Publicado em 28 de setembro de 2025 às 09:32
Em meio ao caos e ao horror das pessoas que estão sendo forçadas a abandonar suas casas em Gaza, um menino pequeno e descalço foge desesperadamente carregando seu irmãozinho, com a voz embargada pelas lágrimas enquanto grita repetidamente "ya ama", que significa "mamãe".>
O vídeo, capturado pelo fotojornalista palestino independente Ahmed Younis, foi visto por milhões de pessoas em todo o mundo.>
Graças a essas imagens, um comitê de ajuda humanitária egípcio conseguiu encontrar as crianças e reuni-las com seus pais no sul de Gaza.>
Para muitos, a história delas é mais um símbolo da agonia das crianças palestinas diante dos implacáveis ataques de Israel.>
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Jadoua, de 8 anos, carrega seu irmão Khaled, de 2 anos. O vídeo registra o momento em que as crianças fogem após serem separadas dos pais em meio a um bombardeio, após a ordem do exército de Israel para evacuar a Cidade de Gaza.>
O jornalista Ahmed Younis reencontrou as crianças no sul de Gaza e conversou com a família.>
Noha Mahmoud Khalil Abu Arar, a mãe das crianças, contou a Younis como se sentiu ao ver o vídeo viral dos dois irmãos.>
"Fiquei chocada quando soube que meu filho apareceu em um vídeo online carregando o irmão sozinho. Quando vi o vídeo, não aguentei. Chorei e me senti sufocada. Mas depois fiquei feliz que Jadoua tenha feito algo assim.">
"Até os homens adultos se sentem exaustos atravessando esse caminho, então imagine uma criança.">
Jadoua carregou seu irmão nas costas por 10 km até chegar a Khan Yunis.>
Na Cidade de Gaza, a família foi retirada da região de Tal al-Hawa.>
"Meu marido tinha saído para conseguir comida para as crianças", contou Noha.>
"O exército de ocupação israelense começou a bombardear. O bombardeio foi extremamente intenso.">
A mãe estava com as filhas do casal e tentou salvá-las.>
Jassim Abu Arar, pai de Jadoua, estava fora de casa no momento.>
"Os bombardeios começaram um após o outro. Eu me escondi na entrada de um prédio. A entrada foi fechada atrás de mim e fiquei preso lá. Não sabia o que tinha acontecido com meus filhos", contou o pai.>
"Jadoua estava brincando com os amigos e, quando aconteceu a explosão, ele fugiu. Quando voltou para onde estava sua mãe, não a encontrou. Viu o irmão no chão, chorando e gritando, então o pegou no colo e começou a correr.">
Jadoua começou a caminhar, carregando o irmãozinho, na mesma direção para onde o restante das pessoas fugia.>
"Não achei minha mãe nem meu pai. Peguei meu irmão e caminhei, parando para descansar de vez em quando", contou o menino.>
"Cheguei ao meu destino no meio da noite. E fiquei pedindo informações a todos que encontrava.">
Jassim, o pai das crianças, descobriu que seus filhos estavam vivos quando viu o vídeo viral na internet.>
"Achei que estavam todos mortos", disse ele.>
O Comitê Egípcio de Assistência aos Moradores de Gaza procurou por Jadoua e seu irmãozinho por três dias até encontrá-los e reuni-los com seus pais. A família está agora em um acampamento administrado pela mesma organização em Khan Yunis.>
Ahmed Younis, o jornalista que capturou tanto o vídeo viral quanto o reencontro subsequente, reflete sobre o impacto de seu trabalho.>
"Desde o início da agressão, documentamos vários eventos aqui em Gaza, sejam deslocamentos, ataques direcionados ou outros incidentes.">
"Muitas vezes enfrentamos desafios com a reação das pessoas às nossas filmagens, que nos perguntam: para quem estamos filmando? Quem vai ver isso? E por quê?">
"Costumamos filmar para que o mundo veja o que está acontecendo e tome providências. Graças a Deus, este vídeo comoveu o mundo inteiro.">
O pai de Jadoua observou que todos os seus filhos, "cada um deles, tem um sonho".>
"O sonho de Jadoua é ser professor no futuro.">
Para Ahmed Younis, as lágrimas do menino em seu vídeo simbolizam o imenso sofrimento e o fardo carregado pelas crianças de Gaza.>
Tess Ingram, porta-voz da Unicef, condenou o deslocamento forçado de milhares de crianças como Jadoua e adultos da Cidade de Gaza, que até recentemente tinha uma população de mais de um milhão.>
"O deslocamento forçado em massa da Cidade de Gaza é uma ameaça mortal para os mais vulneráveis", disse Ingram.>
"É desumano esperar que meio milhão de crianças, espancadas e traumatizadas por mais de 700 dias de conflito implacável, fujam de um inferno apenas para acabar em outro.">
"Só na Cidade de Gaza, havia pelo menos 10 mil crianças sofrendo de desnutrição sem água, e agora, com os bombardeios, elas não conseguem acessar um terço dos centros de nutrição que poderiam salvar suas vidas.">
Israel lançou uma campanha militar em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns, segundo autoridades israelenses.>
Os ataques de Israel mataram mais de 65 mil pessoas, incluindo mais de 18 mil crianças, e feriram mais de 167 mil, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.>
Um comitê das Nações Unidas observou que mais de 40 mil crianças foram feridas pelos ataques israelenses e, dessas, pelo menos 21 mil estão agora incapacitadas.>
Em 16 de setembro, um comitê investigativo da ONU, a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre os Territórios Palestinos Ocupados, concluiu que Israel cometeu e continua cometendo genocídio em Gaza.>
As mesmas afirmações foram feitas anteriormente pela Associação Internacional de Peritos em Genocídio, relatores da ONU, Anistia Internacional e Human Rights Watch, entre outros.>
O governo israelense nega as acusações.>
*Esta reportagem foi compilada com material fornecido pelo serviço de notícias em árabe da BBC.>
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