saúde é acompanhado com atenção por políticos e apoiadores em momento de disputas na direita.

Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 11:29

Imagem BBC Brasil
Carlos Bolsonaro, ao chegar ao hospital onde Bolsonaro está internado Crédito: EPA/Shutterstock

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi submetido na tarde desta segunda-feira (29/12) a uma nova cirurgia para tratar uma persistente crise de soluços.

Segundo a equipe médica informou a jornalistas na porta do hospital DF Star, em Brasília, ele está estável e ficará ao menos 48 horas em observação, com previsão de alta no dia 1º de janeiro.

No sábado (27/12), já tinha sido feito um primeiro procedimento de bloqueio do nervo frênico, responsável por controlar o diafragma. Na ocasião, foi usada anestesia para bloquear o nervo direito. Dessa vez, foi realizado o mesmo procedimento no nervo frênico esquerdo.

Esta é a décima cirurgia à qual Bolsonaro é submetido desde que foi vítima de uma facada durante a campanha nas eleições presidenciais de 2018.

Ele também foi submetido na quinta-feira (25/12) a uma cirurgia para corrigir hérnias na região da virilha. Segundo uma postagem em seu perfil nas redes sociais, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) disse que o procedimento havia sido realizado com sucesso.

Na sequência, porém, a equipe médica decidiu realizar as cirurgias para tratar as crises de soluço que afetam o presidente com frequência.

"Esse tipo de quadro, a gente denomina de soluços persistentes ou intratáveis. São quadros extremamente raros", explicou o cardiologista Brasil Ramos Caiado, um dos médicos que atende o ex-presidente.

"E eles são decorrentes de outras doenças, mais comumente de pós-cirurgia do abdômen, que é um problema que o presidente tem, e também de doenças do trato gastrointestinal, que também ele tem", disse ainda.

Antes da nova cirurgia, Carlos Bolsonaro postou na manhã de segunda-feira que Bolsonaro passou uma noite ruim no hospital.

"Sua pressão arterial estava altíssima e, mais uma vez, os médicos precisaram intervir para controlar o quadro e avaliar a possibilidade de uma nova cirurgia hoje para tentar cessar os soluços. Também foi iniciado o tratamento para a apneia do sono", escreveu Carlos em suas redes sociais.

Já no dia 12 de dezembro, ele compartilhou um vídeo mostrando seu pai tendo uma dessas crises de soluço enquanto dormia. A gravação foi feita antes de ele ser preso em uma cela especial da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, em novembro.

Na ocasião, Carlos voltou a criticar a prisão de Bolsonaro e disse que seu pai poderia morrer caso broncoaspirasse por causa do refluxo constante.

"Ele precisa de cuidados especiais 24 horas por dia, e sua condição só piora. Existem episódios muito mais graves do que os que aparecem nesse vídeo, e eles representam risco real e imediato à sua vida".

"Sem cuidados médicos contínuos, acompanhamento ininterrupto e ambiente adequado, estamos diante de uma tragédia anunciada".

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não atendeu os pedidos da defesa do ex-presidente para reestabelecer a prisão domiciliar devido aos problemas médicos, mas autorizou acompanhamento médico constante a Bolsonaro na prisão, com livre acesso de profissionais de saúde e um atendimento de plantão na Polícia Federal.

O ministro também autorizou a realização das cirurgias nos últimos dias no Hospital DF Star.

Bolsonaro foi preso na Polícia Federal após danificar sua tornozeleira eletrônica com um solda.

Imagem BBC Brasil
Post de Carlos Bolsonaro após a cirurgia realizada para tratar soluços do pai Crédito: Reprodução/Instagram

O que acontece após a nova cirurgia?

A cirurgia de Bolsonaro teve de ser autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo no qual foi condenado em setembro, e aconteceu após um laudo feito pela Polícia Federal recomendar as intervenções.

Para a internação, Moraes determinou um rígido esquema de segurança. Inicialmente, havia autorizado apenas a visita de Michelle, mas alterou sua decisão e permitiu que os filhos do ex-presidente também o visitassem.

