Publicado em 11 de julho de 2025 às 15:39
Se Arpineh Masihi pudesse votar, ela teria votado em Donald Trump. Ela é uma defensora devota do presidente dos Estados Unidos — até mesmo agora, que está detida como imigrante ilegal.>
"Ele está fazendo a coisa certa porque muitas dessas pessoas não merecem estar aqui", disse Arpineh à BBC News por telefone, falando do centro de detenção de imigrantes de Adelanto, no Deserto de Mojave, na Califórnia.>
"Eu o apoiarei até o dia da minha morte. Ele está tornando os EUA grande novamente.">
A 96 quilômetros de distância, em sua casa em Diamond Bar, uma rica cidade suburbana no leste do condado de Los Angeles, uma bandeira de Trump tremula no jardim. Bonés com a inscrição "Maga" (acrônimo para Make America Great Again, ou Torne a América Grande Novamente, lema do movimento trumpista) decoram uma prateleira ao lado de um álbum de fotos da família, enquanto pássaros de estimação cantam em uma gaiola.>
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É uma casa animada, com três cachorros e quatro crianças pequenas, e o marido e a mãe de Arpineh estão com os olhos cansados e exaustos de preocupação, tentando manter a calma.>
"Nosso lar está destruído", diz Arthur Sahakyan, marido de Arpineh.>
Em muitos aspectos, Arpineh, de 39 anos, é uma história de sucesso americana — um excelente exemplo de como o país dá às pessoas uma segunda ou até mesmo uma terceira chance. A mãe de Arpineh se emociona ao falar sobre a filha, que vive nos EUA desde os três anos.>
Ela passou por uma fase difícil há muitos anos, em 2008, quando foi condenada por furto qualificado e roubo e recebeu uma pena de dois anos de prisão. Um juiz de imigração revogou seu green card (o cartão de residência permanente nos EUA), o que é uma prática comum. Mas como ela é uma iraniana cristã de origem armênia, o juiz permitiu que ela permanecesse no país em vez de ser deportada.>
"Somos cristãos. Ela não pode voltar, de jeito nenhum", diz Arthur, enquanto sua filha de 4 anos entra e sai correndo do quarto. Ele teme que a vida dela corra risco se for mandada de volta ao Irã.>
Mas, desde que foi liberta da prisão, Arpineh reconstruiu sua vida, começando um negócio bem-sucedido e uma família, entre centenas de milhares de imigrantes iranianos que chamam o sul da Califórnia de lar.>
O oeste de Los Angeles — muitas vezes chamado de Tehrangeles (em referência a Tehran, nome da capital iraniana em inglês — tem a maior população de iranianos fora do Irã.>
Alguns, como Arpineh, foram detidos nas últimas semanas, durante as batidas de imigração que deixaram a cidade em alerta. Embora a maioria das pessoas detidas em Los Angeles seja do México, as atualizações diárias do Departamento de Segurança Interna mostram que imigrantes de praticamente todos os cantos do mundo foram presos.>
Trump foi eleito em parte por causa da promessa de "lançar o maior programa de deportação de criminosos da história" — uma promessa na qual Arpineh, seu marido e sua mãe ainda dizem que acreditam.>
No entanto, sua família diz que tem fé que Arpineh vai ser liberta, e acredita que somente os criminosos mais perigosos vão ser de fato deportados.>
"Eu não culpo Trump, eu culpo Biden", diz Arthur. "A fronteira aberta é obra dele, mas acredito no sistema, e que todas as pessoas boas serão libertas, e as ruins serão mandadas de volta.">
Embora muitos dos detidos não tenham antecedentes criminais, Aprineh é uma criminosa condenada, o que a torna um alvo preferencial para remoção.>
O Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês ) não respondeu a um pedido de comentário sobre o caso de Arpineh.>
Arthur diz que não sabe detalhes sobre o crime. Eles conversaram brevemente sobre isso antes de se casarem, e depois ele se esqueceu do que considerava um vacilo juvenil da esposa.>
Em vez disso, ele se concentra nas boas ações dela nos últimos 17 anos, trabalhando como voluntária no distrito escolar local e levando comida para bombeiros e policiais.>
"Todos nós cometemos erros", diz ele.>
Então, quando o ICE telefonou para Arpineh em 30 de junho, enquanto a família tomava café da manhã, o casal pensou que fosse uma piada.>
Mas a polícia de imigração chegou na casa deles 30 minutos depois. >
