Publicado em 13 de novembro de 2025 às 21:23
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, se reuniram por cerca de uma hora nesta quinta-feira (13/11), na sede do Departamento de Estado, em Washington, para discutir as negociações sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.>
Inicialmente, os dois chanceleres se reuniram privadamente. Depois, diplomatas de ambos os lados também participaram das conversas.>
"Discutimos todos os temas da relação bilateral neste momento", disse Vieira em conversa com jornalistas após o encontro, sem detalhar os pontos abordados. >
Segundo Vieira, a conversa foi sobre um "marco geral" para abrir as portas para um acordo, não sobre questões específicas.>
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O chanceler também disse ser possível chegar a um acordo provisório até o final deste mês ou início de dezembro, que levaria a negociações mais amplas nos próximos meses.>
"[Um acordo] que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação, que poderia durar dois ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países", disse.>
O ministro brasileiro disse que, em 4 de novembro, em uma reunião virtual em nível técnico, foi apresentada uma proposta aos americanos, que seria "uma resposta à primeira proposta que eles apresentaram, em 16 de outubro".>
"É uma resposta à primeira lista de temas que eles [os americanos] nos apresentaram quando eu estive aqui em 16 de outubro", disse, ressaltando que uma resposta dos EUA pode vir nos próximos dias.>
"Estamos esperando que eles nos respondam. O secretário de Estado disse que estão examinando com toda atenção, que querem resolver rapidamente as questões bilaterais com o Brasil, e que a resposta virá muito proximamente, amanhã ou na próxima semana", afirmou.>
"O importante é dizer que é uma demonstração de interesse do governo americano de solucionar as questões ainda pendentes na relação com o Brasil", disse o chanceler. >
"Um sinal de desejo de solucionar, de dar a volta nessa página e de se aproximar com o Brasil.">
Segundo Vieira, Rubio disse que, antes do encontro, comentou com Trump sobre a reunião, e que o presidente americano reforçou que havia "gostado muito" do encontro que teve com Lula na Malásia.>
Nesta quinta, a Casa Branca anunciou acordos de comércio com quatro países latino-americanos: Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala.>
Na terça, Trump havia mencionado em entrevista à Fox News uma possível redução em tarifas sobre o café, sem citar o Brasil ou quais países seriam beneficiados.>
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo, e um terço é importado do Brasil. Trump já havia dito a Lula, durante o telefonema em outubro, que os americanos sentiam falta do café brasileiro.>
Este foi o segundo contato presencial entre os dois chanceleres nesta semana. Na quarta-feira (12/11), Vieira e Rubio conversaram brevemente em Niágara, no Canadá, à margem da reunião do G7 (grupo dos países mais desenvolvidos do mundo).>
Anteriormente, em 16 de outubro, ambos já haviam se reunido na Casa Branca para dar início ao processo de negociação, no qual o Brasil busca reverter medidas adotadas pelo governo americano contra o país desde julho, entre elas tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros exportados aos EUA.>
Os contatos desta semana ocorrem após um encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Donald Trump, no fim de outubro, na Malásia, durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).>
Na ocasião, Lula entregou a Trump um documento com reivindicações do Brasil, incluindo a retirada das tarifas e de punições aplicadas contra autoridades brasileiras.>
Após aquele encontro, Lula disse que a expectativa era de uma solução "em poucos dias". >
Chegou a cogitar-se que uma equipe brasileira, formada por Vieira, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pudesse viajar aos EUA já na semana seguinte para negociações de alto nível com os americanos.>
No entanto, desde então as negociações entre os dois países sobre o tema haviam sido somente em nível técnico. Enquanto isso, as medidas contra o Brasil continuam em vigor.>
O encontro entre Lula e Trump na Malásia ocorreu após meses de tensão entre os dois países. >
A crise foi desencadeada a partir de julho, quando os EUA começaram a anunciar medidas contra o Brasil em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico do presidente americano.>
Além das tarifas sobre produtos brasileiros, anunciadas em julho e em vigor desde 6 de agosto, também foram aplicadas restrições de vistos a autoridades brasileiras e sanções financeiras pela Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua mulher, Viviane Barci de Moraes.>
Ainda em julho, em paralelo ao anúncio das tarifas, o escritório do representante de comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) abriu uma investigação contra o Brasil por supostas práticas desleais de comércio.>
Foi somente no fim de setembro que se abriu uma oportunidade de destravar as negociações, após uma breve interação de menos de um minuto entre Lula e Trump nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.>
Ambos trocaram algumas palavras e até um abraço e, alguns dias depois, em 6 de outubro, conversaram por 30 minutos por videoconferência.>
Nessa conversa, e novamente no encontro na Malásia, Lula pediu a Trump a retirada da sobretaxa a produtos brasileiros e das medidas restritivas contra autoridades do Brasil.>
O presidente brasileiro argumentou que as tarifas foram aplicadas com base em informações equivocadas, já que os EUA têm superávit comercial com o Brasil.>
No entanto, em diversas ocasiões ao longo dos últimos meses, o governo Trump deixou claro que as medidas contra o Brasil tinham natureza política.>
O governo brasileiro, por sua vez, sempre salientou que a questão política não era negociável e que o julgamento e condenação de Bolsonaro são temas de responsabilidade do Judiciário, não do Executivo.>
Bolsonaro foi condenado em setembro pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado após perder a eleição de 2022.>
Há uma série de temas de interesse dos EUA que poderiam levar a um acordo, entre eles a abertura do mercado brasileiro para o etanol americano, o acesso à exploração de minerais críticos e a regulação das big techs no Brasil, que é alvo de críticas e preocupação por parte do governo Trump.>
Além da questão comercial, outro tema importante neste momento é a Venezuela. Os Estados Unidos vêm aumentando sua presença naval e militar na região e atacando embarcações sob a acusação de tráfico de drogas.>
No mês passado, no encontro na Malásia, Lula chegou a se oferecer para ser um "interlocutor" entre EUA e Venezuela. No entanto, Vieira não informou se o tema foi discutido na reunião desta quinta.>
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