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Uma bola fora de fora Djokovic, e não foi dentro da quadra de tênis

Tenista sérvio líder do ranking mundial arranha à própria imagem ao não se vacinar contra a Covid-19 e também ao dar eco ao discurso negacionista. Uma posição que não condiz com um embaixador do esporte

  • Murilo Cuzzuol
Publicado em 19/01/2022 às 17h34
Tênis
Novak Djokovic teve de deixar a Austrália após ter o visto suspenso por não comprovar estar vacinado contra a Covid-19. Crédito: Loren Elliot/Reuters

Ídolo máximo de seu país, recordista de títulos de grand slams ao lado de Roger Federer e Rafael Nadal e ainda com 34 anos. O sérvio Novak Djokovic já se colocou entre os gigantes do esporte, e fatalmente se consolidará como o maior campeão de todos os tempos no tênis mundial. Teria a chance, inclusive, de se isolar na liderança dos títulos mais importantes da modalidade já no Aberto da Austrália, que ocorre neste mês.

Aos que não são familiarizados com o tênis, a competição australiana forma, ao lado do Aberto dos Estados Unidos, Roland Garros (França) e Wimbledon (Inglaterra), o grupo dos quatro grandes torneios anuais do esporte. Assim como os outros dois tenistas citados, Djoko acumula 20 conquistas, sendo ele o maior campeão do Australian Open, com incríveis 9 troféus. Números expressivos de um talento nato, mas que ele próprio faz questão de ofuscar por uma postura que não condiz para uma referência eportiva.

Djokovic foi (e ainda é) o epicentro de um problema político e sanitário que movimentou o noticiário nas últimas semanas: por não conseguir provar estar imunizado contra a Covid-19, ele acabou tendo o visto cancelado e teve de deixar a Austrália após idas e vindas judiciais. Lamentavelmente, ele se recusa receber a vacina, fazendo-se valer do direito individual.

CONSEQUÊNCIAS

Ocorre que ao adotar tal postura, o tenista também está submetido às leis que vigoram em outros países. Em condições normais, ele entraria na Austrália e seria venerado como anualmente ocorre. Mas, em uma condição de pandemia como ainda atravessamos, o país reserva-se ao direito de exigir que estrangeiros comprovem a vacinação. O que vale para um, vale para todos. A Austrália é dos países mais rigorosos no controle sanitário e registra baixos índices de óbitos e casos positivados desde que o calvário mundial provocado pelo novo coronavírus começou há quase dois anos.

É preciso deixar claro uma coisa: não há imposição para que ele se vacine, tanto que permanece sem comprová-la até o presente momento. Acontece que esta escolha acarreta em outras que fogem ao controle dele.

Tênis
Djokovic é idolatrado na Sérvia e recebe apoio da maior parte dos sérvios em relação aos posicionamentos que adota. Crédito: Loren Elliot/Reuters

O prejuízo esportivo ao sérvio não se limitará ao Aberto da Austrália. Desde o último domingo (16), a França elevou o nível de restrição e passou a exigir o comprovante de vacinação em eventos esportivos e afins. Desta forma, público e atletas que queiram estar no Aberto de Paris, o mais famoso disputado no saibro, terão que providenciar a comprovação. É muito provável que o US Open siga na mesma linha.

O saldo ruim pode se estender também financeiramente. A Lacoste, uma das patrocinadoras dele, já avisou que pedirá explicações a Djokovic sobre o imbróglio em solo australiano.

A pergunta que faço é se vale mesmo à pena lidar com todas estas consequências ruins só pelo direito de não se vacinar? Apenas o próprio Djokovic tem esta resposta, mas enquanto não se posiciona sobre, dá margem para críticas respaldadas pela eficácia científica das vacinas.

Vai ser difícil tirar esse arranhão na bela imagem que constituiu ao longos dos anos. Nole surgiu para o mundo do tênis mostrando-se irreverente, brincalhão, carismático e vitorioso. O comportamento dele desde o início da pandemia, entretanto, mostra um lado individualista e incompreensível até então pouco visto.

Uma tremenda bola fora de Djokovic, algo incomum de se ver até nos jogos dele.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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