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Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 20:58
Com o apoio de integrantes do bloco de oposição e de alguns deputados da base governista, uma emenda apresentada pelo deputado Fabrício Gandini (Cidadania) dobrando o valor da bolsa a ser paga a estudantes do último ano do ensino médio pelo governo estadual — de R$ 400 para R$ 800 — motivou a primeira derrota do Executivo na Assembleia Legislativa na legislatura iniciada no último dia 1º. >
Em meio a embates entre os parlamentares, a emenda foi admitida por 13 votos a 12, em sessão extraordinária híbrida da Assembleia realizada nesta quarta-feira (15). Porém, a sessão foi derrubada por falta de quórum e o texto final da matéria não foi apreciado. A volta à pauta será somente depois do carnaval, na sessão do dia 27.>
O projeto de lei de autoria do governo institui a bolsa aos alunos da rede pública estadual, com idade entre 17 e 19 anos, que se matricularem na quarta série do ensino médio. De acordo com a proposta, 200 estudantes serão contemplados com o auxílio financeiro, que será pago nos meses letivos, por meio de cartão magnético a ser fornecido pelo Banestes aos estudantes que mantiverem no mínimo 75% de presença nas aulas.>
A proposta estava sendo analisada em reunião conjunta das comissões de Justiça, Educação e Finanças quando Gandini defendeu sua emenda. Ele ressaltou que o benefício seria pago somente a 120 estudantes, os quais atendem aos requisitos para receber o auxílio, e afirmou que o impacto da medida seria de R$ 1 milhão, despesa que poderia ser absorvida sem comprometer as finanças estaduais.>
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Contudo, a emenda recebeu parecer contrário do presidente da Comissão de Educação e líder do governo, Dary Pagung (PSB), que recebeu apoio de outros colegas, como Janete de Sá (PSB) e Denninho Silva (União). >
Outros membros das comissões se manifestarem favoráveis à emenda de Gandini, como Callegari (PL), que citou a situação ocorrida no Congresso Nacional durante a pandemia da Covid-19, quando o valor do auxílio emergencial proposto pelo governo federal foi elevado para R$ 600 pelos parlamentares.
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O coro pela rejeição da emenda foi engrossado pelos deputados Tyago Hoffmann (PSB) e Camila Valadão (Psol), que consideraram inconstitucional a aprovação do texto com a duplicação do valor da bolsa sem ter os impactos detalhados. Hoffmann, que está em seu primeiro mandato e é ex-secretário estadual, propôs que o texto fosse aprovado sem a emenda e se dispôs a negociar com o Executivo estadual a duplicação do valor, como proposto pelo deputado do Cidadania, por meio de indicação do parlamentar. >
Assim, a emenda acabou sendo rejeitada na Comissão de Constituição e Justiça, seguindo o parecer do relator, Mazinho dos Anjos (PSDB), por cinco votos a dois. Em seguida, Mazinho colocou em votação o texto original do governo nas comissões reunidas. Todos os parlamentares votaram a favor do projeto, sendo que vários ressaltaram que o faziam para não prejudicar os estudantes, mas não viam problemas na emenda do colega.>
Gandini, então, recorreu à Mesa Diretora para que a emenda fosse admitida, em votação nominal com a participação de todos os parlamentares. O requerimento deixou o clima ainda mais tenso entre os deputados. Hoffmann se manifestou como vice-líder do bloco governista e deu encaminhamento aos deputados da base contra a votação nominal para "não expor os parlamentares".>
A votação nominal foi aprovada pela maioria dos parlamentares presentes e, em seguida, Hoffmann voltou a recomendar à base para que rejeitasse a emenda dobrando o valor da bolsa, pois assim o projeto acabaria vetado pelo governo e não poderia mais ser discutido na atual legislatura. "Os alunos vão ficar sem a bolsa e esta Casa vai ser responsável pelos alunos ficarem sem a bolsa, caso isso ocorra. Não estou entendendo o ímpeto, já propus o acordo".>
