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Capitã Estéfane acusa Pazolini de silenciá-la: "excluída desde o início"

Capitã Estéfane acusa Pazolini de silenciá-la: "excluída desde o início"

Vice-prefeita de Vitória afirma que está sendo impedida de falar pelo prefeito e que teve comissionados de seu gabinete exonerados. Ela diz sofrer violência política de gênero

Publicado em 9 de novembro de 2022 às 17:18

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Lorenzo Pazolini e Capitã Estéfane, prefeito e vice-prefeita de Vitória
Lorenzo Pazolini e Capitã Estéfane, prefeito e vice-prefeita de Vitória. (Carlos Alberto Silva)

Após ter sido impedida de falar em dois eventos consecutivos da prefeitura, a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Patriota), trouxe a público desavenças e dificuldades que tem enfrentado com o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). Ela acusa o chefe do Executivo municipal de tentar silenciá-la politicamente, restringindo sua atuação no cargo.

Embora só tenha se pronunciado recentemente sobre o desentendimento entre os dois, ela diz que sofre violência política de gênero por parte do prefeito desde que a chapa composta pelos dois foi eleita para comandar o município, no fim de 2020.

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Nunca houve uma relação respeitosa da parte dele (Pazolini). Eu sempre fui extremamente cordial e tentei ajudar em todo momento. Nunca expus as fragilidades da gestão e nem as covardias feitas comigo, mas as coisas alguma hora precisam vir a público

Capitã Estéfane
Vice-prefeita de Vitória
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A capitã da reserva diz que em diversas ocasiões foi proibida pelo prefeito de falar ao público. O exemplo mais recente ocorreu nesta quarta-feira (9) quando ela aponta ter tido o microfone tomado das mãos durante um evento em Jardim Camburi. Na ocasião, a prefeitura apresentou um projeto para a construção de uma nova casa de convivência para a pessoa idosa no bairro.

Capitã Estéfane acusa Pazolini de silenciá-la: "excluída desde o início"

O vídeo do momento do fato mostra uma disputa entre a capitã e o prefeito pelo microfone, em que o chefe do Executivo municipal leva a melhor.

Outro evento em que diz ter sido cortada pelo prefeito foi durante a visita da então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, em maio de 2021. Ela cita ainda outros momentos em que, mesmo estando presente no local, sequer teve o nome citado ao microfone.

“Houve também alguns eventos em que, por algum motivo que não sei qual é, ele se sentiu incomodado pela minha presença e ele optou por não falar. Ninguém falou pra que eu não tivesse oportunidade de falar”.

A capitã afirma que os desentendimentos com Pazolini começaram logo depois de a chapa composta pelos dois ter vencido as eleições municipais em 2020.

“O próprio Pazolini falou comigo na ocasião (da formação da chapa) que eu estaria acima dos secretários, mas todos os secretários foi ele que indicou. Esse poder de influência me foi retirado desde o início do mandato. Desde a transição achei que estava sendo excluída das reuniões, das decisões, em uma nítida tentativa de impedir minha atuação política na cidade”, afirma.

Contudo, os episódios de desrespeito e exclusão se intensificaram desde que Estéfane declarou apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) no segundo turno das eleições estaduais. Casagrande e Pazolini são rivais políticos.

A vice-prefeita aponta como evidência do acirramento da tensão entre os dois a perda de três dos seus quatro assessores diretos. Na segunda-feira (31 de outubro) imediatamente após a eleição de segundo turno, a exoneração dos três servidores comissionados foi publicada no diário oficial do município.

Ela afirma ter sido pega de surpresa e não ter conseguido retorno da administração sobre o porquê das demissões.

“A minha postura sempre foi de querer ajudar a cidade e o prefeito sempre tentou me excluir do meu lugar. De um universo de mais de 700 cargos comissionados eu nunca tive mais que cinco cargos pequenos pra me ajudarem a servir à cidade. Nunca tive assessoria condizente com o cargo que eu exerço. Estou completamente sem assessores”, se queixa.

Durante a gestão, foi oferecido à Estéfane o cargo de secretária de Cultura da cidade. Contudo, ela recusou o cargo por medo de se envolver em uma "cilada política", como descreveu. Sendo militar e formada em Direito, ela disse que pleiteou as secretarias de Segurança Pública ou Direitos Humanos, mas teve ambas recusada. A pasta da Cultura, ela diz, lhe foi enfiada "pela goela abaixo".

Entre os projetos que disse ter conseguido participar com muito custo dentro da administração municipal está a criação da Casa Rosa, que acolhe mulheres e crianças vítimas de violência. 

