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Cultura tem nome: quem foi padre Anchieta, símbolo da sede do governo do ES

Missionário jesuíta viveu no Espírito Santo no século XVI e foi canonizado em 2014, pelo Papa Francisco. Veja sua história

Julia Galter

Estagiária / [email protected]

Publicado em 8 de setembro de 2025 às 09:00

No coração de Vitória, às margens da Baía, ergue-se o Palácio Anchieta, um dos prédios mais antigos em uso no Brasil e símbolo da história capixaba. O que hoje é sede do Governo do Espírito Santo já foi colégio jesuíta e igreja, testemunhando transformações que atravessaram mais de quatro séculos.

No nome, a memória de um homem que cruzou oceanos para ensinar, traduzir e marcar para sempre o Espírito Santo: o padre José de Anchieta.

Mas quem foi padre Anchieta?

O padre jesuíta nasceu na Espanha, em 1534, e ingressou na Companhia de Jesus, vivendo a missão que lhe trouxe, inclusive, ao Espírito Santo. Por aqui, José de Anchieta viveu longos períodos em Reritiba, atual cidade de Anchieta, e em Vitória, onde ergueu o Colégio de São Tiago e uma outra igreja, localizados no terreno onde hoje está o Palácio Anchieta.

"Na província do Espírito Santo, a sede dos jesuítas ficava nesse colégio, que teve a sua primeira ala concluída em 1587 e foi construída sobre ordens dele. Foi ele que construiu e que coordenou o processo de construção e dez anos depois ele morreu", diz o historiador Rafael Simões. 

Além disso, José de Anchieta foi o primeiro dramaturgo, gramático e poeta nascido nas Ilhas Canárias, que aprendeu a língua tupi e produziu uma das primeiras gramáticas do idioma. Suas produções foram utilizadas como ferramenta de ensino e catequese, e sua atuação com os indígenas influenciou na formação cultural do litoral brasileiro.  

Segundo o historiador Rafael Simões, Anchieta foi um grande catequizador e propagador de ideias cristãs e jesuítas. "Talvez pareça um exagero semântico, mas isso fez com que ele ficasse conhecido por grande parte dos brasileiros como uma pessoa expressiva. É claro que existem críticas nessa questão da catequização, ela é vista com outros olhos nos dias de hoje, pelo processo de desrespeito à cultura e aos valores dos povos originários, mas na época esses eram os valores e ele trabalhou nessa perspectiva. Isso faz com que ele seja reconhecido", contou.

José Antônio Martinuzzo, autor do livro "Palácio Anchieta - Patrimônio Capixaba" e professor doutor da Ufes, conta que há diversas histórias acerca de José de Anchieta. "Ele foi canonizado pelo Papa Francisco 416 anos depois de sua morte, e no relatório final dos postuladores, com 488 páginas, há registro de 5.350 histórias de pessoas que alcançaram graças rezando a São José de Anchieta", contou.

A homenagem não é em vão. José de Anchieta morreu em 1597 e em 1945, o então governador em exercício, Jones dos Santos Neves, deu seu nome à sede do governo. Ele ainda é considerado padroeiro do Espírito Santo e Apóstolo do Brasil, sendo importante para a história, cultura, religiosidade e formação da identidade capixaba. Sua canonização aconteceu em 2014.

Curiosidades

O túmulo simbólico de São José de Anchieta permanece na sede do Governo do Espírito Santo, mesmo após as restaurações que ocorreram no edifício, como as de 1997 e 2004-2009. Há também diversas homenagens como o busto, um altar simbólico e pinturas. Vale a pena visitar!

Túmulo simbólico de José de Anchieta ainda segue no local
Túmulo simbólico de José de Anchieta ainda segue no local Crédito: CEDOC / Rede Gazeta

Um dos poemas mais famosos de José de Anchieta é "Poema à Virgem", escrito enquanto ele estava em cativeiro, cercado por indígenas aliados aos franceses na região de Ubatuba, outro local por onde passou aqui no Brasil.

"No sangue jorrado redimi meus delitos, e purifique com água a sujeira espiritual! Embaixo deste teto (Céu) que é morada de todos, viver e morrer com prazer, este é o meu grande desejo", diz parte do poema.

E tem mais! A cidade de Anchieta carrega este nome também em homenagem ao padre, que viveu seus últimos dias por lá. José de Anchieta ainda foi autor da "Carta de São Vicente", onde descreveu a fauna e a flora da Mata Atlântica, e em homenagem a essa data, desde 1999, o dia 27 de maio é celebrado como o Dia da Mata Atlântica. 

O outro lado da história

Apesar de reverenciado por sua contribuição à educação e à cultura, Anchieta também é figura que suscita debates. Historiadores apontam que, embora tenha defendido indígenas contra a escravização e abusos de colonizadores, sua atuação esteve alinhada à lógica catequizadora europeia, que buscava impor valores e crenças cristãs sobre as culturas nativas. Para estudiosos contemporâneos, reconhecer essa dualidade é fundamental para compreender a complexidade de seu legado e o contexto histórico em que viveu.

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