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Dupla presa por crime de financiamento no ES criou manual para prejudicar clientes

Dupla presa por crime de financiamento no ES criou manual para prejudicar clientes

Na introdução do documento, nomeado como Manual do Cliente Explosivo", é feita a indicação de que o foco era manter as pessoas caladas e a pagar as parcelas

Mikaella Mozer

Repórter / [email protected]

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 19:38

Dupla suspeita de aplicar golpe do falso financiamento criou documento para lidar com vítimas
Dupla suspeita de aplicar golpe do falso financiamento criou documento para lidar com vítimas Crédito: Divulgação | Procon

O proprietário e gerente, de 25 e 26 anos, da empresa Ômega Investimento, suspeita de arrecadar R$ 150 mil ao aplicar golpe do financiamento falso em pelo menos 60 pessoas no Espírito Santo, criaram uma cartilha para enganar os clientes após a compra de carros e motos. Segundo a Polícia Civil, o documento se chama “Manual do Cliente Explosivo” e era usado para instruir funcionários a como lidar com o comprador que descobria ter caído em um golpe. Os dois foram presos

As informações foram divulgadas pela corporação em atendimento à imprensa nesta segunda-feira (29), realizada em parceria com o Procon. O diretor de fiscalização do órgão estadual, Fabrício Pangotto, detalhou que havia um passo a passo de como lidar com as cobranças das vítimas.

Já na introdução é possível notar o tom de intimidação indicado pelos suspeitos para lidar com a clientela. Uma das principais dicas é manter a pessoa calada: “Portanto, vamos encarar essa jornada com a determinação de fazer com que o pós-venda fique no seu devido lugar, em silêncio, pagando o que deve, e sem nos encher de reclamações. Prontos para descobrir como? Vamos nessa", cita a cartilha.

"Nos chamou atenção que para prejudicar o cliente, de forma bem estratégica, criaram manual para violar o direito do consumidor. Sabendo que (os clientes) iam reclamar ao perceber que foram enganados, eles escreveram esse manual. Esse é o tamanho do desrespeito. Alguns dos capítulos tinham como título: 'Como lidar com isso?', 'Cliente vai ficar nervoso'", explicou Pangotto.

Tanto o dono quanto o gerente foram presos na última quinta-feira (25) e o local onde funcionava a empresa foi fechado. Um dos envolvidos já havia sido preso por suposto envolvimento em golpe do consórcio. Após ficar no sistema prisional, passou a responder em liberdade, momento em que passou a cometer o novo golpe, segundo o titular da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), delegado Eduardo Passamani.

 A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), realizou, na última quinta-feira (25), uma operação conjunta com o Instituto Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-ES), visando combater a propaganda enganosa e golpes na venda de financiamentos.

“Faziam parte de uma organização que tinha sido alvo na operação consórcio fake. Eles nem podiam funcionar como consórcio. Um estava preso e outro solto. Quando o preso saiu eles se juntaram de novo”, contou o delegado.

“Nova modalidade”

Conforme o delegado, um dos suspeitos explicou que o que faziam não era um novo modelo de negócio chamado fila de aquisição. Porém, de acordo com o delegado, a ação era uma mistura de consórcio com pirâmide.

“Eles diziam que pegavam o dinheiro para aplicar e quando tivessem retorno financeiro eles comprariam o veículo para entregar a pessoa. Não existia sorteio e nem ordem de compradores. Não constatamos nada disso. No final das contas quem entrava por último não receberia o bem e essa modalidade o Procon constatou que não existia”, frisou o chefe da Decon.

Valores baixos

Para conseguir atrair os clientes, a dupla publicava proposta de financiamento em marketplaces. Os automóveis custavam em torno de R$ 20 mil com valor de entrada variando entre R$ 2 a R$ 3,5 mil.

 Polícia interdita empresa em Vitória suspeita de aplicar golpe do financiamento
Polícia interdita empresa em Vitória suspeita de aplicar golpe do financiamento Crédito: Divulgação | Polícia Civil

O crime foi descoberto após denúncias de várias vítimas e toda a ação dos suspeitos teria ocorrido em um mês. O estabelecimento, que ficava na Avenida Leitão da Silva, na altura do bairro Gurigica, na Capital, foi fechado após a operação policial no dia 25 de setembro.

Conforme o representante Procon-ES, o foco era chamar a atenção de pessoas com rendas mais baixas. “É algo muito triste de famílias simples com capacidade de pagamento reduzida que sonham com um bem. Isso pode prejudicar a família a vida inteira, socialmente e financeiramente”, analisou. 

O titular da Decon explicou que, a princípio, o caso foi tipificado como crime de relação de consumo, com pena de 2 a 5 anos. Agora a polícia busca descobrir se existem outras pessoas envolvidas. O Procon também continuará com análise da documentação.

"Tinha técnica para ludibriar o cliente e escondiam várias cláusulas. Eram técnicas coercitivas para fazer a venda sem que cliente recebesse o produto. Vamos iniciar processo administrativo e pode chegar a multa de um milhão", explicou Pangotto. 

A reportagem tenta encontrar a defesa da empresa. O espaço segue aberto para um posicionamento.

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