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Sonho salvou marceneiro vítima de boato por morte de criança em Cariacica

Sonho salvou marceneiro vítima de boato por morte de criança em Cariacica

Hélio Felipe dos Anjos Martins foi atrelado à morte de menino de sete anos em Cariacica na quinta-feira (14), quando voltaria para casa. Residência foi incendiada

Publicado em 18 de abril de 2022 às 16:52

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Trabalhando no interior do Espírito Santo, o marceneiro Hélio Felipe dos Anjos Martins viu o nome dele ser associado à morte de um menino de sete anos, que aconteceu na última quinta-feira (14), no bairro Nova Esperança, em Cariacica. Naquela noite, se não fosse um sonho, ele teria voltado para a casa — que acabou incendiada como forma de protesto pelo suposto envolvimento dele no crime, o que foi posteriormente descartado pela polícia.

"Eu ia voltar para a casa na quinta-feira, mas um amigo meu teve um sonho comigo, onde eu sofria um acidente. Quando ele me contou, fiquei receoso e deixei para ir embora na sexta (15)", revela. Com o retorno à Grande Vitória adiado, ele soube tudo o que aconteceu pela internet e ficou parcialmente aliviado.

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Fiquei muito assustado, mas satisfeito que não tinha voltado para casa e que a minha esposa não estava mais lá, porque as consequências poderiam ter sido muito piores

Hélio Felipe dos Anjos Martins
Marceneiro
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Segundo o marceneiro, a maior preocupação dele ao saber que estavam entrando na residência era avisar a esposa — que está grávida de oito meses — para ela deixar o local. Naquele momento, as fotos do casal já circulavam na internet, atreladas à morte que havia sido registrada no bairro Nova Esperança, onde moram.

"Vi nas redes sociais que uma criança havia morrido no meu bairro e algumas pessoas me mandaram mensagens de ódio, falando que eu tinha que pagar, que eu era assassino. Depois, vi minha foto rolando. Minha primeira reação foi ligar para a minha mulher. Pedi para amigos a tirarem de lá também. Em seguida, recebi um vídeo da casa pegando fogo", relata.

Com o incêndio e os saques realizados na residência, a família amargou prejuízos com eletrodomésticos, teve portas e janelas quebradas e perdeu todo o enxoval feito para a pequena Mariah — que deve vir ao mundo já no próximo mês. "Minha esposa está com o psicológico extremamente abalado", comenta Hélio.

Para tentar amenizar todo o pesadelo vivido pelo casal, amigos do marceneiro organizaram uma "vaquinha". A intenção é arrecadar doações de material de construção, utensílios domésticos, roupas de bebê, fraldas ou dinheiro. "Eles perderam tudo", conta a amiga Victoria Anselmo.

REVIRAVOLTA: MARCENEIRO RELATA AGRESSÃO DE VIZINHO

Inicialmente, os familiares do menino de sete anos que morreu contaram aos policiais que desconfiavam de que o responsável pela morte do pequeno seria um vizinho: Hélio Felipe dos Anjos Martins. Isso devido a um desentendimento entre o marceneiro e o pai da criança.

Questionado a respeito, Hélio explicou que realmente houve uma discussão entre ambos, devido a um vidro dele que acabou quebrado pelo filho mais velho do homem, no final de fevereiro. A partir de então, o pai dos meninos passou a ameaçar Hélio e chegou a agredi-lo há um mês.

"Eu e minha mulher já nos sentíamos acuados, até que uma vez ele estendeu o braço me confrontando e me agrediu. Ele me deu um soco e falou para entrar na casa dele. Achei estranho e só chamei a polícia, para abrir um boletim de ocorrência contra ele", afirma o marceneiro.

Em nota, a Polícia Civil confirma o registro e informa que o caso tramitou no 14º Distrito Policial. "No dia 23 de março, a vítima e o suspeito foram intimados e, após os depoimentos, o acusado assinou um termo circunstanciado pelo crime de lesão corporal e foi liberado", esclarece.

ENTENDA O CASO

O pequeno Ricardo Coelho, de apenas sete anos, morreu no final da tarde da última quinta-feira (14), após levar um tiro enquanto estava na casa onde morava, no bairro Nova Esperança, em Cariacica. Ele chegou a ser socorrido para um hospital no município, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.

De acordo com informações iniciais divulgadas pela Polícia Militar, o médico que socorreu o menino explicou que, pela análise das três perfurações, a criança teria colocado a mão na frente do rosto, antes de receber o disparo — que teria atravessado a mão, a região do olho e a nuca.

Cariacica
Ricardo Coelho, de apenas sete anos, morreu após levar um tiro que atravessou a cabeça. (Arquivo pessoal)

Em entrevista à TV Gazeta, o major Prado, da PM, destacou que o foco era encontrar a arma utilizada na ação e que a principal linha de investigação apontava para um acidente que teria acontecido na própria residência da família, sem qualquer tipo de envolvimento do vizinho (o marceneiro Hélio).

"A família nos trouxe, em um primeiro momento, um suspeito e trabalhamos em cima dessa linha. Houve até uma revolta por parte da comunidade com esse suspeito, mas, agora, a investigação ganhou um novo rumo: de um crime que aconteceu dentro de casa. Um tiro acidental", explicou.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica. Até a manhã desta segunda-feira (18), nenhum suspeito de cometer o crime foi detido e outros detalhes não foram divulgados para preservar a apuração.

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