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Publicado em 16 de junho de 2021 às 20:20
Até recentemente citado como presidenciável para as eleições de 2022, o apresentador de TV Luciano Huck anunciou, na noite de segunda-feira (15), que não vai ser candidato. O anúncio já era esperado e reduz a possibilidade que partidos de centro encontrem um nome que possa fazer frente à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido).>
Cientistas políticos e lideranças partidárias ouvidos por A Gazeta avaliam, no entanto, que, mesmo se Huck se mantivesse no páreo, dificilmente haveria unanimidade em torno do nome dele. A construção da chamada "terceira via" esbarra nos anseios de alguns partidos, que não abrem mão de encabeçar chapas, como é o caso do PDT, com Ciro Gomes, e o PSDB, que tem enfrentado conflitos internos quando o assunto é a disputa presidencial. >
Com isso, problemas anteriores à saída de Huck permanecem no centro, que caminha para ver um excesso de pré-candidatos em 2022 diante da falta de consenso do bloco. >
Movimentando-se politicamente desde 2018, quando uma candidatura também foi aventada, Luciano Huck apresenta um perfil que não é encontrado em outras alternativas lançadas pelo centro até o momento. Por ser apresentador de TV, dispõe de visibilidade nacional, com capacidade de penetrar diferentes classes sociais. Além disso, é visto como um outsider na política e não tem a imagem desgastada, o que seria importante para aglutinar forças.>
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Para o cientista político Rodrigo Prando, apenas Luzia Trajano poderia se aproximar desse perfil, mas a dona do Magazine Luiza já descartou qualquer candidatura.>
"Luciano Huck transitaria bem na centro-esquerda e na centro-direita, abocanhando desde empresários a um eleitorado de baixa renda. Não há, neste momento, ninguém com esse perfil. A não candidatura dele coloca mais um elemento de angústia para quem tenta consolidar uma terceira via", analisa.>
Com opções cada vez mais limitadas para 2022 – outros cotados, como o ex-juiz Sergio Moro (sem partido) e João Amoedo (Novo) já são considerados fora da disputa – os partidos do centro têm tentado se articular. Nesta terça-feira (16), lideranças de DEM, PSDB, PV e Podemos se reuniram para um almoço. No entanto, de acordo com o jornal O Globo, nenhum nome saiu desse encontro.>
Na visão da cientista política e professora da UERJ Carolina de Paula, consolidar um nome para encabeçar a terceira via esbarra em diversas dificuldades, sobretudo a partidária. Apesar do espaço que existe para uma candidatura alternativa, nenhum ator se mostra, até o momento, capaz de aglutinar apoio. >
"As pesquisas mostram que cerca de 25% das pessoas não querem votar nem em Lula e nem em Bolsonaro em 2022. Mas esse público é muito heterogêneo. Então, o grande desafio é encontrar um nome que, além de preencher esse espaço, consiga apresentar uma plataforma que aglutine lideranças partidárias de centro-esquerda e centro-direita e faça com que abram mão do protagonismo", avalia.>
Partidos como PDT, PSD e PSDB já avisaram que devem lançar candidaturas próprias. O PDT é o mais incisivo: "Acreditamos na terceira via liderada por Ciro Gomes", disse o partido, por meio de nota enviada à reportagem. Já o PSD diz não estar participando de articulações do centro e que deve anunciar um nome próprio até o fim do ano. >
No PSDB, o desgaste já começou dentro do partido, com pelo menos quatro interessados na pré-candidatura, entre eles os governadores de São Paulo, João Doria e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. >
"Os partidos mais tradicionais têm medo de abrir mão de uma candidatura, ninguém quer. Até porque eles vão precisar dessa força para as eleições estaduais. Então existe um cálculo de custo-benefício a ser feito. Sem contar que há um interesse variado dessas lideranças, que provavelmente só se unem na agenda econômica", apontou Carolina de Paula. >
Rodrigo Prando aponta um outro fator que tem dificultado alianças para a consolidação de um nome na terceira via: a presença do ex-presidente Lula na disputa. A entrada do petista, segundo Prando, traria dificuldades também para a pré-candidatura de Luciano Huck.>
"Lula minou muitas alianças e possibilidades de candidatura, porque a presença dele acaba polarizando a disputa em 2022 com o Bolsonaro e pegando grande parte do eleitorado de baixa renda e parte da esquerda. Não é qualquer candidato que vai conseguir conquistar esse voto para chegar ao segundo turno. Isso reduz o espaço do centro", ponderou. >
Confira os nomes que estão na disputa para encabeçar uma "terceira via":>
Terceiro colocado nas eleições de 2018, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) se apresenta como a opção de centro para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele vem tentando atrair o apoio de siglas tanto de centro-esquerda quanto de centro-direita para 2022 e pode ter saído fortalecido com a saída de Luciano Huck do páreo. >
Cientistas políticos apontam que Ciro tem a vantagem de ser conhecido e contar com experiência política, diferentemente de outros nomes que se colocaram. O pedetista, contudo, tem posicionamentos políticos avaliados como "controversos", o que dificulta o diálogo com alguns partidos. Recentemente, o ex-governador disparou ataques contra Lula. >
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tornou-se um grande crítico do presidente Jair Bolsonaro após a eleição em 2018 e ganhou projeção durante a pandemia de Covid-19. Cientistas políticos avaliam que Doria tem à favor a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, mas ainda enfrenta resistências no próprio partido. >
No PSDB já há desgastes com pelo menos quatro nomes que pleiteiam, internamente, o apoio para concorrer à presidência em 2022. O nome que mais deve incomodar Doria é do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. >
Após o recente racha interno no PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, foi apresentado como um possível nome para disputar a presidência em 2022. Leite deve disputar a preferência do partido com João Doria, governador de São Paulo, que, até então, vinha sendo apontado como a aposta tucana.>
Para cientistas políticos, o governador do Rio Grande do Sul tem a vantagem de não ter a imagem desgastada. Contudo, não é um nome conhecido nacionalmente, o que dificultaria a eleição. >
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) ganhou visibilidade durante o período em que atuou no combate à pandemia de Covid-19. Após sair do governo, Mandetta colocou-se como um crítico da gestão de Bolsonaro e ganhou projeção. >
O DEM cogita lançar a candidatura do ex-ministro em 2022, mas essa possibilidade vai depender do relacionamento do partido com Bolsonaro. O presidente nacional da legenda, ACM Neto, já demonstrou que pode apoiar o atual presidente em 2022. >
Além dos nomes acima, há movimentações em torno de outras pré-candidaturas, algumas avaliadas mais como um balão de ensaio dos partidos. Entre elas estão o senador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB) e os senadores Antonio Anastasia e Otto Alencar, pelo PSD. >
O PSB, partido do governador Renato Casagrande, chegou a anunciá-lo como pré-candidato, mas pouco se costurou após o anúncio. De acordo com a Executiva nacional, o partido "defende uma ampla frente de oposição formada a partir de partidos de esquerda e centro-esquerda, mas que alcance até o centro político para disputar as eleições de 2022”. >
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