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Em 6 meses, 21 pessoas foram mortas por policiais no ES

Em 6 meses, 21 pessoas foram mortas por policiais no ES

Os dados são do Anuário de Segurança Pública e evidenciam que a maioria das mortes é de jovens entre 15 e 29 anos

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 19:59

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Chesley de Oliveira Trabach, de 20 anos, foi morto com três tiros. (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Vinte e uma pessoas foram mortas em confrontos com a Polícia Militar no primeiro semestre de 2019, no Espírito Santo, segundo o Anuário de Segurança Pública. A maioria é de jovens de 15 a 29 anos. Os números do ano ainda não estão fechados, mas em 2018 foram 46 mortos pela PM.

Entra nessa estatística a morte do jovem Chesley de Oliveira Trabach, de 20 anos, atingido por três tiros durante uma abordagem da PM em maio, em Cariacica.

Na época, a polícia disse que o rapaz teria furado um bloqueio e atirado contra os militares. A família contesta. Testemunhas ficaram indignadas com o tratamento da polícia, que jogou o corpo de Chesley atrás da viatura. A Corregedoria da corporação instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar a ação, mas o resultado ainda não foi divulgado.

No dia 23 de novembro deste ano, outro caso: o ajudante de pedreiro Carlos Eduardo Costa Domingos, de 19 anos, foi morto com quatro tiros em uma abordagem da PM, na Serra. Ele estava indo assistir ao jogo do Flamengo na casa da mãe.

A mãe do jovem, Aline de Oliveira Costa, contou que testemunhas disseram que os PMs comemoraram a morte do filho dela.

"Ele já estava rendido. Foi a própria população que me falou, que meu filho ainda saiu do carro, levantou a mão na cabeça, e mesmo assim foi alvejado na cabeça com um tiro à queima roupa. Agora, como que eu fico? Como que a família fica?", disse.

Carlos Eduardo Costa Domingos, de 19 anos, foi morto com quatro tiros em uma abordagem da PM, na Serra . (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

O carro que Carlos dirigia era da mãe dele e foi apreendido. No laudo da Polícia Civil consta que não foram encontradas cápsulas de arma de fogo nem dentro e nem do lado de fora do veículo, e que o local da morte não foi preservado pela PM.

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Eu não aceito, eu não aceito o que fizeram com ele. Eu não aceito que jovens continuem sendo vítimas de militares dessa maneira. Eu não durmo mais porque eu não consigo tirar meu filho da cabeça. Eu quero justiça. Eu não quero brigas, quero paz, mas, ao mesmo tempo, quero justiça pela vida do Carlos Eduardo. Eu não tenho medo, meu filho não pode ser mais um, não pode ser mais um nessa covardia, defendeu.

Aline de Oliveira Costa
Mãe de Carlos Eduardo
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CASO GABRIEL

Gabriel foi morto por policiais militares durante um ação em Andorinhas, Vitória. (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)

A morte do jovem Gabriel Ferreira, de 21 anos, foi a última que aconteceu em decorrência da intervenção de policiais, no sábado (14). De acordo com a ocorrência, houve a abordagem de um jovem armado em uma viela no bairro Andorinhas, em Vitória, que teria reagido e então foi baleado.

A família não concorda com a versão. O inquérito que investiga a morte já foi instaurado.

"Renderam ele, e ele simplesmente levantou as mãos e se abaixou porque não estava com nada, mas os policiais simplesmente foram pra cima dele e atiraram. A nossa dúvida é: por que fizeram isso?", questionou a irmã Amanda Ferreira.

O corregedor adjunto da PM, tenente-coronel Pires, confirma que o jovem foi atingido por mais de um disparo e diz que os primeiros levantamentos do caso já começaram.

"A própria guarnição relata que efetuou mais de um disparo. Como a investigação ainda está iniciando, precisaremos ainda de alguns laudos, que vão depender da medicina legal, para verificar como foram esses disparos", disse o corregedor.

A morte do jovem chamou a atenção do governador Renato Casagrande, que determinou uma apuração rigorosa do caso. O corregedor disse que policiais envolvidos na abordagem de Gabriel são investigados em outros crimes, mas que eles poderiam continuar trabalhando normalmente.

"Alguns dos policiais que estão nesta ocorrência realmente têm investigações de outros fatos, de outras situações. Em princípio, não há motivação para afastamento", disse.

'O ESTADO BUSCA, ÀS VES, CULPABILIZAR A VÍTIMA'

Para o coordenador do instituto Palmarino, Lula Rocha, muitas destas mortes poderiam ter sido evitadas.

"Várias coisas poderiam ser feitas, desde políticas de prevenção à violência quanto até mesmo essa lógica do confronto que a gente percebe aumentando no Espírito Santo, que acaba colocando comunidades, civis e os próprios militares em risco", disse.

Ele acredita que as investigações precisam de mais rigor e independência.

"O Estado busca, às vezes, culpabilizar a vítima, querer justificar aquela morte, e não busca dar informações concretas sobre a apuração e de como vai fazer para elucidar. Então o que a gente espera desses casos é a celeridade e a responsável apuração dos casos", disse.

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Fonte: G1 ES | TV Gazeta

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