Publicado em 22 de junho de 2024 às 17:46
A Coreia do Norte está construindo trechos do que parece ser uma muro em vários locais perto da sua fronteira com a Coreia do Sul, revelam novas imagens de satélite.>
Imagens analisadas pela equipe da BBC Verify também mostram que foram abertas áreas dentro do terreno da chamada Zona Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), o que os especialistas dizem que pode ser uma violação da trégua de longa data com a Coreia do Sul.>
A DMZ é uma zona tampão de quatro quilômetros de largura entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul — ainda tecnicamente em guerra, uma vez que nunca assinaram um tratado de paz. A DMZ é dividida em duas, sendo cada lado controlado pelas respectivas nações.>
Esta atividade recente é "incomum", segundo os especialistas, e acontece em um momento de tensão crescente entre os dois países.>
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"Neste momento, só podemos especular que a Coreia do Norte está tentando reforçar sua presença militar e fortificações ao longo da fronteira", diz Shreyas Reddy, correspondente do site especializado NK News, baseado em Seul.>
A BBC Verify encomendou imagens de satélite de alta resolução de um trecho de sete quilômetros da fronteira como parte de um projeto para analisar as mudanças que a Coreia do Norte estava fazendo na área.>
Estas imagens parecem mostrar pelo menos três trechos em que barreiras foram erguidas perto da DMZ, cobrindo um total de aproximadamente 1 km perto do extremo leste da fronteira.>
É possível que tenha havido mais construção de barreiras ao longo de outros trechos da fronteira.>
A data exata do início da construção não é clara devido à falta de imagens prévias da área em alta resolução. No entanto, estas estruturas não eram visíveis em uma imagem captada em novembro de 2023.>
"Minha avaliação pessoal é que esta é a primeira vez que eles constroem uma barreira no sentido de separar os espaço um do outro", disse à BBC Uk Yang, especialista em questões militares e de defesa do Instituto Asan de Estudos Políticos de Seul, na Coreia do Sul.>
"Na década de 1990, a Coreia do Norte tinha construído muros antitanque para impedir o avanço dos tanques no caso de estourar uma guerra. Mas nos incidentes recentes, a Coreia do Norte está construindo muros de 2 a 3 metros de altura, e não se parecem com os muros antitanque", observa Yang.>
"A forma das paredes sugere que não são apenas obstáculos [para tanques], mas que se destinam a dividir uma área", acrescenta o especialista, que analisou as imagens de satélite.>
Há também evidências de que áreas foram abertas no terreno do lado norte-coreano da DMZ.>
As imagens de satélite mais recentes da extremidade leste da fronteira mostram o que parece ser uma estrada de acesso recém-criada.>
Ao traçar o limite preciso da DMZ ao norte no mapa acima, adotamos a pesquisa feita pela BBC sobre mapeamento de fronteiras. >
Fizemos isso porque existem pequenas variações nos mapas disponíveis da fronteira. No entanto, todas as versões que encontramos mostram a liberação de terreno ocorrendo dentro da DMZ.>
Uma autoridade do Estado-Maior Conjunto (JCS, na sigla em inglês) da Coreia do Sul disse em uma entrevista recente que os militares haviam identificado atividades em curso relacionadas com o "reforço de estradas táticas, a instalação de minas e a limpeza de terrenos abandonados".>
"A abertura de espaços no terreno poderia ser destinada tanto a aspectos militares como não militares", avalia Kil Joo Ban, professor de segurança internacional na Universidade da Coreia.>
"Isso permite que postos de observação sejam facilmente estabelecidos, para que a Coreia do Norte monitore as atividades militares na Coreia do Sul", diz ele, e detecte "desertores que tentam cruzar a fronteira para a Coreia do Sul".>
"É incomum construir estruturas na DMZ e pode ser uma violação do armistício sem consulta prévia", observa Victor Cha, vice-presidente para Ásia e Coreia, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.>
A Guerra da Coreia terminou em 1953 com um armistício, no qual ambos os lados se comprometeram a não "executar qualquer ato hostil dentro, a partir, ou contra a zona desmilitarizada". Mas não houve um acordo de paz final.>
Embora a reunificação tenha parecido improvável ao longo dos anos, este sempre foi o objetivo declarado dos líderes norte-coreanos até o início de 2024, quando Kim Jong Un descartou publicamente a histórica ambição.>
Alguns especialistas consideraram a declaração "sem precedentes" e observaram uma mudança de política significativa quando Kim rotulou a Coreia do Sul como "principal inimigo" no início deste ano.>
Desde então, o Norte também começou a remover símbolos que representam a unidade dos dois países — demolindo monumentos e apagando referências à reunificação em sites do governo.>
"A Coreia do Norte não precisa realmente de mais barreiras para evitar um ataque do Sul, mas ao erguer estas barreiras na fronteira, o Norte está sinalizando que não busca a reunificação", afirma Ramon Pacheco Pardo, chefe do departamento de Estudos Europeus e Internacionais da Universidade Kings College London, no Reino Unido.>
Alguns especialistas também dizem que isso está alinhado com as ações mais amplas de Kim.>
"A Coreia do Norte nem sequer finge querer negociar com os Estados Unidos ou a Coreia do Sul, e rejeitou as recentes tentativas do Japão de iniciar negociações", aponta Edward Howell, pesquisador especializado em Península Coreana na Universidade de Oxford, no Reino Unido.>
"Com as relações amistosas da Coreia do Norte com a Rússia, não devemos ficar surpresos se as provocações entre as Coreias aumentarem neste ano.">
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