Publicado em 26 de agosto de 2025 às 17:25
"Ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis." O Itamaraty classificou assim as declarações de um ministro do governo de Benjamin Netanyahu que chamou Lula de "antissemita", em uma nova troca de ofensas entre os dois países.>
A declaração do governo brasileiro foi feita em uma publicação no perfil do Ministério das Relações Exteriores (MRE) no X (antigo Twitter), no início da tarde desta terça-feira (26/8). >
"O Ministro da Defesa e ex-chanceler israelense, Israel Katz, voltou a proferir ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis contra o Brasil e o Presidente Lula", diz um trecho da publicação. >
A resposta brasileira aconteceu após Katz criticar o governo brasileiro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acusando-o de ser um "apoiador do Hamas" em uma postagem nas suas redes sociais. >
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"Agora ele [Lula] revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas", disse Katz. >
A publicação de Katz acontece após o governo brasileiro se retirar da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). A saída do Brasil da organização aconteceu em meio ao estremecimento das relações entre os dois países. >
Na postagem, Katz publicou uma foto de Lula modificada como se ele fosse uma marionete do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, um dos maiores adversários políticos de Israel. >
Na resposta brasileira, o Itamaraty volta a acusar Israel de genocídio contra o povo palestino. >
"Como Ministro da Defesa, o senhor Katz não pode se eximir de sua responsabilidade, cabendo-lhe assegurar que seu país não apenas previna, mas também impeça a prática de genocídio contra os palestinos.">
A resposta do Brasil às declarações de Katz também veio após o jornal Haaretz, um dos mais importantes e antigos do país e que faz uma cobertura crítica da guerra em Gaza, publicar uma reportagem informando que Israel teria "rebaixado" as relações bilaterais com o Brasil. >
Segundo a reportagem, o motivo teria sido a falta de resposta do governo Lula à indicação de Gali Dagan ao cargo de embaixador no Brasil, deixando de conceder o agrément — consentimento à nomeação de um diplomata estrangeiro para atuar em seu território. O posto está vago há duas semanas.>
"Após o Brasil, excepcionalmente, recusar-se a atender a um pedido de reunião do Embaixador Dagan, Israel retirou o pedido e as relações entre os países passaram a ser conduzidas em um nível diplomático inferior", disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel ao Haaretz.>
O ministério israelense acrescentou que "continua mantendo contato próximo com os diversos círculos de amigos que Israel mantém no Brasil".>
No entanto, um diplomata brasileiro ouvido em caráter reservado pela BBC News Brasil afirmou que o governo brasileiro não teria sido comunicado formalmente sobre a decisão do governo israelense. Além disso, a fonte informou que a figura do "rebaixamento" no nível das relações entre países não existe formalmente. >
A fonte disse ainda que, na prática, tanto a embaixada brasileira em Tel Aviv quando a embaixada de Israel em Brasília continuam funcionando, ainda que sem a presença de embaixadores. >
A BBC News Brasil pediu posicionamento oficial do governo israelense, e atualizará o texto em caso de resposta.>
A troca de críticas entre Brasil e Israel nas últimas 24 horas é o mais recente episódio de uma longa lista que marca a deterioração das relações entre os dois países desde que Lula assumiu o governo. >
Mais recentemente, o governo brasileiro aderiu a uma ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), da Organização das Nações Unidas (ONU).>
Desde o ano passado, Lula é considerado persona non grata pelo governo israelense. Na diplomacia, esta é uma das medidas mais graves de descontentamento de um país em relação a outro.>
Quem anunciou que Lula não era mais bem-vindo em Israel foi o mesmo Israel Katz, que agora volta ao atacar Lula, em uma reunião com o então embaixador do Brasil no país, Frederico Meyer, no Museu do Holocausto.>
Pouco antes, Lula havia comparado a ofensiva israelense contra Gaza ao Holocausto — quando milhões de judeus foram mortos e perseguidos pelos nazistas.>
Na ocasião, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a comparação havia ultrapassado uma "linha vermelha".>
O governo brasileiro considerou a situação em que Meyer foi colocado como um insulto ao país.>
Em maio de 2024, Lula decidiu retirar Meyer de Israel, que não tem um embaixador brasileiro no posto até hoje.>
O governo brasileiro também não respondeu à indicação de um novo embaixador por Israel.>
Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República e ex-chanceler, disse à TV Globo que o Brasil não vetou o nome.>
"Pediram um agrément e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?", questionou Amorim.>
Amorim afirmou ainda que o Brasil não é contra Israel, mas contra a política do atual governo.>
"Queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade. Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo.">
Netanyahu diz que as acusações de genocídio em Gaza são "uma campanha de mentiras".>
A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro. Na ocasião, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas para Gaza como reféns.>
Israel respondeu com uma grande ofensiva militar que dura até hoje e matou mais de 62.744 pessoas no território palestino, segundo dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas (e considerados confiáveis pelas Nações Unidas).>
O governo Netanyahu tem sido cada vez mais criticado pela crise humanitária desencadeada por sua ofensiva em Gaza, onde seus moradores passam fome, segundo a ONU.>
Isso levou uma série de países a reconhecer que reconhecerão o Estado Palestino ou a dizer que farão isso, entre eles França, Canadá, Reino Unido, Portugal, Espanha e Noruega.>
Atualmente, 147 dos 193 Estados-membros da ONU fazem esse reconhecimento formal — o Brasil é um deles desde 2010. Israel se opõe fortemente à proposta.>
O Brasil também enfrenta uma grave crise diplomática com os Estados Unidos, o principal aliado de Israel na ofensiva em Gaza. >
As relações entre os países se deterioraram principalmente a partir de julho, quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportado ao país.>
A ofensiva seguiu com a aplicação de sanções a autoridades brasileiras, como Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Global Magnitsky.>
No início do ano, Trump ventilou um plano para os EUA tomarem o controle da Faixa de Gaza e reassentarem os palestinos em outro local. A proposta precisaria da cooperação dos Estados árabes, que rejeitaram a proposta.>
Os EUA também apoiaram Israel nos ataques contra o Irã, em junho.>
O presidente americano mantém boa relação com Netanyahu, que em julho chegou a dizer que vai indicar Trump para o Prêmio Nobel da Paz.>
*Com informações de Mariana Alvim e Rute Pina>
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