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Jovem é morto a tiros por PM na Grande São Pedro, em Vitória

Jovem é morto a tiros por PM na Grande São Pedro, em Vitória

Weliton da Silva Dias, de 24 anos, não resistiu aos dois disparos e morreu no PA de São Pedro, na Capital. Caso ocorreu na noite deste sábado (2)

Publicado em 3 de abril de 2022 às 12:28- Atualizado há 2 anos

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Weliton Silva Dias, de 24 anos, foi morto durante ação policial no bairro São José, em Vitória
Weliton Silva Dias, de 24 anos, foi morto durante ação policial no bairro São José, em Vitória. (Acervo da família)

Um jovem de 24 anos foi morto a tiros por um policial militar na noite deste sábado (2), no bairro São José, na região da Grande São Pedro, em Vitória. Em um vídeo recebido por A Gazeta, Weliton da Silva Dias aparece com as mãos levantadas antes de ser atingido pelo agente da Polícia Militar.

O caso aconteceu por volta das 19h30, na Rua Quatro de Janeiro, popularmente conhecida como Beco da Sorte. Em forma de protesto, moradores da região chegaram a atear fogo em um ônibus do Sistema Transcol. Neste domingo (3), a família ainda estava muito abalada e revoltada.

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Quando ele entrou no beco, o policial foi atrás. Não sei o que o militar pensou, mas quando o meu irmão o viu, levantou a camisa e as mãos. O policial atirou no menino à toa

X.
Irmão da vítima (pediu para não ser identificado)
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Conforme consta no boletim de ocorrência, os policiais envolvidos nessa ação foram identificados como cabo Sandro Frigini – que teria atirado no Weliton – e o soldado Victor Fagundes de Oliveira. 

Depois de ser atingido pelos disparos, Weliton chegou a ser socorrido para o Pronto-Atendimento (PA) de São Pedro. Os familiares dele reclamaram de ter sido impedidos de entrar no local e ameaçados pelos policias, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde do jovem.

Ainda de acordo com os parentes, o rapaz trabalhava como ajudante de pedreiro e levou dois tiros: um no peito e outro no abdômen. Weliton não resistiu aos ferimentos e morreu e foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. O corpo do jovem estava sendo liberado na manhã deste domingo (3).

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Quando a pessoa vira policial, faz um voto para proteger a população. Não está dando para confiar mais na polícia, porque ela está tirando a vida de alguém que estava com os braços para cima

X.
Irmão da vítima
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Companheira de Weliton há nove anos, uma manicure que preferiu não ser identificada contou que existe um ponto comercial que vende bebidas no Beco da Sorte e que ele estaria no local, aguardando a saída dela do trabalho, para irem jantar e ficar juntos do filho de seis anos de idade.

"Eu fiquei sabendo porque uma amiga minha me ligou, mas achei que não tivesse sido tão grave, que ele iria sobreviver. Estou simplesmente acabada, não tem como não ficar em uma situação dessa. Meu filho ainda não sabe. Os dois eram muito apegados, nem sei o que fazer", disse, chorando.

ENVOLVIMENTO COM CRIME?

De acordo com a família, Weliton da Silva Dias não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas chegou a ser preso no início de 2019. "Ficou nove meses injustamente atrás das grades. Os policiais nunca apareciam na audiência e o processo acabou arquivado", garantiu a companheira.

Demandada pela reportagem da TV Gazeta, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou que ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes mencionados estão porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de entorpecentes.

BARBEIRO TAMBÉM FOI BALEADO 

Pouco depois que Weliton foi baleado, um barbeiro de 23 anos também acabou ferido com um tiro no pé, que teria sido dado por um policial militar. Com a ajuda de pessoas que estavam no local, ele conseguiu ir até o PA de São Pedro. Apesar do susto, ele já recebeu alta e está bem.

Em entrevista à repórter Gabriela Martins, da TV Gazeta, o barbeiro – que pediu para não ser identificado – disse que o policial teria tentado dar uma coronhada, da qual ele escapou ao bater na mão do militar. Logo em seguida, ele levou o tiro. "Ele ainda mirou mais uma vez contra mim, mas as pessoas foram para cima dele e eu saí", contou.

SECRETÁRIO DIZ QUE PM VAI INSTAURAR INQUÉRITO

O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, coronel Márcio Celante Weolffel, falou sobre o ocorrido na noite deste sábado (2), em São José. O coronel confirma que duas pessoas foram vítimas de arma de fogo durante o atendimento de uma ocorrência pela Polícia Militar e que as duas foram socorridas ao hospital, sendo que uma das vítimas não resistiu aos ferimentos e a outra foi atendida e liberada. Ele também explica o que será feito a partir de agora para esclarecer os fatos.

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Nós determinamos ao comandante-geral da Polícia Militar a instauração do inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido na data de ontem, também o recolhimento das armas dos policiais militares para que faça parte das apurações e o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais, para que no prazo de 60 dias nós tenhamos a conclusão dessas investigações

Coronel Márcio Celante Weolffel
Secretário de Segurança Pública do Espírito Santo
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Confira o vídeo com a declaração na íntegra:

O QUE DIZEM PM E PC

A reportagem de A Gazeta questionou Polícia Militar sobre a conduta dos policiais e o que teria acontecido no bairro São José na noite deste sábado (3).  Assim que houver retorno, este texto será atualizado.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso seguirá sob investigação do Serviço de Investigações Especiais (SIE) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e detalhes da investigação não serão divulgados, por enquanto. Informou também que o corpo do jovem morto na noite de sábado foi encaminhado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, para ser necropsiado e, posteriormente, liberado para os familiares.

 ÔNIBUS INCENDIADO

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) informou que a empresa responsável está apurando o caso. "Segundo informações preliminares, o ônibus tinha acabado de sair da garagem, por volta das 20h, quando foi abordado pelos suspeitos. Dentro dele, havia apenas o motorista. Os suspeitos ordenaram que ele descesse e atearam fogo".

O GVBus também afirmou que 18 ônibus foram incendiados por iniciativa criminosa entre os anos de 2020 e 2022. "Os prejuízos giram em torno de R$ 400 mil por veículo incendiado, em média, e recaem sobre o sistema, sendo arcados pela empresa proprietária", detalhou o sindicato, reforçando o transtorno causado por esse tipo de crime na Região Metropolitana.

ASSOCIAÇÃO PRESTA APOIO A POLICIAIS

Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".

A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".

Errata Atualização
4 de abril de 2022 às 12:33

Após a publicação, a reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência e aos nomes dos policiais. O GVBus também enviou nota. O texto foi atualizado.

Errata Atualização
4 de abril de 2022 às 12:20

O GVBus enviou nota sobre o ônibus incendiado em Vitória no último sábado (2). O texto foi atualizado.

Errata Atualização
5 de abril de 2022 às 09:03

A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.

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