Estéfane se filiou ao Republicanos, partido do qual Pazolini é um dos maiores nomes atualmente, em setembro de 2020. A filiação ocorreu para que ela pudesse ser vice na chapa do atual prefeito, na época deputado estadual. Ela tinha duplo apelo ao eleitorado de Pazolini: era mulher e integrante das forças de segurança pública, uma das principais bandeiras levantadas por ele durante a campanha.

“Eu entrei na campanha um dia a noite e, no outro, estava subindo o (bairro) Jesus de Nazareth com um filho de 1 ano e 3 meses, ainda amamentando. A minha entrada no partido trouxe R$ 1,8 milhão do Fundo Partidário pelo fato de eu ser mulher e de ser negra e em nenhum momento isso foi considerado pelo prefeito”, aponta.

A vice nunca tinha disputado nenhuma eleição e, ao vencer o pleito, teve que abrir mão do posto de capitã da Polícia Militar. Militares que vencem eleições vão automaticamente para a reserva, ou seja, não podem retornar à corporação após o fim do mandato.

“Foi uma tratativa em conjunto, com o Pazolini e com o Republicanos, de que eu teria voz na gestão. A ideia foi essa e foi por isso que eu entrei, porque eu abandonei uma carreira sólida, saí com desvantagem financeira absurda porque o militar não pode voltar”, explicou.

Neste ano, Estéfane mudou de partido e se filiou ao Patriota para disputar o cargo de deputada federal. Nova na sigla e sem o apoio do prefeito da Capital, ela obteve 10.075 votos e não se elegeu.

O QUE DIZ O PREFEITO

Em nota, o prefeito Lorenzo Pazolini afirmou "seu total respeito à vice-prefeita Capitã Estéfane". Ele apontou que a lei municipal descreve como funções do cargo de vice-prefeito a substituição do prefeito caso ele se ausente e a prestação de ajuda quando convocado.

Sobre o evento em Jardim Camburi, em que Estéfane diz ter tido o microfone tirado por Pazolini, ele afirma que ela chegou quando o evento já estava em andamento. "Era uma agenda com idosos e, buscando não prolongar a atividade e seguindo a Lei Orgânica Municipal, a fala foi conduzida pelo prefeito. "

Sobre o corte dos cargos, ele disse apenas que é premissa da prefeitura cortar 50% dos cargos comissionados e nomear profissionais priorizando o critério técnico. 

Pazolini destacou ainda que Estéfane se recusou a a assumir a Secretaria Municipal de Cultura e que foi designada para coordenar o projeto da Casa Rosa, "principal política pública em defesa da mulher do município". Leia nota na íntegra abaixo.

Nota do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini

O Prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, afirma seu total respeito à vice-prefeita Capitã Estéfane. O Artigo 104 da Lei Orgânica Municipal prevê que o (a) Vice-Prefeito (a) "substituirá o (a) Prefeito (a) Municipal, no caso de impedimento ou licença, e suceder-lhe-á no de vaga, o Vice-Prefeito (a)." O Artigo 104 ainda prevê que "o (a) Vice-Prefeito (a), além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, auxiliará o Prefeito (a) Municipal sempre que por ele convocado para missões especiais." Na ocasião citada, o Prefeito estava presente no local, e a Vice-Prefeita chegou com a agenda em andamento. No dia 09 de fevereiro de 2021, a Capitã foi nomeada Secretária Municipal da Cultura, conforme Decreto n⁰ 18.835/21, cargo este que preferiu não assumir.  Cabe acrescentar que a Vice-Prefeita foi designada para a coordenar a organização e entrega da principal política pública em Defesa da Mulher do município, a Casa Rosa, trabalho que incluiu outras secretarias da municipalidade. Politica pública instituída por meio do Decreto n⁰ 20.084/21. É importante destacar ainda que a Vice-Prefeita sempre teve e tem oportunidade de fala nos eventos oficiais e possui interlocução com todos os secretários e o prefeito, que estão integralmente à disposição para proposições, críticas e diálogo. Um exemplo disso, foi a agenda realizada no início da manhã da última  2a feira, quando a vice-prefeita falou aos presentes.  Na solenidade desta quarta-feira (09), a Vice-Prefeita chegou quando a solenidade já estava se aproximando do fim. Era uma agenda com idosos e, buscando não prolongar a atuvidade e seguindo a Lei Orgânica Municipal, a fala foi conduzida pelo prefeito.  Em relação aos cargos alegados pela Vice-Prefeita, é imperativo ratificar a premissa da administração de reduzir em 50% o número de cargos comissionados e de nomear profissionais priorizando o critério técnico e a gestão por resultados.

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