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Alexei Navalny: quem é o opositor de Putin que morreu em prisão

Alexei Navalny: quem é o opositor de Putin que morreu em prisão

No final do ano passado, Navalny havia sido transferido para uma colônia penal no Ártico, considerada uma das prisões mais duras da Rússia

Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 10:21

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Imagem BBC Brasil
Alexei Navalny era o líder da oposição mais famoso da Rússia nos últimos tempos. (Reuters)

O líder da oposição mais importante da Rússia na última década, Alexei Navalny, morreu em uma prisão no Círculo Polar Ártico, informou nesta sexta-feira (16/2) o serviço penitenciário local.

Conhecido por ser o crítico mais veemente do presidente Vladimir Putin, Navalny cumpria uma pena de 19 anos de prisão por condenações consideradas por boa parte da comunidade internacional como sendo de motivação política.

No final do ano passado, ele havia sido transferido para uma colônia penal no Ártico, considerada uma das prisões mais duras da Rússia.

O serviço penitenciário do distrito de Yamalo-Nenets disse que Navalny “não se sentiu bem” depois de uma caminhada na sexta-feira.

Ele "perdeu a consciência quase imediatamente", disse o comunicado, acrescentando que uma equipe médica de emergência foi imediatamente chamada e tentou ressuscitá-lo, mas sem sucesso.

"Os médicos de emergência declararam o prisioneiro morto. A causa da morte está sendo estabelecida."

O advogado de Navalny, Leonid Solovyov, disse à imprensa russa que não comentaria ainda.

Quem era Alexei Navalny?

Navalny ficou conhecido internacionalmente ao expor a corrupção do governo, rotulando o partido Rússia Unida, de Putin, como "o partido dos vigaristas e ladrões". Ao longo de sua vida, ela cumpriu várias penas de prisão e tinha milhões de seguidores nas suas redes sociais.

Em 2011, ele foi detido e encarcerado por 15 dias após protestos contra suposta fraude eleitoral do partido Rússia Unida, de Putin, nas eleições parlamentares.

Navalny foi brevemente preso em julho de 2013 sob a acusação de peculato (apropriação de bens públicos), mas ele disse que a sentença era uma condenação política.

Ele tentou concorrer a presidente da Rússia em 2018, mas foi barrado por causa de condenações anteriores por fraude em um caso que ele novamente disse ter motivação política.

Navalny foi condenado a 30 dias de prisão em julho de 2019, após convocar protestos não autorizados.

Quando estava na prisão, ele adoeceu. Os médicos o diagnosticaram com "dermatite de contato", mas ele disse que nunca teve nenhuma reação alérgica aguda e seu próprio médico sugeriu que ele pode ter sido exposto a "algum agente tóxico".

Navalny disse na ocasião que podia ter sido envenenado.

Navalny também sofreu uma grave queimadura química no olho direito em 2017, depois de ter sido atacado com um corante antisséptico.

Em 2019, sua Fundação Anticorrupção foi oficialmente declarada um "agente estrangeiro", permitindo que as autoridades a submetessem a maiores controles estatais.

Envenenamento na cueca

Em agosto de 2020, Navalny passou mal durante um voo da Sibéria para Moscou e o avião precisou fazer um pouso de emergência na cidade de Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI. Depois, após negociações de alto nível com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e tratado lá enquanto era mantido em coma induzido.

O governo alemão disse que Navalny havia sido envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo estivesse por trás do envenenamento. O Kremlin sempre negou essas acusações.

Conhecidas como agentes neurotóxicos, essas substâncias são usadas em pó ou em forma líquida. E são tão perigosas que só podem ser fabricadas em laboratórios avançados, que são em grande maioria de propriedade de governos, ou controlados por eles.

Inicialmente, acreditava-se que o envenenamento teria ocorrido por meio do chá que Navalny bebeu naquele dia. No entanto, depois que se recuperou, ele rastreou os indivíduos que acreditava terem participado do atentado. Passando-se por uma autoridade da área de segurança, Navalny conseguiu enganar um expert em armas que teria admitido que o caso foi mesmo de envenenamento.

E a maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O governo russo negou novamente as acusações.

Ainda na Alemanha, Navalny relatou que sentiu calafrios inicialmente e nenhuma dor.

"Não dói nada, não é como um ataque de pânico ou algum tipo de transtorno. No começo você sabe que algo está errado, e em seguida seu único pensamento passa a ser: 'É isso, vou morrer.' "

Em janeiro de 2021, Navalny voltou para a Rússia, pela primeira vez desde que havia sido envenenado, e foi detido logo após desembarcar em Moscou. O motivo é que ele teria violado condições de uma sentença de liberdade de anos atrás.

Em seguida, um tribunal de Moscou sentenciou Navalny a três anos e meio de prisão por violar as condições de uma pena suspensa, ao não se apresentar regularmente para autoridade penitenciárias.

A prisão de Navalny gerou uma onda de protestos pela sua libertação e contra o Kremlin. Milhares de pessoas protestaram em toda a Rússia, apesar da forte presença policial. Houve cenas violentas em Moscou.

A sentença foi condenada pela União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, que pediram que o líder da oposição fosse imediatamente libertado.

Depois de sua prisão, Navalny acusou Putin de ter usado recursos ilícitos para construir uma extravagante mansão no Mar Negro — avaliada em R$ 7,2 bilhões e 39 vezes o tamanho do principado de Mônaco.

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