Publicado em 5 de junho de 2023 às 11:25
- Atualizado há 2 anos
Para muitas pessoas na América Latina não está sendo fácil encontrar uma casa para alugar devido à escalada de preços.>
Com a onda de inflação global, os salários perderam poder de compra, enquanto o custo do crédito atingiu níveis recordes.>
Como é muito caro comprar uma casa devido ao aumento frenético das taxas de juros, muitos preferem alugar uma moradia, o que faz subir o preço do aluguel.>
Essa tendência de alta começou no final da pandemia de covid-19, mas os maiores aumentos ocorreram em 2022. >
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“Parte da alta dos preços é explicada como uma recuperação após sua queda durante a pandemia”, disse Vinicius Oike, analista do Grupo QuintoAndar, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.>
"Os preços subiam e desciam na forma da letra U", diz.>
Mas há cidades, aponta, onde os valores subiram muito acima de uma simples recuperação.>
De acordo com os dados compilados pelo site de locação QuintoAndar, considerando os preços anunciados em plataformas online, entre março de 2022 e março de 2023, o custo médio do aluguel de um apartamento subiu 126% em Buenos Aires; 12% na Cidade do México; 11,2% em São Paulo, 10,9% em Quito, e na Cidade do Panamá e 6,3% em Lima.>
Com uma inflação anual de quase 109%, a Argentina é o país mais afetado do Cone Sul.>
"Pagar o aluguel é muito difícil para mim", diz Paula Serenelli, uma chefe de família de 35 anos que mora com o filho em Villa Lugano, em Buenos Aires.>
"No ano passado aumentaram o aluguel em 90%, e neste ano pode vir outro aumento maior. Isso é ultrajante.">
Algo semelhante aconteceu com Gastón Levy, 38 anos, que mora em Palermo, uma área de alto poder aquisitivo de Buenos Aires onde não é incomum o aluguel superar o aumento da inflação.>
"Eles aumentaram em 87%, o que é bom se você olhar o índice em relação à inflação, que foi maior", diz. "Mas outras pessoas pegam um aumento médio de 60% a cada seis meses.">
Embora exista uma lei que regule o mercado de aluguéis, “na prática não funciona”, afirma Gervasio Muñoz, presidente da Associação de Inquilinos. "Aluguéis na Argentina funcionam sob a lei da selva.">
Os especialistas preveem que, enquanto a inflação no país não cair, os preços dos aluguéis em Buenos Aires também não vão diminuir.>
No restante das maiores economias da região, a escalada inflacionária está atingindo fortemente as famílias, mas longe dos níveis dramáticos experimentados pela Argentina.>
No México, onde a inflação gira em torno de 10%, o preço dos aluguéis na capital segue uma tendência semelhante ou um pouco acima do aumento geral do custo de vida.>
"Os aluguéis têm sido reajustados entre 10% e 15%, em média", diz Leonardo González, analista imobiliário da empresa propiedades.com, referindo-se à alta dos valores.>
Segundo González, o aumento dos preços é explicado pela alta geral da inflação, uma menor demanda por empréstimos imobiliários (o que faz com que mais pessoas procurem alugar) e uma preferência crescente por locais com mais espaço para home office. >
Em bairros específicos da Cidade do México, onde moram pessoas com maior poder aquisitivo, os aumentos no preço do aluguel chegaram a até 40%, diz o especialista.>
Essa escalada está relacionada à chegada dos “nômades digitais” que, em muitos casos, recebem salários em dólares.>
Os bairros mais centrais estão “gentrificando”, diz Óscar García, que mora em Colonia del Valle e cujo aluguel de seu apartamento aumentou 30%.>
“Estou procurando alugar e está difícil”, diz. “Chegaram muitos estrangeiros que podem pagar preços altos e há casas que são alugadas exclusivamente pelo Airbnb.”>
Projeções de especialistas sugerem que o preço do aluguel na Cidade do México continuará crescendo.>
“O ano de 2023 vai ser caracterizado por uma tendência de alta dos preços. Projetamos um aumento médio de 12%”, diz González, ressaltando que o índice também pode variar a depender da inflação geral do país. >
Em outras capitais latino-americanas, os aumentos nos preços dos aluguéis foram menores.>
Quando os contratos de locação são renovados na Colômbia, os preços são ajustados de acordo com a taxa de inflação registrada em dezembro do ano imediatamente anterior.>
Se essa regra fosse cumprida, a alta dos valores atuais seria de 13%, que era o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) de dezembro de 2022.>
Porém, na prática, muitas negociações não seguem essa tendência.>
O problema, apontam os que se dedicam ao negócio de aluguel, é que muitas vezes os proprietários saem perdendo ao baixar preços, principalmente quando o aluguel é essencial para sua renda.>
