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Cultura tem nome: quem foi Sônia Cabral, eternizada em palácio capixaba

Criadora da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo e diretora da Faculdade de Música, ela foi precursora da música erudita no ES

Isadora Lima

Reporter / [email protected]

Publicado em 7 de setembro de 2025 às 06:00

Sônia Cabral foi precursora da música erudita no ES e revolucionou o cenário musical

Bem ao lado do Palácio Anchieta está o Palácio da Cultura Sônia Cabral, um dos palcos da cultura do Espírito Santo. Talvez você não saiba, mas no Sônia é possível ter acesso a diferentes performances como espetáculos teatrais e apresentações de dança e música. Além disso, os ingressos costumam ser acessíveis ou até mesmo gratuitos. Certamente, essa política do lugar agradaria a mulher que o nomeia: Sônia Cabral.

Pianista e professora, ela nasceu em Santa Teresa em 1943 e sempre sonhou em seguir a carreira musical. "Minha avó desenhou as teclas de um piano em uma caixinha de papelão. E minha mãe, ainda pequenininha, passava horas brincando ali, sem som nenhum, apenas cantando e fingindo tocar aquele piano improvisado", relembra Manoela Cabral, jornalista e filha de Sônia Cabral.

Com o passar do tempo, os pais de Sônia, percebendo o talento da filha, decidiram se mudar para Vitória para que ela pudesse se aprofundar na música.

E que escolha acertada, viu? Com apenas 11 anos, a menina já dava aulas de piano na escola Sagrado Coração de Maria e para alunos particulares. É importante frisar que naquela época o trabalho infantil não era regulamentado. A partir daí, uma nova paixão surgia na vida de Sônia: a educação. A pianista não só ensinava, como também buscava se aprofundar cada vez mais e ia frequentemente ao Rio de Janeiro para ter aulas de piano.

Aos 18 anos, ela se casou com Marílio Cabral, e assim como seus pais, o marido a apoiou nos projetos. Foi então que Sônia começou a dar aulas na Faculdade de Música do Espírito Santo, a Fames. Na época, só existiam três modalidades: violão, piano e canto.

Muito influenciada por tudo que vivenciou na capital carioca, ela sonhava em formar uma orquestra, percebendo a falta que fazia no cenário musical capixaba. Mas esse era apenas um dos objetivos de Sônia: ela queria também ampliar o ensino de música, ensinar mais instrumentos e técnicas, além de democratizar o acesso à cultura.

"Depois, ela foi eleita diretora da Escola de Música. Na época, os diretores eram escolhidos pelos próprios alunos, junto ao corpo docente e aos professores. Ela acabou sendo eleita quatro vezes para o cargo. Durante sua gestão, começou a batalhar para trazer professores de outros instrumentos para a Escola de Música."

Sônia Cabral por Acervo pessoal | Manoela Cabral

Cada vez mais importante para o cenário musical, a professora foi coordenadora da Divisão de Música Erudita da antiga Fundação Cultural do Espírito Santo e levou grandes apresentações para o Teatro Carlos Gomes de 1976 a 1990. Em 1986, o projeto de criação da Sinfônica do Espírito Santo foi aprovado e autorizado pelo então governador José Moraes, com cerca de 125 músicos. A iniciativa foi desenvolvida por 10 anos.

Democratização da música

O pensamento da pianista fugia da superficialidade. O objetivo não era só criar uma orquestra, mas também conquistar um público que admirasse a arte. Foi aí que surgiu a ideia de criar uma série: Música para Jovens no Teatro Municipal. A professora conseguiu apoio de empresários para viabilizar o projeto, inclusive da Rede Gazeta. A iniciativa promovia música todos os sábados e levava crianças de escolas municipais para assistirem às apresentações. Manoela destaca que a sociedade civil teve um papel fundamental para que as idealizações de Sônia pudessem se concretizar.

"Ela sempre contou com um incentivo fundamental, e é importante destacar isso. Não falo só porque estamos conversando para a Rede Gazeta, mas porque, de fato, a Gazeta sempre apoiou tudo o que ela realizava. Sempre havia divulgação: primeira página do Segundo Caderno, notas, chamadas na televisão. Esse espaço ajudava muito na promoção dos concertos e das iniciativas culturais. Além disso, ela também recebia apoio constante do governo. Independentemente de quem estivesse no poder, havia uma vontade comum de fortalecer a cultura."

Novos profissionais na casa de Sônia

Porém, mesmo com os esforços, a pianista também teve que dar um “jeitinho” para algumas situações e costumava hospedar artistas em sua casa para baratear as viagens. Sônia trouxe pessoas de fora para que ensinassem instrumentos que ainda não tinham nas escolas de música. Com isso, novos profissionais foram sendo formados e a oferta foi ampliada. Para ela, era importante que, além da formação, existisse também um mercado de trabalho para os músicos.

"No início, era tudo voluntário, sabe? As pessoas estavam ali por sonho, por vocação. Ela também teve a visão de transformar aquilo em um trabalho formal, uma coisa profissional. Conseguiu garantir salários para os músicos, estruturou uma orquestra de fato e conquistou o público", conta Manoela.

Adeus e revolução

O legado deixado por Sônia Cabral, com certeza, foi revolucionar o cenário musical do Espírito Santo. A pianista faleceu de câncer aos 68 anos em 2012. Mas Manoela reforça que a mãe teve uma vida plena:

"Ela sempre tinha muita serenidade, acho que essa é a palavra que mais a define. E, ao mesmo tempo, em paralelo, também tinha muita fibra. Não era questão de ser sincera ou teimosa, mas sim perseverante, esse seria o termo certo. Ela sempre perseverou, sempre acreditou naquilo que fazia. Fazia tudo com muita verdade, sabe? Por isso, não ficava difícil. A vida dela era muito verdadeira."

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