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Publicado em 13 de novembro de 2024 às 18:10
- Atualizado há um ano
Com base na análise de indicadores das áreas da segurança, educação, saúde e saneamento, a qualidade de vida da população da Capital do Espírito Santo foi avaliada como a 20ª melhor do país — considerando apenas as capitais, Vitória ocupa o 4º lugar. É o que aponta o estudo Desafios da Gestão Municipal (DGM) de 2024, realizado pela Macroplan Analytics, que observa os 100 maiores municípios brasileiros.
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Entre as cidades da Grande Vitória, a Capital é a cidade que apresenta as melhores taxas em relação ao saneamento (31ª posição no ranking geral e 7ª entre as capitais), à segurança (60º lugar entre os 100 municípios e 10º no ranking das capitais) e à educação. Nesta última área, o município se destaca, sendo o 10º melhor do país e a 1ª capital. Apenas na saúde, Vitória perde para a cidade canela-verde: Vila Velha ocupa a 16ª posição no ranking da área.>
Apesar da posição positiva no ranking e da pontuação — Vitória alcançou 0,683 pontos, apenas 0,082 a menos que a 1ª colocada, Maringá (PR) — a cidade capixaba perdeu 6 posições na última década e a gestão municipal tem desafios a superar: as taxas de mortalidade infantil, mortes no trânsito, eficiência do Ensino Fundamental 2 da rede pública e de tratamento de esgoto estão piores do que o ideal.>
De acordo com Gustavo Morelli, sócio diretor da Macroplan e coordenador do estudo, a sinalização dos problemas enfrentados municipalmente estimula a melhoria da gestão pública e também a cobrança da sociedade em torno dos resultados esperados, visto que evidencia os avanços e dificuldades de cada cidade. >
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Para Morelli, a visão comparativa proporciona, aos gestores municipais, uma análise mais precisa dos dados. “Muitas vezes, o gestor público não conhece os dados do seu município, ou conhece apenas os seus e não de toda a região. Olhar tudo junto, comparando de um modo fácil com cidades similares, permite que o gestor entenda não só quais são os seus desafios — em que área ele vai bem, em que área não vai tão bem assim —, mas também mostra onde ele poderia buscar uma solução para as áreas que não vão bem”.>
Gustavo Morelli
Sócio diretor da Macroplan e coordenador do DGM 2024Para que o relatório sirva como base para políticas públicas mais assertivas, os desafios municipais são divididos em três categorias:>
Sobre os indicadores que são utilizados no estudo, Morelli explica que foram selecionados os de fontes públicas e oficiais; os que são atualizados com frequência; e, por fim, os que indicam melhor se o objetivo final daquela área foi cumprido ou não. >
“Na educação, o resultado principal que pode ser observado é se o aluno aprendeu ou não. Na segurança, o mais grave é o óbito, então o objetivo é manter todos vivos. No saneamento, é levar água e esgoto tratado para toda a população. Na saúde, evitar que as crianças morram ou que os adultos morram antes da hora. Então os dados usados são esses, que vão nos resultados finalísticos de cada área”, explica o coordenador do estudo.>
A partir destes apontamentos, é possível identificar, em Vitória, quais problemas são mais graves e, por isso, devem estar no centro das ações administrativas nos próximos anos, e quais precisam de soluções mais ágeis para garantir maior qualidade de vida da população e manter a posição de destaque da cidade.>
Neste ano, a Capital é a 10ª cidade — e a 1ª capital — no ranking da Educação. Em 2010, no entanto, ocupava a 4ª posição. O desafio de nível na área é o Ensino Fundamental 2 da rede pública, em que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) está abaixo do nível de referência: 5,5. Na cidade, o Ideb de 2023 ficou em 4,9, enquanto o de 2011 era 4,1. >
Apesar da melhora na pontuação, a cidade ficou para trás no ranking, perdendo posições. “Na maior parte dos casos onde se perdeu a posição, o que aconteceu ao longo do tempo foi que houve uma melhora, mas a melhora foi em uma velocidade mais lenta do que em outros municípios”, explica Morelli.>
Já o Ideb do Ensino Fundamental 1 teve a maior variação na década ao subir 25 posições: foi do 54º lugar em 2011 (quando alcançou 4,9 pontos) para o 29º em 2023 (6,1 pontos). Positivamente também aparecem as taxas de matrículas em creches (76,6% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculadas) e de matrículas na pré-escola (100% das crianças de 4 a 5 anos).>
De acordo com o Secretário de Gestão e Planejamento de Vitória, Regis Mattos, diversas medidas têm sido adotadas para melhorar o ensino da Capital, como a ampliação das escolas de tempo integral e de atividades complementares culturais, esportivas e tecnológicas. Segundo Mattos, a gestão também pretende investir em capacitar professores e melhorar a infraestrutura do sistema educacional, reformando e construindo novas unidades de ensino.>
No ranking de Segurança, Vitória subiu 15 posições e está em 60º lugar, sendo a 10ª melhor capital brasileira. Apesar do avanço, tanto a taxa de homicídios quanto a de mortes no trânsito estão piores que os níveis de referência, representando desafios para a gestão. >
Para os homicídios, a taxa não deveria ultrapassar 10 a cada 100 mil habitantes — a de Vitória está em 27,9. Já as mortes no trânsito devem permanecer abaixo de 8,7 a cada 100 mil pessoas, mas Vitória tem 9.>