"Inaugura-se hoje a política do medo na Assembleia. Achei estranho. Quer dizer que, se não aprovar do jeito que o governo quer, não vão dar a bolsa? É isso que estou entendendo. Pode vetar e a gente derruba o veto. Esta Casa é soberana e vai ter que pagar. O impacto está claro, é só multiplicar por dois. É uma emenda simples e serve mostrar que esta Assembleia discute as matérias e não vai ficar com medo de ameaças feitas por lideranças do governo", discursou Gandini pedindo voto a favor da emenda.>
Líder do bloco de oposição (PL, PTB e Republicanos), o deputado Hudson Leal (Republicanos) encaminhou voto a favor da emenda de Gandini. Ele foi seguido por 12 parlamentares, somando 13 votos a favor da inclusão da emenda que duplica o valor da bolsa para R$ 800. Entre os deputados da base governista, Adilson Espíndula (PDT), Alexandre Xambinho (PSC) e José Esmeraldo (PDT) também foram favoráveis.>
Outros 12 deputados presentes votaram contra a emenda e o presidente da Casa, Marcelo Santos (Podemos), se absteve. Estavam ausentes os deputados Bispo Alves (Republicanos), Raquel Lessa (PP), Sérgio Meneguelli (Republicanos) e Zé Preto (PL).>
Veja como ficou a votação da emenda:>
Depois da votação que garantiu a inclusão da emenda na apreciação do projeto em plenário, vários parlamentares discursaram para apresentar suas justificativas. O presidente da Assembleia esclareceu que o texto do projeto ainda precisa passar por nova votação, desta vez incluindo a emenda. Logo depois, o líder do governo, Dary Pagung, pediu verificação de quórum e a sessão foi encerrada porque não havia deputados suficientes presentes — apenas sete registraram presença no painel eletrônico.>
Em nota, Gandini afirmou que sua reação foi "à altura do fato de o governo tentar impor a um aliado a retirada de uma emenda". "Isso é inaceitável, não é democrático, e eu me senti constrangido com a situação", alegou o parlamentar. Ele refutou a acusação de que sua reação teria relação com a exoneração de aliados do governo estadual. >
"É totalmente descabido. Três aliados meus estão vindo para a Assembleia Legislativa. Não tem relação entre os fatos. Por último, reafirmo: no mandato, farei tudo que posso para melhorar a vida das pessoas. E a minha emenda foi para melhorar a vida dos estudantes", sustentou o parlamentar.>
O chefe da Casa Civil, Davi Diniz, foi procurado para se manifestar a respeito da derrota do governo na votação ocorrida na Assembleia, mas ele não deu retorno às mensagens e ligações da reportagem.>
Depois de ter determinado o arquivamento de todas as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na última segunda-feira (13), o presidente da Assembleia comunicou na sessão desta quarta-feira (15) que um novo prazo será aberto a partir das 10 horas de quinta-feira (16) para que os parlamentares protocolem seus pedidos de CPIs na Casa, além de sessões especiais e solenes. >
Para ser considerado válido, o requerimento de CPI deve conter o número mínimo de 10 assinaturas, segundo consta no Regimento Interno da Casa. As assinaturas poderão ser físicas ou digitais, conforme esclareceu Marcelo Santos na última segunda (13).>
Nove pedidos de CPI haviam sido protocolados desde o início da legislatura, em 1º de fevereiro. Todos eles foram cancelados pelo presidente da Assembleia, alegando falhas no sistema e ausência de certificado digital para cinco parlamentares quando os prazos foram abertos. Isso inclui os requerimentos de cinco comissões de inquérito que chegaram a ser lidos em plenário e criaram o primeiro embate na Casa. >
A autorização para funcionamento de CPIs segue ordem cronológica de protocolo e, como o regimento da Casa prevê o máximo de cinco comissões desse tipo funcionando ao mesmo tempo, apenas as cinco primeiras poderão ser instaladas.>
Uma alteração no Regimento Interno foi aprovada na sessão de terça-feira (14) para garantir que o regimento seja seguido e proíbe mais de cinco CPIs funcionando na Casa ao mesmo tempo. A redação anterior, dada pela Resolução 6.360/2019, permitia que esse número fosse extrapolado por decisão do presidente da Assembleia Legislativa, o que era considerado um superpoder do chefe do Legislativo estadual.>
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