"Para muitas pessoas, o que recebem do aluguel é uma espécie de pensão", diz Liliana Báez, corretora de imóveis independente em Bogotá.>
O outro lado da moeda são os inquilinos que não podem pagar um aumento de 13% no preço do aluguel.>
Por fim, a negociação é o que define o aumento real do preço, diz Sergio Olarte, economista-chefe do Scotiabank Colpatria.>
Embora o Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas (Dane), não tenha divulgado dados de preços de aluguel discriminados por cidade, Olarte estima que Bogotá seguiu a tendência em nível nacional, com um aumento próximo a 7%.>
O comportamento dos preços no futuro dependerá em grande parte do que ocorrer com a inflação geral do país.>
Entre as megacidades da América Latina está São Paulo, o maior centro comercial e financeiro do Brasil.>
Na cidade, o valor dos aluguéis subiu cerca de 11% no último ano, segundo o QuintoAndar.>
Após a pandemia, houve uma espécie de boom imobiliário em São Paulo, tanto no mercado de vendas quanto no de locação.>
As pessoas, principalmente os mais jovens, têm procurado os chamados microapartamentos, que podem ter menos de 30 metros quadrados e geralmente são construídos perto de estações de metrô.>
Estes microapartamentos costumam ser caros por causa da localização propícia.>
E, olhando para o futuro, os especialistas sugerem que o índice deverá continuar a aumentar devido à falta de terrenos disponíveis para construir nas zonas mais acessíveis.>
Se houver pouca terra disponível e alta demanda, o resultado é um aumento nos valores de venda e aluguel.>
Apesar da crise política e econômica que o Peru atravessa, os preços no mercado de aluguel em Lima não caíram.>
O aumento é menor em comparação outras cidades latino-americanas, mas o valor médio continua subindo, apesar das grandes diferenças que existem entre um distrito e outro.>
“Neste ano todos os bairros estão com preços acima dos de antes da pandemia”, explica Luciano Barredo, gerente de marketing da empresa Grupo Navent.>
Ao analisar os preços oferecidos nos anúncios de aluguel, o aumento médio no último ano em Lima chega a 6,3%.>
No entanto, ressalta Barredo, o valor divulgado nos anúncios tende a cair nas negociações.>
Então, levando isso em consideração, a alta em Lima fica mais próxima de 2,8%, explica o especialista.>
Esse fenômeno, segundo ele, é influenciado por fatores como a inflação geral — que fechou em 8% no ano passado —, a queda nas vendas de casas devido às altas taxas de juros dos empréstimos hipotecários, a taxa de câmbio e a incerteza causada pelo contexto político do país.>
Soma-se a esse panorama o fato de que “na área metropolitana de Lima há muito poucos terrenos disponíveis e os materiais de construção subiram muito depois da pandemia”, diz Barredo.>
Nesse contexto, "é quase impossível que os preços não continuem subindo".>
Com uma inflação próxima de 10% em abril, o valor dos aluguéis não acompanhou essa tendência na capital chilena.>
“O valor do aluguel cresceu bem menos que a inflação”, diz Daniel Serey, gerente de estudos do portal imobiliário TOCTOC.>
“Para o bolso das pessoas, o metro quadrado de aluguel subiu 2,1%, mas se olharmos por outro ponto de vista, o preço caiu mesmo”, diz Serey.>
Como se explica esta divergência? O analista argumenta que no Chile muitos aluguéis são fixados em relação ao aumento ou queda de um índice chamado Unidade de Fomento, mais conhecido como UF.>
Então, “se corrigirmos o preço do aluguel pela inflação e convertermos para UF, o preço na verdade caiu 9,5%”.>
Por mais que você olhe para os números, a questão é que em Santiago o valor dos aluguéis não subiu como está acontecendo em outras capitais.>
"O preço do aluguel não está subindo agora porque a situação da habitação é complexa", diz Serey.>
“O mercado imobiliário no Chile está sob uma pressão muito forte porque há um déficit habitacional muito grande. Estamos vivendo um fenômeno de explosão da habitação informal, dos acampamentos”, acrescenta.>
"A situação econômica está mais desacelerada. Menos pessoas compram casa e só lhes resta recorrer ao mercado de aluguel", diz o analista.>
Enquanto as construtoras continuarem criando novos projetos, os preços serão contidos, acrescentou. Mas se a indústria parar de construir casas no ritmo que vem construindo até agora, os preços vão subir.>
No caso das cidades latino-americanas onde o valor dos aluguéis tem subido rapidamente, Vinicius Oike, do QuintoAndar, projeta que "o mercado deve esfriar" neste ano e no próximo, à medida em que o crescimento econômico será menor.>
Isso dependerá muito de como vai evoluir a combinação de crescimento, inflação e juros em cada país, além das notícias econômicas que possam chegar do exterior.>
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