De acordo com a equipe médica que acompanha o ex-presidente, Bolsonaro precisou ser submetido a uma nova cirurgia abdominal para corrigir um quadro de hérnia inguinal bilateral.

Uma hérnia acontece quando algum órgão ou tecido "escapa" do abdômen por uma fresta na musculatura. No caso de Bolsonaro, de acordo com o laudo elaborado pela Polícia Federal, o ex-presidente apresenta hérnias nas duas virilhas.

Segundo os peritos da PF, apesar de haver a possibilidade de tratamento não operatório, a maioria dos cirurgiões recomenda a intervenção cirúrgica nos casos de hérnia inguinal para evitar situações mais graves.

Além da cirurgia de hérnia, a equipe médica de Bolsonaro também já havia recomendado uma intervenção para tentar diminuir os quadros de soluço apresentado pelo ex-presidente.

Quando receber alta, Bolsonaro terá que voltar à carceragem Polícia Federal. É lá que vem cumprindo sua pena de 27 anos de prisão por crimes como golpe de Estado e tentativa de abolição ao Estado democrático de Direito. Bolsonaro, no entanto, diz ser inocente.

Imagem BBC Brasil
Bolsonaro foi alvo de uma facada em 2018, durante as eleições presidenciais. Desde então, foi submetido a diversas cirurgias Crédito: Getty Images
Imagem BBC Brasil
Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, fala com jornalistas após deixar a sede da Polícia Federal Crédito: AFP via Getty Images

Disputa no núcleo mais próximo de Bolsonaro

Mesmo preso, Bolsonaro ainda é considerado por analistas políticos como o principal nome da direita brasileira e, por isso, seu estado de saúde vem sendo acompanhado com atenção por políticos e apoiadores.

A nova internação de Bolsonaro tem resultado em gestos políticos em um momento de definições para a direita.

Ao longo dos últimos dias, familiares e apoiadores de Bolsonaro se manifestaram em solidariedade ao ex-presidente, mas também aproveitaram o momento para tratar das eleições de 2026.

As mais recentes aconteceram na véspera de Natal, com a divulgação de um vídeo de aproximadamente cinco minutos em que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pede orações ao marido.

"Peço que continuem orando por ele, pelas famílias injustiçadas e pela nossa nação", disse Michelle no vídeo que foi divulgado nas redes sociais na mesma hora em que foi transmitido um pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em rede nacional de rádio e televisão.

"Não se deixem abater pelas maldades, perseverem apesar das traições, ainda que venham das pessoas mais próximas", citou ela, afirmando que 2026 será "muito importante para o nosso país".

Desde a prisão do marido, Michelle tem testado seu poder de fogo como articuladora política, não sem entrar em rusgas públicas com os filhos de Bolsonaro. Ela diz publicamente que não fala com Carlos, por exemplo.

No entanto, a principal manifestação política em torno da cirurgia de Bolsonaro aconteceu na quinta-feira (25/12), quando Flávio leu uma carta que, segundo ele, teria sido escrita e assinada por seu pai na qual o ex-presidente declara seu apoio formal à candidatura de Flávio à Presidência da República.

"Ao longo da minha vida, tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto, com a minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil", diz um trecho da carta lida por Flávio em frente ao hospital pouco tempo depois de o pai entrar no centro cirúrgico.

"Diante desse cenário de injustiça, e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da república em 2026", segue o texto.

A leitura da carta acontece em meio aos ruídos dentro da direita desde que Flávio anunciou que seu pai teria chancelado sua candidatura.

Desde então, aliados de Jair Bolsonaro como o pastor Silas Malafaia criticaram o movimento.

"Para mostrar a falta de estratégia de Flávio: ele nem primeiro reuniu o partido dele para falar 'tive com meu pai. A conversa foi assim'. [Ele devia] reunir a liderança do centro. Não usar uma rede social e querer botar goela abaixo [a pré-candidatura]. Não é assim não", disse o pastor na semana passada.

O anúncio de Flávio movimentou outros integrantes da direita que esperavam por uma declaração de apoio de Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O governador, no entanto, declarou apoio à candidatura de Flávio e estuda a possibilidade de concorrer à reeleição em São Paulo.

Com informações da reportagem de Leandro Prazeres

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