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Mais um suspeito é preso por morte de empresário na Praia da Costa

Mais um suspeito é preso por morte de empresário na Praia da Costa

A Polícia Civil confirmou a prisão por meio de nota, neste sábado (12); outros três suspeitos de envolvimento já haviam sido detidos

Mikaella Mozer

Repórter / [email protected]

Felipe Sena

Repórter / [email protected]

Publicado em 12 de julho de 2025 às 09:57

 - Atualizado há 5 meses

Wallace Borges Lovato
Wallace Borges Lovato foi morto a tiros no dia 9 de junho, em Vila Velha Crédito: Acervo Pessoal

Foi preso o quarto suspeito de envolvimento no crime que matou o empresário Wallace Borges Lovato, de 42 anos, executado no dia 9 de junho com um tiro na cabeça quando saía do prédio onde fica empresa que era proprietário, na Praia da Costa em Vila Velha. A prisão, confirmada pela Polícia Civil, aconteceu na manhã deste sábado (12), no bairro Jardim Colorado, no mesmo município onde o crime ocorreu. 

A reportagem de A Gazeta apurou, junto a fontes da Segurança Pública, que o preso se chama Bruno Valadares de Almeida, de 39 anos. Segundo consta no LinkedIn, ele atuava como diretor financeiro da empresa de Wallace, a Globalsys. O suspeito foi detido em casa, no bairro Jardim Colorado, em Vila Velha. No local foram apreendidos o celular e o notebook dele, relógios, joias, dinheiro em espécie e duas armas de fogo. 

A motivação

A principal linha de investigação, de acordo com apuração do g1 ES, aponta que Lovato descobriu um desvio de dinheiro praticado por Bruno dentro da empresa. A suspeita é de que, temendo as consequências da descoberta, o diretor financeiro teria planejado o crime.

A ordem de prisão foi emitida pela 4ª Vara Criminal de Vila Velha. O diretor financeiro prestou depoimento da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do município e depois passou por exames no Instituo Médico Legal (IML), em Vitória. 

A defesa de Bruno, representada pela representada pela assessoria jurídica Pires & Pinho, enviou nota na segunda-feira (14) afirmando que o cliente é inocente. "Por respeito ao devido processo legal e ao trâmite do procedimento no âmbito do Poder Judiciário, não serão prestados esclarecimentos adicionais neste momento sobre os fatos que originaram a investigação criminal", frisou. A equipe jurídica comunicou ainda que já foi solicitada a habilitação nos autos do processo "a fim de assegurar o pleno direito de defesa e contribuir para o esclarecimento da verdade dos fatos. Demais informações serão oportunamente divulgadas, conforme o regular andamento do processo e as decisões que forem sendo proferidas pela Justiça", afirmou.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que não há outros detalhes que possam ser repassados, pois o inquérito tramita sob sigilo. O caso segue sob investigação da DHPP de Vila Velha.

Família e empresa se manifestam

Após a prisão de Bruno, a família de Wallace Lovato e a empresa se manifestaram. ''A família de Wallace Lovato está impactada com a notícia da prisão de Bruno Valadares de Almeida. O trabalho sempre foi um dos principais motores da vida de Wallace. É muito triste para nós saber que um filho, marido e pai de duas crianças se foi e que a suspeita recai nos interesses comerciais e financeiros. Seguimos acompanhando as investigações com fé, confiança e respeito pelo trabalho da polícia. Agradecemos o empenho de todos que estão direta ou indiretamente envolvidos na apuração. Esperamos que toda verdade seja esclarecida. A dor não vai passar, mas a justiça precisa ser feita", disseram, em nota.

Thiago Molino, CEO Globalsys, também enviou um comunicado: Apoiamos e estamos acompanhando de muito perto as investigações, colaborando com tudo que é preciso a fim de que a polícia cumpra seu trabalho da melhor forma, com agilidade e para que tenhamos todas as respostas. Informamos também que tomamos imediatamente todas as providências para rescindir qualquer relação do prestador de serviço investigado com a empresa. Seguimos confiando nas investigações e acreditando que a justiça será feita".

Outros presos

Bruno é o quarto preso durante as investigações. Além dele, outros três suspeitos tinham sido levados ao sistema prisional: Arthur Neves de Barros, que teria sido o atirador; Arthur Laudevino Candeas Luppi, identificado como motorista do carro que deu fuga; e Eferson Ferreira Alves, apontado como intermediário.

Dois dos três detentos investigados pelo crime estavam em outros Estados quando encontrados. Luppi foi o primeiro preso e acabou transferido para território capixaba após ser capturado em Minas Gerais no dia 17 de junho, oito dias depois da morte de Lovato. Já Barros saía de casa quando foi surpreendido em Sumé, na Paraíba, em 19 de junho. 

