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Jovem morto por PM no ES: "Policial tem fração de segundo para decidir"

Jovem morto por PM no ES: "Policial tem fração de segundo para decidir"

Comandante do 1º Batalhão da PM, o tenente-coronel Leandro Menezes ressaltou que é preciso analisar contexto durante a apuração do ocorrido. Resposta sobre o caso deve ser dada em até 60 dias

Publicado em 4 de abril de 2022 às 20:23- Atualizado há 2 anos

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Após o governador Renato Casagrande pedir uma "investigação sumária" sobre o caso da morte de Weliton da Silva Dias, 24 anos, por um policial militar no bairro São José, na Grande São Pedro, em Vitória, no sábado (2), a Polícia Militar se pronunciou sobre a ocorrência. Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (4), o tenente-coronel Leandro Menezes, comandante do 1º Batalhão da PM, disse que o "policial tem fração de segundos para decidir" o que deve ser feito em situações como essa em que o jovem foi baleado duas vezes pelo agente, mesmo estando com as mãos para cima como mostra o vídeo acima.

O comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar ressaltou que é preciso analisar o contexto durante a apuração do caso, e disse que uma resposta sobre o assunto deve ser dada em até 60 dias. Durante a coletiva de imprensa, o tenente-coronel Leandro Menezes lembrou que Weliton da Silva Dias tinha passagens pela polícia e que o local onde ele foi morto tem movimentação de tráfico de drogas.

Aspas de citação

Faz parte do processo do policial militar que tudo acontece em fração de segundos. Nós, narrando e avaliando o fato à distância, entre nós, não estamos no local de tráfico de drogas, nós não estamos lidando com uma pessoa que tem uma arma apontada na nossa direção, não estamos lidando com alguém que já tem ligação com o crime. Então, aqui não nos cabe agora fazer as análises. O policial tem fração de segundo para decidir

Leandro Menezes
Tenente-coronel, comandante do 1º Batalhão da PM
Aspas de citação

Como mostra um vídeo do crime, Weliton Dias estava com as mãos para o alto quando foi atingido pelos disparos de arma de fogo. No entanto, o comandante informou que há um outro vídeo, "em melhor ângulo", que poderia trazer maior entendimento do que ocorreu. Leandro Menezes disse ainda que o vídeo que está "nas redes sociais" sofreu um "corte".

"O vídeo que chegou por redes sociais tem edição, tem corte. Ele só mostra o cidadão de costas. Em outro vídeo, conseguimos enxergar a bandoleira onde a arma é normalmente amarrada. A narrativa é que o cidadão se encontrava com a arma, por isso a abordagem. Todos os vídeos são objetos de investigação", disse.

Após os disparos, o jovem chegou a ser socorrido para o Pronto Atendimento (PA) de São Pedro. Familiares relataram à reportagem terem sido impedidos de entrar no local e ameaçados por policiais, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde de Weliton.

Segundo a família, o jovem não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas chegou a ficar preso em 2019. "Ficou nove meses injustamente atrás das grades. Os policiais nunca apareciam nas audiências e o processo acabou arquivado", garantiu a companheira.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou que ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes estão: porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de entorpecentes.

BARBEIRO TAMBÉM FOI BALEADO

Pouco depois que Weliton foi baleado, um barbeiro de 23 anos também acabou ferido com um tiro no pé, que teria sido dado por um policial militar. Com a ajuda de pessoas que estavam no local, ele conseguiu ir até o PA de São Pedro. Apesar do susto, ele já recebeu alta e está bem.

Em entrevista à TV Gazeta, ele contou que tentou se aproximar do local em que Weliton foi ferido e que o policial tentou dar uma coronhada nele. "Eu tirei a mão dele, perguntei se ele estava doido e ele me deu um tiro. Ele mirou, foi na minha frente", afirmou.

O QUE DIZ O BOLETIM DE OCORRÊNCIA

Conforme descrito no boletim de ocorrência, a guarnição da Polícia Militar estava em um patrulhamento na Rua Apóstolo São Paulo, um "local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida", quando um indivíduo foi avistado portando "armamento em bandoleira" — espécie de correia que serve para transportar a arma no ombro ou a tiracolo.

Naquele momento, o suspeito teria ido em direção a um beco. No acompanhamento, um dos policiais, identificado como Sandro Frigini, "visualizou o indivíduo fazendo movimento que levava a crer que atiraria contra o militar" e visando a se proteger, efetuou dois disparos.

No vídeo, o Weliton não parece oferecer qualquer tipo de resistência e está com as mãos levantadas, atrás da cabeça, quando recebe os dois tiros, ambos na região do peitoral. "Como o indivíduo caiu no chão, foi possível se aproximar do agressor de modo a recolher o armamento que estava em posse dele." Nessa hora, o boletim de ocorrência diz que o policial "percebeu que a arma estava em bandoleira, sendo necessário cortá-la para retirar a arma do infrator".

O registro traz dois momentos em que o militar teria percebido que o suspeito estava armado e usando uma bandoleira: uma no início da abordagem e outra após dos disparos. O socorro ao Weliton Dias da Silva também teria sido prestado por um "grupo de pessoas", levando-o ao Pronto Atendimento de São Pedro.

Sobre o barbeiro, consta no boletim que, depois do disparo nele, o grupo de criminosos teria se dispersado. "Na região, é comum que grupos de pessoas ligadas ao tráfico de entorpecentes interfiram na ação policial, exatamente o que aconteceu na data de hoje (sábado), o que impossibilitou o socorro dos infratores por parte da Polícia Militar."

POLICIAIS AFASTADOS E INQUÉRITO INSTAURADO

O secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Márcio Celante, afirmou que os policiais envolvidos na ocorrência foram preventivamente afastados das operações nas ruas e as armas usadas por eles, recolhidas. Um inquérito policial militar também foi instaurado e tem prazo de 60 dias para ser concluído.

Em entrevista à TV Gazeta na manhã desta segunda-feira (4), o secretário também adiantou que o cabo Sandro Frigini e o soldado Victor Fagundes de Oliveira seriam ouvidos durante a tarde, com o objetivo de obter mais detalhes sobre o que aconteceu e esclarecer dúvidas iniciais.

ASSOCIAÇÃO PRESTA APOIO A POLICIAIS

Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".

A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".

Errata Atualização
5 de abril de 2022 às 09:02

A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.

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