Publicado em 21 de outubro de 2019 às 20:26
Uma jovem capixaba de 25 anos é uma das ex-internas que acusam o grupo católico conservador Arautos do Evangelho por tortura, estupro e humilhação. As denúncias são apuradas pelo Ministério Público de São Paulo. >
Segundo reportagem do Fantástico, os Arautos do Evangelho construíram castelos e colégios, onde jovens vivem em sistema de internato. O grupo enfrenta uma série de denúncias feitas por 40 pessoas no Ministério Público de Caieiras, em São Paulo, onde ficam os castelos do grupo.>
A jovem capixaba também apresentou denúncia ao Ministério Público. Ela estudou no internato construído no meio da Serra da Cantareira, dos 12 anos até encerrar o Ensino Médio, aos 18.>
Assim como mais de 20 pessoas ouvidas pelo Fantástico, ela relata uma rotina de alienação, sem contato com o mundo exterior.>
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As aulas de ciências eram precárias, não tínhamos conteúdos como reprodução, órgãos íntimos, menstruação. Nossos livros eram rasurados, a gente não podia ver o corpo nu. As aulas de história algumas vezes eram manipuladas. As notícias que chegavam até nós eram apenas as que eles queriam que a gente soubesse, normalmente catástrofe, alguma que acontecia no mundo e que parecia que era uma aviso de Deus.>
Segundo ela, o contato com a família também era desestimulado. Você não pode ter apego à sua família. No meu caso, falaram que eu demonstrava muito afeto com relação à minha mãe, que eu passava muito tempo com ela no telefone conversando.>
O Arautos do Evangelho foi fundado em 1999 pelo monsenhor João Clá Dias, que é idolatrado pelo grupo. ''O João Clá é uma santidade lá dentro. Ter algo dele é ter uma relíquia de um santo vivo. Muita gente tinha fio de cabelo, unha, até sangue. Absolutamente, tudo o que ele diz é lei, contou.>
A jovem conta que João Clá era também a única pessoa autorizada a ter contato físico com as meninas do internato. Outras ex-internas denunciam abuso sexual e estupros. A jovem capixaba não chegou a passar por isso, mas contou que receber um beijo no rosto, de João Clá, era como receber uma graça.>
É um segredo muito sigiloso. É chamada de graça dos três pontos. É algo que não se comenta, algo extraordinário. Lá dentro, você não acha que é ruim, porque ele é tido como santo na Terra. Quando se sai, na medida que você vai conversando, você vai se dando conta que é um abuso.>
Ela se diz aliviada por ter saído do Arautos, mas conta que teve muita dificuldade para se adaptar novamente à rotina.>
Minha família ficava muito assustada, porque eu não queria me adaptar ao mundo de novo, porque eu tinha medo de ir para o inferno. Eu não me encaixava mais.>
Ela teve dificuldades para voltar a estudar, a trabalhar, mas se sente vitoriosa por ter conseguido lutar contra todos esses traumas e a alienação que sofreu. É um alívio ter passado por tudo isso e ter sobrevivido. E estou feliz por não estar mais lá, por eles não terem mais esse influência sobre mim, disse.>
Ao Fantástico, três representantes dos grupo religioso negaram as denúncias. "Essa investigação vai seguir o seu curso e quando for concluída a investigação, aí sim cada um vai saber o que fazer. Tem até direito de recorrer à Justiça como denunciação caluniosa, afirmou o padre Alex Barbosa de Brito, sacerdote dos Arautos.>
*Por Esther Radaelli e Gabriela Ribeti, G1 ES e TV Gazeta>
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