O terceiro a ir para a cadeia foi Eferson Ferreira, apontado como intermediário do crime. Ele se entregou no dia 23 de junho, com a presença do advogado. Como havia um mandado de prisão expedido no nome dele, a prisão foi realizada.

Arthur Luppi, Arthur Barros e Eferson Ferreira (da esquerda para a direita) estão presos por suspeita de envolvimento na morte de empresário em Vila Velha.
Arthur Luppi, Arthur Barros e Eferson Ferreira estão presos por suspeita de envolvimento na morte de empresário Crédito: Arquivo pessoal

Vídeo mostra execução 

Uma câmera de monitoramento flagrou, de frente, os detalhes do assassinato do empresário. O vídeo ao qual A Gazeta teve acesso mostra quando Wallace sai da empresa às 16h45 e vai em direção ao carro dele, uma BMW verde. Ele mexe no celular e coloca o aparelho no ouvido. A seguir, abre a porta do motorista e, depois, a traseira. A todo momento a vítima fala ao telefone.

Ainda às 16h45, o Fiat Pulse com os criminosos sai da vaga onde estava, a um carro de distância do de Wallace. O empresário coloca algo no banco traseiro e se encaminha para assumir a direção. Nesse momento, os bandidos passam com o veículo ao lado dele. O atirador, que estava no banco traseiro, coloca a mão para fora e dispara uma única vez, atingindo a nuca do empresário.

Caso aconteceu em 9 de junho e vitimou o empresário Wallace Borges Lovato

Justiça decretou sigilo absoluto

A Justiça decretou, no dia 25 de junho, o sigilo absoluto no inquérito que apura a morte do empresário. Conforme apuração da TV Gazeta, a decisão é da juíza Paula Cheim, da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, e foi proferida para preservar o andamento das investigações da Polícia Civil.

Mas o que significa um inquérito estar sob sigilo absoluto? A Gazeta conversou com o advogado criminal Fábio Marçal para entender o assunto. Segundo o profissional, trata-se de uma medida em que nenhuma informação do processo pode ser divulgada publicamente — nem mesmo os advogados que não estejam diretamente envolvidos no caso têm acesso.

“Para não atrapalhar as investigações, não vazar informações de pessoas investigadas, onde podem ser decretados bloqueio de bens, prisão ou, por exemplo, interceptação telefônica. Então, o STF decidiu que existem níveis de sigilo”, explicou o advogado.

Os níveis de sigilo são:

  • Nível 0: Processo Público - Os autos são públicos, sem sigilo. 
  • Nível 1: Segredo de Justiça - processos em que a visualização está disponível para usuários internos, advogados do processo e para as partes ou terceiros, desde que tenham a chave do processo.
  • Nível 2: Sigilo Moderado - processos em que a visualização está restrita aos servidores da Unidade Judicial em que tramitam os autos, às procuradorias. Advogados do processo e partes somente com permissão expressa.
  • Nível 3: Sigilo Padrão - limitado aos membros do tribunal e outras partes com permissão expressa.
  • Nível 4: Sigilo Máximo - visualização somente pelo magistrado ou a quem ele atribuir. 

Ainda conforme o advogado criminal, o juiz pode optar por diferentes níveis de sigilo no curso de uma investigação. "Ele pode definir que apenas determinados procedimentos ou peças específicas do processo fiquem em sigilo. Por exemplo, uma petição que contenha informações do imposto de renda pode ser ocultada para o público, mas ainda assim os advogados têm acesso", explica Fábio Marçal.

Já no caso do sigilo absoluto, decretado no inquérito que apura a morte de Wallace, o acesso é totalmente restrito. "Nesse tipo de sigilo, ninguém consegue ver quem são os investigados nem qualquer andamento do processo", completa Marçal.

Nesses casos, quem pode ter acesso ao processo? Segundo o advogado criminal, o acesso é restrito ao delegado, o promotor e o juiz responsável. O investigado também pode ter direito de acesso aos autos — mas apenas se já tiver ciência de que está sendo investigado.

No entanto, em fases iniciais, quando a Polícia Civil ainda não identificou formalmente os suspeitos, o acesso aos autos fica restrito. "Nessas situações, quem tem acesso normalmente são apenas o delegado responsável, o membro do Ministério Público e o juiz do caso", afirma Fábio Marçal.

A violação do sigilo em um processo pode gerar consequências, tanto no âmbito penal quanto administrativo. A legislação prevê o crime de violação de sigilo funcional, descrito no artigo 325 do Código Penal. “A pena é até pequena, mas as consequências disso no âmbito administrativo, se a pessoa fora servidora pública, é alta, tem outras consequências que podem, inclusive, chegar a pena de reclusão de até 2 anos, e multa", diz o advogado criminal.

E quem está habilitado a pedir o sigilo absoluto?

