Publicado em 13 de março de 2025 às 22:43
A Rússia está pronta para parar o conflito na Ucrânia, disse Vladimir Putin nesta quinta-feira (13/03) — mas "há nuances", acrescentou. >
Essas nuances que ele expôs antes de conversas com enviados dos Estados Unidos ao Kremlin são tão importantes para ele que podem acabar com qualquer esperança de um cessar-fogo de 30 dias.>
São exigências que Putin sempre demonstrou desde o início da invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia em 2022. >
Para a Ucrânia e seus parceiros ocidentais, muitas delas se revelarão inaceitáveis ou impossíveis de cumprir.>
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"Concordamos com as propostas para cessar as hostilidades", começou Putin, em tom positivo, para então acrescentar: "Essa interrupção deve ser tal que leve à paz a longo prazo e elimine as causas que são raízes desta crise.">
Ninguém discordaria da necessidade de paz no longo prazo, mas a percepção de Putin sobre as raízes da guerra tem a ver com o desejo da Ucrânia de existir como um Estado soberano, escapando da órbita russa.>
A Ucrânia quer fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia — metas encravadas em sua Constituição. >
O presidente americano Donald Trump já lançou dúvidas sobre a esperança da Ucrânia de se filiar à Otan e Putin várias vezes rejeitou a caracterização da Ucrânia como um Estado.>
E isso está por trás de muitas das nuances que Putin apontou na proposta de cessar-fogo.>
Ele quer impedir a Ucrânia de reforçar seu exército e reabastecer seu estoque de armas, de forma a não ter mais ajuda do Ocidente. >
Putin quer saber quem garantiria que isso seria cumprido. >
Desde o início desta guerra, ele exige a "desmilitarização" da Ucrânia, o que é uma maldição para Kiev e seus aliados.>
Em essência, Putin está buscando garantias de segurança ao contrário.>
A Rússia concordaria em parar de rearmar ou mobilizar suas forças? Isso parece implausível e não houve indício de qualquer concessão por parte de Putin enquanto ele se dirigia aos repórteres no Kremlin.>
O presidente russo acaba de voltar de bom humor da linha de frente em Kursk, uma região de fronteira russa que foi parcialmente ocupada pela Ucrânia desde agosto do ano passado.>
A Rússia tem a vantagem em Kursk. Putin claramente sente que está negociando a partir de uma posição privilegiada, e não quer perdê-la.>
O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta quinta-feira que suas forças reassumiram o controle total da maior cidade que os ucranianos conseguiram tomar, Sudzha. >
Por que a Rússia pararia agora?>
O mesmo aplica-se a toda a linha de frente de 1.000 km onde, segundo Moscou, as tropas russas estão avançando praticamente em todos os trechos.>
Esse não é o caso, pois a maior parte da linha de frente está em disputa, mesmo que a Rússia tenha tido algum sucesso recente no leste.>
Putin acredita que um cessar-fogo de 30 dias privaria a Rússia de sua vantagem e permitiria que os ucranianos se reorganizassem e se rearmassem.>
"Quais são nossas garantias de que não será permitido acontecer isso?", ele perguntou, retoricamente.>
Até o momento, não foi oferecido nenhuma proposta plausível para garantir que os termos de qualquer cessar-fogo se mantivessem.>
Embora 15 países ocidentais tenham oferecido provisoriamente tropas de manutenção da paz, elas só viriam no caso de um acordo de paz final, não de um cessar-fogo.>
Não que a Rússia permitiria esse arranjo de qualquer maneira.>
Dadas todas essas "nuances", Putin parece cético sobre como um cessar-fogo poderia beneficiar a Rússia, especialmente quando suas tropas estão na linha de frente. >
Na agenda da noite desta quinta-feira, estava previsto um encontro de Putin com os enviados de Trump a Moscou, especialmente Steve Witkoff.>
O que quer que aconteça nessas conversas, Putin sabe que, no final das contas, seu diálogo mais importante será com o presidente americano.>
"Acho que precisamos falar com nossos colegas americanos... Talvez ter um telefonema com o presidente Trump e discutir isso com ele", disse Putin.>
Mas o presidente russo já estabeleceu sua posição antes dessas conversas com os americanos — com a mensagem de que o caminho para um cessar-fogo está cheio de condições quase impossíveis de cumprir.>
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