O escondidinho é feito em travessas que facilitam o encontro entre preguiçosos para uma refeição. Crédito: nelea33/Shutterstock
Tenho defendido que nenhum outro prato representa tão bem a cozinha brasileira quanto o bom e popular escondidinho.
Primeiro, porque o nome já acompanha o sabor do recheio que dizemos esconder (o que denuncia nosso apreço pela fofoca). Depois, porque ele é geralmente preparado em travessas que vão direto à mesa e assim facilitam o encontro entre preguiçosos para uma refeição.
Repetir algumas colheradas é sempre possível, afinal, existem boas desculpas que vão desde “preciso ajustar um corte mais reto no pirex” a “só quero experimentar um pouquinho mais do recheio”. As receitas costumam ser simples, embora existam muitas combinações entre purês e sabores acobertados.
Um escondidinho, paradoxalmente, pode mostrar um tanto de influências alimentares que acompanham nossas escolhas.
Se feita com mandioca, batatas ou abóbora, por exemplo, a receita de creme revela a influência da alimentação dos povos originários nas práticas de agora, já que usam ingredientes nativos de nosso território. Quando feito com inhame, o purê é saboreado com a ancestralidade dos povos africanos que trouxeram esse alimento para as Américas.
O fato é que a origem imprecisa de um prato pode esconder muitas camadas de ideias para nos mostrar a riqueza de uma cozinha cotidiana feita com insumos populares.
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A regra que mais importa é se conseguiremos realmente camuflar o que queremos defender como recheio: carne-seca, camarão, bacalhau, palmito, frango, calabresa ou cogumelos, isso para ficarmos apenas em alguns exemplos.
O nome diminutivo parece temperar o prato com uma camada de afetividade que só o sotaque brasileiro é capaz de degustar. Mas não se deixe enganar: já encarei escondidinhos que eram porções enormes. A receita, como o nosso país, é uma metáfora de misturas que, ainda quando camufladas, constroem novas possibilidades.
É assim que vejo o Brasil mostrar sua cara para o mundo: com a criatividade prática que só a nossa cozinha é capaz de, ao mesmo tempo, esconder para revelar.
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