Apesar das placas espalhadas por todo o condado de Los Angeles pedindo aos imigrantes que "conhecessem seus direitos" e não abrissem a porta para os agentes de imigração, o casal saiu para falar com os policiais.>
Arpineh explicou que um juiz havia permitido que ela ficasse nos EUA por causa da situação no Irã, desde que não cometesse nenhum outro crime e se apresentasse com frequência aos agentes de imigração. A última vez foi em abril, ela se apresentou a eles, apresentando sua documentação.>
Arthur contou que até os convidou para entrar na casa, mas eles recusaram.>
Os agentes de imigração disseram a ela que as circunstâncias haviam mudado e que tinham um mandado de prisão contra ela.>
Eles permitiram que ela voltasse para dentro de casa e se despedisse dos filhos — de 14, 11, 10 e 4 anos. E disseram que, se ela não saísse de novo, eles a pegariam em algum momento.>
"Eles nos disseram que, não importa o que aconteça, nós vamos te pegar — talvez quando você estiver dirigindo na rua com seus filhos —, então pensamos no que estávamos vendo no noticiário: bombas de efeito moral, carros sendo fechados", diz Arthur. Eles não queriam arriscar que ela fosse detida de forma violenta, possivelmente com as crianças assistindo.>
"Ela entrou e deu um beijo de despedida nas crianças", ele recorda. "Ela saiu como uma campeã, e disse: 'Estou aqui'.">
Arthur pediu aos agentes de imigração que não algemassem a esposa. Eles disseram que isso não era possível, mas concordaram em fazer isso do outro lado do veículo para que os filhos do casal não vissem.>
"Eu sabia que meus filhos estavam assistindo lá de cima", diz ele. "Não queria que eles vissem a mãe algemada.">
Arpineh foi levada então para um prédio federal no centro de Los Angeles, um centro usado pelo ICE para processar as pessoas presas nas batidas em andamento na região. O prédio se tornou o centro de protestos, às vezes violentos, contra o ICE, que tomaram conta de Los Angeles por semanas.>
Ela afirma que as pessoas detidas no prédio "eram tratadas como animais".>
Arpineh disse à BBC que ficou presa em uma sala gelada e bem iluminada com outras 28 mulheres por três dias. Segundo ela, elas sobreviveram com lanches e uma garrafa de água por dia, se amontoando para se aquecer e dormindo no chão.>
Como Arpineh fala três idiomas — armênio, espanhol e inglês —, ela conseguiu se comunicar com muitas das outras mulheres, e diz que elas se ajudavam mutuamente.>
Três dias depois, ela foi transferida para Adelanto, o centro de detenção privado do ICE no deserto a nordeste de Los Angeles, que tem a reputação de oferecer condições severas, semelhantes às de uma prisão.>
Mas Arpineh diz que é muito melhor do que o que elas enfrentaram no centro de Los Angeles — agora ela faz três refeições por dia, tem acesso a chuveiros e uma cama. Embora tenha ouvido falar que é difícil conseguir tratamento médico se você precisar, Arpineh é jovem e saudável.>
"Mas ainda é muito desafiador", diz ela.>
Ela e o marido dizem que ainda têm fé no governo Trump e acreditam que ela vai ser liberta.>
"Não sou deportável para nenhum país," disse Arpineh à BBC do centro de detenção.>
Mas isso não impediu as autoridades de imigração no passado. Em fevereiro, um grupo de cristãos iranianos que havia acabado de cruzar a fronteira do México foi deportado — mas para o Panamá, não para o Irã.>
Arpineh continua esperançosa em relação a um indulto, mas observa que também se sentiu desanimada.>
Ela diz que ama os EUA e que se sente americana, mesmo que não tenha a documentação necessária.>
Ela liga para o marido a cobrar uma vez por hora para que possam compartilhar atualizações sobre seu processo, embora até agora não haja muito o que compartilhar. Os filhos mais velhos entendem o que está acontecendo, mas a filha de 4 anos fica perguntando quando a mamãe vai voltar para casa, diz ele.>
Todos os quatro filhos são cidadãos americanos, nascidos e criados na Califórnia. O casal acredita que as autoridades vão levar isso em consideração ao decidir o destino de Arpineh.>
"Tenho quatro filhos cidadãos. Tenho um negócio. Tenho uma propriedade. Tenho carros", diz Arpineh. >
"Não fiz nada de errado em tantos anos.">
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