Publicado em 7 de agosto de 2018 às 22:48
A Secretaria de Saúde dos municípios de Barra de São Francisco e Vila Pavão já somam 80 casos de malária, segundo boletim publicado na noite desta terça-feira (7). São 62 notificações em Vila Pavão e 18 em Barra de São Francisco.
Para evitar uma maior propagação do protozoário causador da malária, o prefeito de Vila Pavão, Irineu Wutke, proibiu festas e outras aglomerações e pessoas na cidade. Uma das maiores festas do local, a Pomitafro, aconteceria neste fim de semana, mas teve que ser adiada.
EM UMA SEMANA, MAIS CASOS DO QUE EM 2017
O número de casos de malária registrados em uma semana na região Noroeste do Estado já ultrapassa as notificações de todo o Espírito Santo em 2017. Segundo o Ministério da Saúde, em 2017 foram registrados 49 casos de malária no Estado.
O surto de malária atual é causado por um protozoário do tipo falciparum, de origem amazônica e mais agressivo que o tipo vivax, encontrado normalmente na região Serrana do Estado, principalmente em Domingos Martins e Santa Teresa. Os casos de infecção por falciparum só eram encontrados no Estado em pessoas que viajaram para áreas onde ele é mais comum.
Alguém doente que veio dessa região foi picado e disseminou aos demais, explica o infectologista Aloísio Falqueto, especialista em doenças transmitidas por mosquitos. Médicos e Governo concordam que essa foi, provavelmente, a maneira que o protozoário foi introduzido no Noroeste.
Falqueto explica que a disseminação da malária é, em geral, muito rápida. Como muita gente foi diagnosticado inicialmente com outras doenças como a dengue, o surto tomou proporções maiores. A malária é explosiva, quando começa tem que ter ação muito rápida.
Para o especialista em malária da Sesa, o médico Adenilton Cruzeiro, os casos tem aumentado rapidamente por conta do esforço feito para identificar os doentes. Não significa que o mosquito continua picando. Pode ser que tenha sido picado antes, mas a pessoa não tenha sido diagnosticada, diz.
Ele espera, inclusive, que as notificações cresçam nos próximos dias. Isso por causa do esforço do diagnóstico. Mas acredito que em 10 dias esteja estabilizado, afirma.
SEGUNDA ONDA
Outro fator que preocupa a força-tarefa que atua nos municípios afetados é um efeito retardado, que pode acontecer no caso de alguns doentes. Cruzeiro explica que, depois de inserido no corpo da pessoa através da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles, o protozoário se aloja no fígado, se multiplicando. Até esse momento, não há sintomas, e nem como fazer diagnóstico.
Após se multiplicar, os parasitas vão para corrente sanguínea, dando início aos sintomas característicos geralmente calafrios, febre alta e intermitente, vômito e suor. No entanto, parte dos protozoários continua no fígado, em estado de latência. Eles são responsáveis pela recaída da doença que pode acontecer em até seis meses depois de a pessoa ter sido medicada. No próximo ciclo, poderemos ter malária novamente nesses mesmos pacientes, diz.
RESERVATÓRIOS E CHUVAS AJUDAM MOSQUITOS
A escalada no número de casos de malária foi provocada, entre outros fatores, pelo grande número de mosquitos do gênero Anopheles presentes na região Noroeste do Estado. O boom dos insetos ocorreu pois houve um aumento de criadouros potenciais nos últimos anos na região.
Enquanto os criadouros da dengue são pequenos reservatórios em área urbana, os do Anopheles são os lagos, represas e tanques. Depois da crise hídrica aumentou a quantidade de reservatórios e criou mais criadouros potenciais do mosquito. Aonde há reservatório desse tipo, pode ter surto, explica o agente do Ministério da Saúde, Altemar Rodrigues Marques.
Altemar participou do grupo que estudou e combateu um surto de malária que ocorreu em 2004, em Governador Lindenberg (veja mais detalhes na matéria ao lado).
A chuva abundante deste ano também contribuiu para manter os reservatórios cheios. Tivemos um ano de chuvas muito abundantes e isso facilita o enchimento das represas. Mais água significa mais mosquitos, afirmou o médico infectologista Aloísio Falqueto.
Ele explica que existem 22 tipos de mosquitos do gênero Anopheles no Estado, mas só dois deles transmitem a malária. O mosquito vive entre 30 e 40 dias e, uma vez infectado, ele fica infectado até o fim da vida, infectando também quem ele picar, avalia o médico.
Ele acredita que, no caso de surtos, é necessário, além de tratar os doentes, utilizar inseticidas nas áreas abertas para matar os mosquitos.
REGIÃO TEVE OUTRO SURTO HÁ 14 ANOS
Em 2004, um surto de malária, provocado pelo protozoário falciparum, acometeu na cidade de Governador Lindenberg, também na região Noroeste do Estado. 37 pessoas foram diagnosticadas e uma morreu. O primeiro caso notificado foi de uma criança, que veio para Vitória para tratar de uma suposta leucemia. No entanto, após investigação, descobriu-se que se tratava de infecção por malária. Ao avaliar o pai e a mãe do menino, que estava grávida, ambos testaram positivo para a doença.
Os demais casos de malária foram em um raio de 5 km na zona rural do município, perto de onde a família morava. Segundo relatório feito à época pelos governos estadual e federal, o parasita foi provavelmente introduzido quando uma família voltou do Norte do Brasil após as festas de fim de ano.
Os primeiros sintomas apareceram no fim de janeiro daquele ano. Mas o auge do registro de casos ocorreu em março. O número caiu após duas semanas de trabalho de contenção do surto.
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