Na correria do dia a dia, a percepção da casa e a funcionalidade dela podem passar batido pelos moradores. Afinal, é comum bater a sensação de que a residência está ligada principalmente ao descanso, já que em boa parte do tempo as pessoas executam atividades fora dela. Neste período de pandemia, entra em cena a reflexão de como valorizar a moradia, além da análise das prioridades da residência.
O arquiteto e urbanista Heliomar Venâncio, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES), aponta as mudanças no modo de morar neste período de quarentena, que podem virar tendência. Antes da pandemia, a vida girava em torno de valorizar o ar livre, locais públicos e grandes eventos. As moradias basicamente serviam para dormir. Muitos consideravam que a vida boa só acontecia do lado de fora. Hoje, olhamos para casa como o nosso habitat, comenta.
Segundo ele, os cômodos simulam atualmente o mundo externo dentro das casas. Os ambientes esquecidos ou mal resolvidos, como varandas, cozinhas e depósitos, ganham importância em projetos arrojados, que arrancam paredes e integram os espaços. Os cômodos ganham usos múltiplos, além da luz e da ventilação que recebem importância para simular o espaço das ruas no lar, ressalta.
Especialistas indicam que a valorização do conforto e do bem-estar devem pautar os novos projetos de arquitetura de interiores. Independentemente do tamanho, um lar bonito apenas não basta mais. É fundamental que a casa abrace o morador e esteja pronta para atender todas as demandas. A relação entre bem-estar e produto virá com ainda mais intensidade após a quarentena, defende o arquiteto Bruno Moraes.
Ele afirma que a pandemia possibilitou a revisão de ver o jeito de morar na casa. Na vida corrida, muitos nem sequer usufruíam de cômodos da casa, como cozinha e área de serviço. Nos próximos projetos, tenho convicção de que as pessoas solicitarão ambientes mais funcionais, revela a arquiteta Isabella Nalon.
O home office e uma nova rotina de trabalho levam o mercado imobiliário a revisar modelos de moradia e a estratégia de investimentos. As pessoas querem, cada vez mais, conveniência e experiências. Considerando todas estas questões, se torna necessário repensar o modelo de negócio adotado por imobiliárias e a indústria da construção civil, pois a casa sempre foi a extensão que traduz nossa personalidade, hábitos e estilo de vida, observa Celso Siqueira, sócio-proprietário da Lorenge.
No contexto das reformulações das áreas da residência, Heliomar indica que a cozinha é um dos espaços que ganha prioridade. Para quem dizia que não entrava na cozinha para fazer nada, hoje já posta imagens dos pratos elaborados nas redes sociais. As varandas, que só serviam para guardar brinquedos e estender roupas, agora são as áreas de lazer dos apartamentos. O depósito pode ter se transformado em office home. E brinquedotecas estão surgindo daqueles quartos da bagunça ou de eventuais hóspedes, comenta.
Neste processo de transformação do olhar sobre a casa, a chance de ter um jardim em casa ou área de lazer será priorizada. Vemos uma grande procura hoje no mercado imobiliário por lotes e casas na Grande Vitória.
As pessoas estão procurando espaços com quintais, para que possam simular a vida ao ar livre com segurança. Já percebemos a tendência de produção da própria comida, em hortas e pequenas granjas, e da própria energia com placas solares, armazenamento de água de chuva e cuidado com o lixo usando composteiras domésticas, acrescenta.
Para a arquiteta Carina Dal Fabbro, o consumo consciente fica mais evidente neste cenário. Está diretamente ligado ao comportamento de não exceder as necessidades de consumo, um comprar consciente e um olhar sobre o impacto que essa relação monetária traduzirá para a qualidade de vida do planeta.
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