Lidar com os problemas da área, de acordo com Mattos, é mais complexo. “Depende de um trabalho conjunto com as forças Federais, Estaduais e a Guarda Municipal, que tem exercido seu papel”. Para o secretário, o ideal para melhorar os índices é “continuar trabalhando de forma integrada com outros órgãos e investindo na parte tecnológica, de inteligência artificial e videomonitoramento”.>
Além disso, Mattos conta que a Guarda Municipal está sendo ampliada — por meio da realização de concursos — e que há investimentos buscando melhorar a infraestrutura e qualificar os servidores de segurança. >
A Saúde foi a área que mais perdeu pontos e posições na Capital. Hoje, Vitória tem o 22º melhor índice de saúde do Brasil (6º entre as capitais), 13 lugares abaixo do que há uma década. >
Nesta área, a mortalidade infantil é um desafio crítico. Ou seja, o número absoluto de mortes aumentou na última década e, ao mesmo tempo, a taxa é pior que o nível de referência. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que o número de mortes seja menor que 10 (a cada mil crianças nascidas vivas). Em Vitória, em 2022, a taxa registrada foi de 10,9. Em 2010, 10,1. A taxa de nascidos vivos com pré-natal adequado também está abaixo do ideal - pelo menos 80% -, chegando a 78,3%.>
Outro desafio na área diz respeito à mortalidade prematura por Doenças Crônicas Não Transmissíveis (quando adultos de 30 a 69 anos morrem por doenças cardiológicas, por exemplo). Neste caso, houve uma piora ao longo dos anos, visto que, atualmente, morrem 290,7 pessoas a cada 100 mil habitantes — enquanto em 2010 eram 290,4. O Secretário de Gestão e Planejamento conta que a Secretária de Saúde do Município tem se esforçado para “recuperar o atraso de gestões anteriores”. Mattos também reforça a importância da cobertura de atenção básica e das equipes de Saúde da Família.>
Após subir 9 posições, Vitória chegou à 31ª colocação (7ª capital) no ranking que avalia Saneamento e sustentabilidade. No entanto, os índices de atendimento de esgoto e esgoto tratado estão piores do que os níveis de referência (maior que 90% para ambos). Em 2022, 86,1% da população era atendida e 76,5% do esgoto referido à água consumida era tratado. >
Mattos, mais uma vez, destacou que, neste caso, a responsabilidade não é totalmente municipal — a não ser no caso da coleta de lixo (resíduos sólidos), que abrange a totalidade da população. O secretário ressalta que os serviços relacionados à distribuição de água e tratamento de esgoto são executados pela Cesan (Companhia Espírito-santense de Saneamento), empresa controlada pelo governo Estadual que afirma que os investimentos para gerar melhorias na área, de 2023 a 2027, totalizam mais de R$ 10 bilhões.>
Regis Mattos
Secretário de Gestão e Planejamento de VitóriaO secretário ainda explica que o contrato é acompanhado tanto pelo município quanto por uma agência reguladora que observa o alcance das metas ao longo do tempo. Vale ressaltar que, em Vitória, a água já é universalizada e, de acordo com o DGM, 100% da população é abastecida.>
O presidente da Cesan, Munir Abud, procurado pela reportagem declarou que "o estudo mencionado utiliza dados censitários de 2022/2023, em que os números refletem um momento anterior às ações atualmente em execução. A Cesan está promovendo, no período de 2023 a 2027, o maior programa de investimentos de sua história, totalizando mais de R$ 10 bilhões, o que já tem gerado melhorias significativas nos indicadores ao longo de 2024. Cabe destacar que o abastecimento de água já é universalizado nas cidades atendidas pela Cesan". >
"Além disso, Vitória e Serra são exemplos de municípios que já alcançaram a universalização do esgotamento sanitário, atingindo os índices estabelecidos pelo Marco Legal do Saneamento. A capital, inclusive, figura entre as primeiras do país a alcançar a universalização tanto no abastecimento de água quanto nos serviços de coleta e tratamento de esgoto. De acordo com os dados mais recentes, os índices de cobertura de coleta e tratamento de esgoto na capital alcançam hoje 92,6%, em Vila Velha 60,3% e, na Serra, 94,8%. Os investimentos realizados contemplam obras que garantem a universalização dos serviços de coleta e tratamento de esgoto na Grande Vitória até 2026, sete anos antes do prazo estipulado pelo Marco Legal do Saneamento (2033). Entre as principais obras em andamento estão a ampliação e modernização da Estação de Tratamento de Esgoto de Araças, em Vila Velha, e a ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário de Bandeirantes, em Cariacica”, disse o presidente.>
Metodologia
A Macroplan, para comparar a evolução dos municípios ao longo da década, utilizou os indicadores de 2010 a 2011 e os de 2022 a 2023, a depender da frequência de realização das pesquisas e levantamentos.
Os 15 indicadores observados são: na área da Educação, as taxas de matrículas em creche e na pré-escola (Censo Escolas e IBGE), Ideb Ensino Fundamental 1 e Ideb Ensino Fundamental 2 da rede pública (INEP); na Saúde, mortalidade prematura por DCNT, nascidos vivos com pré-natal adequado, mortalidade infantil (DataSUS) e cobertura da atenção básica (SCNES e IBGE); na segurança, as taxas de homicídios e de óbitos no trânsito (DataSUS e IBGE); e, por fim, na área de saneamento e sustentabilidade, esgoto tratado, perdas na distribuição de água, atendimento de água, coleta de lixo e atendimento de esgoto (SNIS).
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