Conforme o advogado criminal Fábio Marçal, o pedido geralmente parte da autoridade policial ou do Ministério Público, mas o próprio juiz pode decretar o sigilo, caso identifique a necessidade de proteger informações. “Em processos que envolvem questões de saúde, movimentações financeiras ou menores de idade, por exemplo, o juiz costuma decretar o sigilo imediatamente, porque esses dados não podem se tornar públicos”, pontua.

Cronologia do caso Wallace Lovato:

Segunda-feira, 9 de junho

14h40: Wallace estava na empresa dele, a Globalsys, quando um Fiat Pulse chega ao local e estaciona perto do veículo do empresário, na rua Professor Telmo de Souza Torres, lateral à Avenida Champagnat. Ninguém desce do automóvel. Lá dentro, estava o atirador. Ele fica aguardando por cerca de duas horas.

16h45: Wallace sai da empresa. Segundo testemunhas, ele estava a caminho de sua BMW, falando ao telefone, quando assassino parou o Fiat Pulse ao lado dele e o atirador, que estava no banco traseiro, disparou.

Socorro: Amigos de Wallace socorreram o empresário, colocando a vítima em um carro. A Polícia Militar foi abrindo caminho até o Hospital Praia da Costa, mas o homem não resistiu.

Terça-feira, 10 de junho

Carro encontrado: Na tarde do dia seguinte, o Fiat Pulse usado no crime foi localizado nas proximidades da alça da Terceira Ponte, em Vila Velha, a menos de dois km de onde o crime ocorreu. A Polícia Civil confirmou que era o automóvel usado pelo atirador.

Placa clonada: O veículo passou por perícia e, naquele mesmo dia, a Polícia Civil já adiantou que o carro estava com uma placa clonada.

O carro foi encontrado próximo à alça da terceira ponte na tarde desta terça-feira (10)

Quarta-feira, 11 de junho

Premeditado: Dois dias depois do crime, a Polícia Civil confirmou que o assassinato foi premeditado e disse que estava analisando as imagens para identificar os autores e a motivação.

Sexta-feira, 13 de junho

Mandante: O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Leonardo Damasceno, declarou que já se sabia que o crime tinha uma mandante. Sem dar detalhes, para não atrapalhar as investigações, ele disse em uma coletiva de imprensa que a rota do Fiat Pulse já tinha sido identificada, e que o carro tinha vindo de outro Estado.

Domingo, 15 de junho

Missa: A missa de sétimo dia de Wallace aconteceu na noite de domingo (15), em uma paróquia na Praia da Costa.

Terça-feira, 17 de junho

Prisão: A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou que um suspeito de envolvimento no crime foi preso em território mineiro, no entanto, a ação tinha sido conduzida pela Polícia Civil do Espírito Santo. O criminoso era Arthur Laudevino Candeas Luppi. 

Quinta-feira, 19 de junho

Mais uma prisão: Arthur Neves de Barros, 35 anos, é preso suspeito de atirar e matar o empresário. O homem foi encontrado no município de Sumé, na Paraíba, enquanto saia de casa, após investigação feita pelas polícias civis do Espírito Santo e da Paraíba, a partir do trabalho do serviço de inteligência.

Boné identificou: Segundo o delegado Gilson Duarte, da Polícia Civil da Paraíba, o boné usado por Arthur foi o "detalhe final" para confirmar a identidade do suspeito. Ele aparecia com o mesmo acessório em imagens captadas no Espírito Santo, no dia do crime.

Segunda-feira, 23 de junho

Intermediador preso: Eferson Ferreira Alves se entregou à Polícia Civil, acompanhado de um advogado. Segundo fontes da reportagem, ele é apontado como intermediário. 

Quarta-feira, 25 de junho

Novo depoimento: Arthur Luppi foi levado para a Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, onde prestou um novo depoimento. A informação foi confirmada pela repórter Priciele Venturini, da TV Gazeta.

Organização: Em entrevista à rádio CBN Vitória, o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Leonardo Damasceno, disse que o caso chamou atenção pela organização. "Esse caso chamou a atenção pela organização, que é claramente um crime de mando. O Estado já foi marcado por crime de mando, então, para nós, é fundamental investir os recursos para mandar um recado de que o Espírito Santo não é local para esse tipo de criminalidade." 

Arma do crime: Em entrevista à CBN Vitória, Leonardo Damasceno afirmou que a arma usada no crime não foi encontrada. A Polícia Civil chegou a realizar buscas na Rodovia do Contorno, em Cariacica, em busca da arma. 

Sigilo absoluto: A juíza Paula Cheim, da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, decretou sigilo absoluto do inquérito, com intuito de preservar as investigações.

Atualização
14/07/2025 - 14:25hrs
A defesa de Bruno, preso suspeito de ser o mandante, enviou nota à imprensa nesta segunda-feira (14). O texto foi atualizado.
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