Publicado em 17 de maio de 2018 às 00:18
Há um ano o país descobriu o teor de uma conversa para lá de suspeita. O presidente Michel Temer (MDB) e o empresário Joesley Batista, da JBS, protagonizaram um diálogo, gravado por este último, em que o emedebista pedia para manter isso aí, ao ouvir que Joesley havia zerado pendências com o deputado cassado, e preso, Eduardo Cunha, também do MDB.>
No dia seguinte, esperava-se até a renúncia de Temer. Meses depois, o atual ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, chegou a dizer que isso quase aconteceu.>
Após duas denúncias barradas pela Câmara dos Deputados, no entanto, Temer se manteve aí. Mas a que custo? O presidente usou toda a habilidade para negociar com os parlamentares em busca de apoio a si mesmo, e não às reformas que tanto almejava, para o bem ou para o mal.>
A reforma trabalhista até passou, foi aprovada em julho do ano passado. Mas a Medida Provisória que acertava pontos das mudanças já caducou por inércia do Legislativo em pleno ano eleitoral.>
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E a reforma da Previdência, carro-chefe do governo e sobre a qual já pairavam muitas dúvidas, tornou-se uma miragem, nem chegou a ser votada.>
A aprovação da reforma trabalhista foi o último suspiro do governo, avalia Ivan Filipe Almeida Lopes Fernandes, doutor em Ciência Política pela USP.>
(Após a divulgação do áudio) o governo foi para as cordas. Um governo que já não era popular teve que reorganizar a base não para aprovar projetos, mas para barrar denúncias. Temer gastou todo o capital político com isso, complementa.>
Aliás, não apenas capital político. Verbas de emendas parlamentares, por exemplo, foram liberadas enquanto o governo trabalhava no convencimento dos deputados quanto à inocência do presidente.>
PROMESSAS>
Algumas das promessas contidas no documento Uma Ponte Para o Futuro, lançado pelo MDB ainda em 2015, ficaram no passado.>
Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo com base no texto e em entrevistas do presidente revela que de 15 compromissos elencados, metade não foi cumprida. Redução de cargos comissionados (inócua porque impactou cargos já vagos) e de impostos não saíram do papel. E o desemprego segue em alta.>
Por outro lado, a inflação e os juros baixaram. Mas isso não foi suficiente para desarranhar a imagem de Temer, impactada pela delação da JBS e tudo que se seguiu a ela.>
Houve o enfraquecimento da imagem do presidente a tal ponto que pode afetar até qualquer apadrinhado por ele na corrida presidencial, diz o professor de Marketing Político e Eleitoral da Universidade Presbiteriana Mackenzie Roberto Gondo.>
Em pesquisa CNT/MDA divulgada nesta semana, Temer apareceu com apenas 4,3% de aprovação. Não quer dizer que sem o áudio do Joesley o Temer teria dois dígitos de aprovação, mas, depois de tudo que aconteceu, as pessoas estão apenas aguardando ele terminar o mandato, conclui Gondo.>
Para Maria do Socorro Sousa Braga, do Departamento de Ciências Sociais da Ufscar, um efeito do áudio e da delação da JBS voltou-se contra o próprio instituto da delação premiada, que passou a ser questionado após acusações de que um procurador da República, que depois virou advogado, orientou os delatores. Houve a redução da importância da delação. Poderia ter sido uma prova contundente da relação promíscua do presidente, mas não tivemos uma apuração séria, afirma.>
Para além da delação da JBS, Temer responde ao chamado inquérito dos portos e uma nova denúncia da PGR não é descartada.>
LINHA DO TEMPO >
17 DE MAIO 2017>
A divulgação>
O colunista Lauro Jardim, de O Globo, publica: Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha.>
18 DE MAIO DE 2017>
O áudio>
O Supremo Tribunal Federal divulga o áudio na íntegra.>
Discurso>
Temer faz um pronunciamento à imprensa: Não renunciarei. Repito, não renunciarei!. Ele também tachou a gravação de clandestina.>
3 DE JUNHO DE 2017>
Homem da mala>
O ex-assessor de Temer e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures é preso. Ele havia sido indicado como interlocutor por Temer a Joesley no fatídico áudio. E também foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de outro delator da JBS.>
26 DE JUNHO DE 2017>
Denúncia>
A PGR denuncia Temer por corrupção passiva.>
2 DE AGOSTO DE2017>
Rejeição>
A Câmara dos Deputados livra Temer de virar réu.>
14 DE SETEMBRO DE 2017>
Nova denúncia>
Temer é denunciado por obstrução à Justiça e organização criminosa.>
25 DE OUTUBRO DE 2017>
Nova rejeição>
A Câmara barra a segunda denúncia.>
Temer amplia recursos de contrato publicitário>
Dias antes de anunciar a intervenção federal no Rio de Janeiro, o Palácio do Planalto ampliou o contrato de publicidade mantido pela Secretaria de Comunicação (Secom) com as três empresas que fazem a publicidade estatal. Em agosto de 2017, a licitação vencida por PPR, Calia Y2 e Artplan tinha um total de R$ 208 milhões, mas a partir de fevereiro deste ano esse montante subiu para R$ 260 milhões. A Calia Y2 pertence a Gustavo Mouco, irmão do marqueteiro do presidente Michel Temer (MDB), Elsinho Mouco.>
O aditivo dos contratos foi oficializado em 9 de fevereiro, a sexta-feira que antecedeu o carnaval. O anúncio da intervenção federal ocorreu na sexta-feira da semana seguinte. Naquele período, o governo ainda avaliava colocar ou não em votação o projeto de reforma da Previdência, que acabou suspenso já que não é possível votar emenda constitucional com o decreto de intervenção em vigor.>
O aumento nos contratos de publicidade também coincidiu com o período em que integrantes do MDB começaram a discutir a possibilidade de Michel Temer disputar a reeleição. Procurada, a Secom não explicou as razões específicas que levaram o governo a ampliar o contrato. (Com informações da Agência O Globo)>
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